Nos braços da torcida após um acesso improvável em 2016, Claudinei Oliveira prepara o Avaí para mais um ano de muitos desafios. O maior deles é não repetir o que aconteceu em 2015, quando o clube caiu para a segunda divisão logo depois de subir. A receita para permanecer na Série A já é conhecida: muita entrega, empenho e organização dentro de campo. Para isso, Claudinei considera essencial ter mais uma vez o torcedor ao lado.
Continua depois da publicidade
— Grande parte do sucesso do ano passado se deve a esse apoio. Em muitos momentos, o torcedor entendeu a dificuldade da equipe e continuou incentivando — diz.
Em meia hora de conversa na Ressacada, o técnico ainda falou sobre o elenco e a expectativa para as demais competições que o Avaí enfrenta em 2017. Leia abaixo a íntegra.
Claudinei Oliveira fala sobre seu perfil de trabalho
Continua depois da publicidade
O que a gente pode prometer que vai entregar para o torcedor é aquilo que a gente entregou em 2016: uma equipe organizada, que briga por todas as bolas e para conquistar o maior número de pontos possível. A gente tem que continuar com o mesmo empenho, a mesma dedicação, a mesma organização, a mesma intensidade e a mesma competitividade. Por outro lado, pedir que o torcedor tenha o mesmo comportamento, a mesma parceria com o time que teve. Grande parte do sucesso se deve a isso. Em muitos momentos, o torcedor entendeu a dificuldade da equipe e continuou incentivando. Precisamos fazer isso e, claro, buscar melhora em aspectos táticos para melhorar ainda a equipe e manter aquilo que nos levou ao acesso.
O Avaí não conquista o estadual desde 2012. O Catarinense vai ser prioridade nesse primeiro semestre?
Em primeiro lugar, eu não ganhei nenhum Catarinense porque eu não disputei nenhum também. Acho que a gente não tem que botar para os jogadores, muitos que estão chegando agora, essa responsabilidade de “não ganha faz tantos anos”. Quem está chegando vai ter a sua primeira chance de disputar o Estadual e ganhar pelo Avaí. Eles não têm que levar esse peso (do jejum). Não acho que o Estadual é prioridade. É interessante, o torcedor gosta da rivalidade regional, quer ganhar o Estadual e eu também quero. Só que se a gente resolver colocar o Estadual como prioridade, se a gente tivesse feito um monte de contratações e onerado a folha de pagamento, quando tivesse que fazer o ajuste para a Série A seria complicado. A gente tem que procurar fazer um bom Estadual, ganhar todos os jogos e se fizer isso a gente vai ser campeão. Mas não posso colocar isso como um objetivo do clube. Até porque seria um pouco injusto com os jogadores, que acabaram de conquistar um acesso que ninguém esperava, chegar para eles e dizer “agora é obrigação ganhar o Catarinense”. A obrigação é jogar com intensidade, brigar por todas as bolas, ser um time organizado e que faça com que o torcedor se sinta representado dentro de campo. Se com isso a gente conseguir fazer um bom Estadual e ganhar o título, ótimo. Se não ganhar o título mas fazer um bom Estadual, também vai ser bom para a gente uma avaliação e identificar o que precisar melhorar para o Brasileiro, também vai ser de boa valia.
Continua depois da publicidade
No ano passado, o time fazia uma campanha mediana na Série B até a sua chegada. O que mudou?
O time encaixou. A forma que a gente propôs de a equipe jogar foi bem assimilada. Eles entenderam bem, foram se adaptando e melhorando jogo a jogo. No começo, até pelo tempo, anida não estava perfeito, mas foi encaixando, Os jogadores foram acreditando naquilo que foi proposto, de uma equipe organizada, que às vezes vai sofrer um pouquinho, ficar sem a bola, que é o que todo mundo gosta. Como treinador, eu também gosto disso, de ficar com 60% ou 70% de posse de bola, mas teve jogo que a gente ganhou com 35%. Então, eles entenderam, os resultados apareceram e a confiança voltou. O torcedor também passou a confiar na equipe, o público foi crescendo. Isso mostra que os jogadores criaram essa identidade com a torcida. Acho que o acesso se deve muito menos a mim e muito mais ao empenho dos atletas, de quererem fazer acontecer. A gente mostrou um caminho que achava correto e eles acreditaram e se doaram ao máximo.
