Um laboratório de Santa Catarina está entre os escolhidos para estudar a fosfoetanolamina sintética, apontada por pesquisadores como tratamento alternativo para o câncer. A análise laboratorial será feita no Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), em Florianópolis, a partir deste mês. Além dos trabalhos na Capital, outros dois locais no país também vão desenvolver um estudo de checagem da eficácia e segurança da substância: o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (LassBio) ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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Os laboratórios de Santa Catarina e do Ceará foram escolhidos porque já fazem parte de uma rede de Centros de Farmacologia Pré-Clínica que recebe apoio do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e farão os ensaios pré-clínicos e testes clínicos da fase 1 do protocolo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que depois tem ainda três etapas de testes em humanos.

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As pesquisas serão financiadas pelo ministério, que destinou cerca de R$ 2 milhões aos três laboratórios para conduzir os experimentos por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A previsão é de que em sete meses esta etapa seja concluída e, se os resultados forem satisfatórios, serão iniciados os ensaios clínicos da fase 1. Em 2016 e 2017 a previsão é investir mais R$ 8 milhões, conforme o andamento da pesquisa.

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A intenção do MCTI é permitir que a sociedade acompanhe e fiscalize as fases do estudo. Para isso, o ministro Celso Pansera informou que está em desenvolvimento um site onde serão disponibilizados todos os resultados dos testes.

Para a Anvisa e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, não é recomendável que pacientes façam uso de uma substância que ainda não foi testada em humanos, já que ela não tem malefícios e benefícios comprovados. Em contrapartida, o advogado Rubens Garcia, que já auxiliou dezenas de pacientes de Blumenau e região a conseguirem a fosfoetanolamina na Justiça, acredita que a solução imediata é suprir a demanda de pessoas que já iniciaram o tratamento com a droga:

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– Os pacientes não estão mais recebendo a fosfoetanolamina da USP, mesmo com a liminar. A decisão de parar de atender à população foi mais política do que jurídica. Não há critério para deixar de fornecer as cápsulas, principalmente para quem começou o tratamento e está aguardando novas remessas.

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Os estudos não-clínicos serão executados pelo Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), em Florianópolis. Nessa etapa, os pesquisadores vão avaliar em roedores (ratos e camundongos) qual a melhor maneira para usar a substância: em comprimido, cápsula ou via intravenosa. De acordo com o presidente do centro, Dr. João B. Calixto, o projeto vai durar dois anos.

A fosfoetanolamina é sintetizada e distribuída gratuitamente pelo Instituto de Química de São Carlos (IQSC), que faz parte da Universidade de São Paulo, a pacientes com câncer que receberam liminares do Supremo Tribunal de Justiça para continuar o tratamento que já tinham iniciado. O instituto vai fornecer 500 gramas de fosfoetanolamina sintética para que os laboratórios comprovem cientificamente que a substância pode ser uma alternativa para o tratamento de câncer.

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O laboratório catarinense vai receber uma quantidade da substância do instituto paulista e outra sintetizada pelo doutor em Química Médica Eliezer Barreiros na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O projeto será feito por 12 doutores, dois mestres e três técnicos do laboratório catarinense.

– Vamos testar a fosfoetanolamina que está sendo usada pela população utilizando a mesma rota de síntese (12 meses). Ao final de um ano, se tudo ocorrer bem, serão iniciados os estudos clínicos (fase 1 do protocolo da Anvisa) no Núcleo de Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará (UFC) para testar a segurança da fosfoetanolamina em humanos – explica Calixto.

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Os testes pré-clínicos que serão feitos em Florianópolis são a primeira etapa do protocolo da Anvisa para uma substância se tornar um medicamento. Depois há outras três feitas em humanos para testar a eficácia e segurança da substância. As análises serão divididas em três projetos feitos pelos laboratórios e os resultados serão compartilhados entre as instituições.

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