Você perdeu algumas peças importantes para esse ano, como Renan, Fábio Sanches, João Filipe, Renato e Willian. Os jogadores que chegam vão conseguir manter o nível?
Quem chega agora tem a responsabilidade de substituir um atleta que foi bem. O goleiro que vier para substituir o Renan vai chegar sabendo que no ano passado ele fez um campeonato muito acima da média. Para substituir o Fábio, a gente trouxe o Gustavo, que é um jogador experiente que já trabalhou comigo no Atlético Paranaense. Tem muita qualidade e experiência, mas o Fábio também fez um baita campeonato. A gente sabe que o torcedor fica com aquela imagem dos jogadores que foram muito bem e fazem falta no dia a dia. Cada jogador tem a sua peculiaridade, um jeito de conversar, suas brincadeiras e a gente sente falta. Mas no futebol a gente tem que tomar decisões. A gente lamenta, queria estar com todos, mas eles saíram em alguns casos por iniciativa deles e outros por opção do clube.
Continua depois da publicidade
Você ainda é considerado um treinador jovem no cenário nacional. O Avaí é mais um passo para a consolidação da sua carreira?
Em todos os lugares que eu passei, como jogador e depois que parei de jogar também, eu procurei fazer o melhor trabalho possível, sem projetar nada e vivendo o dia a dia. Foi assim que eu cheguei no Avaí, sem criar expectativa, sem prometer nada a não ser muito trabalho e dedicação. E foi o que a gente fez. Não faço projeções, não penso em usar o Avaí como trampolim. Meu objetivo é fazer um grande trabalho no Avaí,. Se eu ficar aqui dois, três ou quatro anos fazendo sucesso, isso é o sonho de qualquer treinador. Claro que é difícil, pela realidade do futebol brasileiro, mas é um sonho. Um dos motivos que me fez renovar foi esse: ter uma chance de fazer um trabalho um pouquinho mais longo e não ficar trocando de clube toda hora. Meu objetivo é o Avaí, continuar fazendo história aqui e me firmar como um treinador de Série A. Para isso, eu preciso começar a Série A no Avaí e virar o ano aqui e continuar assim para não ficar rotulado como um treinador de Série B.
No fim do ano passado, você voltou a contar com o Marquinhos, que já é praticamente uma instituição avaiana. Ele teve destaque no acesso. Qual vai ser o papel dele esse ano?
Continua depois da publicidade
O papel do Marquinhos aqui no Avaí já está consolidado, com a liderança positiva dele de vestiário e sendo ídolo da torcida. Tudo isso aliado à qualidade dentro de campo. Os números do Marquinhos mostram que ele foi fundamental. A gente teve a premiação do Brasileiro e o Dudu do Palmeiras fez 12 ou 13 assistências. O Marquinhos fez sete e não jogou nem meio campeonato. Fora os gols que ele fez. Os números falam por si só. Não tem essa de que ele vai jogar porque é ídolo. Ele joga porque merece, dentro de campo nos dá uma eficiência muito grande. Não precisa jogar todos os jogos. Vai ser como no ano passado; vai ter partidas em que você vai poupar o Marquinhos. Pega uma semana com três jogos e vamos guardá-lo para partidas em casa. Não que ele não ajude fora; ele ajuda. Mas para o torcedor ver o Marquinhos na Ressacada o astral é outro. Só tenho elogios, é um cara muito bom de trabalhar.
O Avaí tem um histórico de acessos e descensos nos últimos anos. O principal objetivo do ano é permanecer na Série A?
Eu acho. A obrigação do Avaí que eu vejo para esse ano é a permanência na Série A. Se você perguntar para qualquer torcedor do se ele prefere ser campeão catarinense e cair para a Série B ou se prefere não ser campeão catarinense e permanecer na Série A, acho que todos forem racionais vão preferir ficar na Série A, porque é o que muda a situação financeira do clube. A cota do Catarinense não muda em nada para o Avaí. Com a cota da Série A aumentando ano a ano, você vai conseguindo melhorar, ampliar o CT, aumentar o patrimônio e montar equipes cada vez melhores. Não quer dizer que eu não queira ser campeão catarinense; eu quero, quero muito ser campeão catarinense, só não posso colocar isso como prioridade para os meus atletas. Se a gente conseguir ganhar o Catarinense, a Primeira Liga, a Copa do Brasil, ótimo. Mas se a gente conseguir ganhar o Catarinense e cair para a Série B, não vai ter adiantado de nada. O ano é perdido. Assim como aconteceu como vários clubes, como o próprio Internacional. Pergunta para o torcedor se ele não preferiria perder o Grenal na final do Gaúcho e permanecer na Série A. No momento (do título), é uma alegria, mas se você não tiver planejamento para chegar bem no final do ano, você vai ter um prejuízo muito grande.
Continua depois da publicidade
O calendário brasileiro tem muitas datas e os jogadores viajam muito, se desgastando. Como isso influencia nas partes tática e técnica?
Nos últimos, o que tem se visto é que as equipes com um elenco maior e de qualidade, como o Cruzeiro de 2013-2014 e o Palmeiras de 2016, elas têm uma vantagem. O banco desses times jogava em qualquer equipe. Desse jeito, você vai rodando o elenco sem perder qualidade. O que a gente pode fazer no Avaí é ter um elenco bom, sem ser tão numeroso, mas que seja equilibrado, como todos os jogadores sabendo a forma de atuar. Aquele jogador que não vai fazer tanto a diferença na parte técnica, na parte tática ele pode ser muito importante para o jeito que a gente joga. Isso porque você não pode mudar muito. Você tem que ter uma forma definida, com algumas variações e mudar peças. Você pode mudar o esquema em função do adversário, mas não em função do desgaste. Nesse caso, um jogador que faz mais de uma função é importante.
Você citou o apoio do torcedor como fundamental. Nesse ano vai ser igual?
A gente tem uma receita que deu certo. A equipe se dedicou, era visível a entrega de todo mundo. Pode não ter sido o futebol mais brilhante da Série B, só que todo mundo batalhou por cada ponto. A gente valorizava cada empate, cada vitória como se fosse o último jogo e o torcedor veio junto. Houve jogos aqui em que a gente virou empatando, jogando mal e o torcedor aplaudiu. No segundo a equipe ia lá, fazia um a zero ou dois a zero e ganhava o jogo. Hoje, se a gente tiver a mesma entrega, as coisas não estiverem acontecendo e o torcedor virar as costas para o time, não vai acontecer igual. Vai ser diferente. Mas se o torcedor vier com a vontade de empurrar o time e não houver a mesma entrega, o torcedor também vai sentir. Vai pensar “esses não são os nossos caras”. Então a gente tem que procurar fazer as coisas da mesma maneira. Lógico que o sucesso do passado não garante o sucesso do futuro, mas você manter aquilo que foi feito e buscar coisas para melhorar, tudo isso vai ser bom para a equipe.
Continua depois da publicidade
É mais difícil subir ou se manter?
Subir. Para subir você tem um universo de 20 clubes e precisava ficar entre os quatro. Se ficar em quinto já não dá. E essa era uma grande preocupação nossa no ano passado, porque tínhamos um saldo de gol mais baixo e não tinha como mudar isso em três rodadas. Então a gente podia ficar fora por dois ou três gols. Na Série A é diferente, claro que os clubes são mais tops, mas você precisa permanecer entre os 12 ou 14 para ficar tranquilo. Você consegue negociar mais os resultados. Na Série B, quando a gente chegou, tinha que fazer uma campanha de 80% para subir e foi feito. Mas é difícil. Na elite, com 45 pontos você consegue se manter. Não é fácil, mas temos condição de manter o Avaí na Série A.
Leia mais:
No Brusque, Mauro Ovelha aposta em linhas altas
Cesar Paulista acredita na “tradição” do futebol no Metropolitano
Renê Marques se inspira em Tite e Cuca para comandar o Barroso
Mabília aposta no planejamento do Tubarão para ter sucesso
Indicado por Tite, Joel Cornelli quer o Inter de Lages “aplicado e criativo”
“A Chapecoense tem que pensar no título”, diz Vagner Mancini
Organização é o mantra de Deivid no comando do Criciúma
Técnico estreante, Fabinho arma o JEC para ter a posse de bola
Avaí focará partes tática e física na pré-temporada, diz Claudinei