É grande o desafio de Joel Cornelli à frente do Inter de Lages em 2017. Após boas campanhas tanto no Catarinense quando na Série D do ano passado, o clube da Serra inicia a temporada em busca da consolidação no cenário estadual. Foram anos de ostracismo nas décadas de 1990 e 2000 até que o torcedor finalmente pudesse voltar a exibir com orgulho a camisa do Leão Baio.

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Cornelli sabe da esperança que carrega nos ombros e que tudo pode se perder com um ano desastroso. Boas referências não faltam ao novo comandante. Antes de contratá-lo, o presidente do Inter ligou para o técnico Tite, da Seleção brasileira. Ouviu só coisas boas. Além de amigo, Tite também serve de inspiração para Cornelli, que busca aliar a aplicação tática europeia com a liberdade de criação brasileira.

A princípio, o vínculo vai até o fim do Estadual, com possibilidade de renovação para a Série D. A permanência — ele sabe — depende dos resultados. E é por isso que o treinador promete força máxima desde o primeiro jogo.

Joel Cornelli fala sobre o seu perfil à frente do Inter de Lages

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Como está a montagem do elenco?

Ainda vão chegar peças. Precisamos de algumas peças de reposição para alguns jogadores que saíram. Mas já temos alguns atletas que ficaram do ano passado, mais algumas contratações que foram feitas e estão suprindo essa ausência. A tendência é que tenhamos novos jogadores chegando, porque já temos uma certa quantidade de atletas, mas muitos são jovens. Então precisamos encorpar essa equipe com jogadores mais experientes para dar essa sustentação para os jovens também desempenharem bem.

Qual tem sido o seu foco durante essa pré-temporada?

Temos que trabalhar a parte física aliada, claro, às partes tática e técnica. Tanto que fizemos os exames laboratoriais e no segundo dia já colocamos bola, procurando desenvolver o modelo de jogo que nós queremos e vamos procurar impor em 2017. É um modelo baseado em posse de bola e em explorar as características dos nossos jogadores. Também vamos procurar equilibrar as partes ofensiva e defensiva. Mas não vamos esquecer que é preciso jogar: não é por sermos uma equipe menor que vamos abdicar do jogo. Também vamos agredir os adversários.

A diretoria do Inter falou que você foi contratado com o aval do Tite. Como é a sua relação com técnico da Seleção?

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Depois do primeiro contato comigo e com o avanço dos negociações, o Cris (Cristopher Nunes, presidente do clube) me pediu algumas indicações de alguns profissionais. E ele tinha visto, claro, no meu currículo que eu havia trabalhado sete anos com o Tite. Então, o Cris ligou e o Tite só referendou o que ele sabia de mim como profissional. Claro que isso te passa uma confiança. Uma referência positiva de um profissional gabaritado como o Tite é muito importante. A nossa relação pessoal continua a mesma. Trabalhamos juntos em vários clubes do futebol brasileiro e mantemos uma relação de amizade muito grande. Somos da mesma cidade (Caxias do Sul) , estivemos juntos agora no fim do ano, confraternizando, trocando ideias sobre futebol. Em determinado momento ele seguiu a carreira dele e eu segui a minha, tentando trabalhar de maneira pessoal, que é um passo normal da carreira de um treinador de futebol. Mas claro que é muito bom e saudável esse convívio permanente com o Tite.

Antes de chegar ao Inter, você já tinha referências do clube?

Ano passado, depois que terminou meu contrato com o Al Shabbab, eu assisti o jogo contra o Caxias pela Série D, aquele que o Inter venceu por 3 a 1. E já sabia do histórico de ressurgimento da equipe dentro do cenário catarinense, com a subida da segunda divisão e a boa campanha no Catarinense 2016. Pude ver que era uma equipe muita bem organizada, que galga espaços maiores e quase subiu para a Série C . Fiquei muito satisfeito porque a minha ideia era trabalhar no Brasil esse ano para ficar mais perto da minha família. Nos últimos três eu trabalhei fora, na China e nos Emirados Árabes. Quero permanecer e consolidar a minha carreira de treinador agora também no cenário nacional. Santa Catarina é um mercado que eu nunca tinha trabalhado. Foi muito interessante esse convite.

No último ano, o clube conviveu com atraso de salários. É uma realidade que pode incomodar nesse ano também?

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Incomoda em qualquer clube, seja pequeno, médio ou grande. Mas a promessa que nós temos da direção é que foram alguns problemas no segundo semestre (de 2016) que não vão se repetir. O Cris me falou que já sabe o que aconteceu, detectou o erro que houve na passagem do primeiro para o segundo semestre e me garantiu que essa questão salarial não vai interferir no rendimento dos jogadores nem na tranquilidade do trabalho. É um direito fundamental do trabalhador ser remunerado normalmente. E ele me disse que isso (atraso) não vai acontecer em 2017.

O Inter teve no Marcelinho Paraíba a sua maior referência nos últimos dois anos. Mesmo com 41 anos de idade, ele vai fazer falta?

É um modelo diferente. Com o Marcelinho, o time jogava muito em função dele. Agora vamos ter uma nova realidade. Claro que, individualmente, ele faz muita falta. Mas em termos coletivos, o time poderia perder porque ele não era um jogador tão participativo em algumas situações, como a marcação. Mas claro que é um jogador de altíssima qualidade e vamos ter que nos adaptar a um novo modelo, mais coletivo, em que não vamos ter um destaque individual que chama a atenção dos adversários. Temos que construir a nossa equipe em 2017 em cima de um modelo que todos os jogadores terão uma participação importantíssima. O desempenho coletivo vai ser ainda maior. Estou tentando convencer os atletas de que esse modelo coletivo vai fazer até com que os atletas apareçam mais individualmente.

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Existem um modelo de jogo ideal? Em quem você se inspira para fazer o seu time jogar?

Todo treinador tem um modelo ideal, que é uma equipe equilibrada, que possa ter uma boa posse de bola e agredir o adversário sem perder um espírito coletivo. Mas isso depende muito da realidade que você encontra nos clubes. Aqui no Inter, por exemplo, você tem alguns remanescentes do anterior, vou ter que ver as características de algumas contratações. A partir disso, você vai montar a equipe. Não posso querer montar um 3-6-1 ou um 3-52, como o Chelsea do Conti, que é uma referência hoje, se eu não tiver três bons jogadores de qualidade defensiva. É isso: tentar achar um modelo a partir das características dos jogadores que você tem. No geral, eu gosto muito da escola europeia, que tem aplicação tática, mas também gosto da escola brasileira. Não abro mão da qualidade, de jogadores que usem a sua qualidade de jogo individual para superar a marcação adversária. Tudo dentro de um funionamento tático que foi previamente acordado. Procuro mesclar essa linha europeia com a flexibilidade brasileira. Um modelo interessante é a atual Seleção Brasileira, até pela admiração que tenho pelo Tite, com muita aplicação tática e liberdade para um Neymar ou um Gabriel Jesus.

Quais são as suas primeiras impressões do clube e da cidade de Lages?

Muito boa. Tive uma recepção muito boa, com os torcedores comparecendo. Existe uma expectativa muito grande pelo que a gente pode fazer em 2017, até pelo que foi feito no ano passado. Há um apoio muito grande da comunidade. Vamos tentar não cometer os mesmos erros do ano passado e evoluir. Existe esse apoio, que é bom para suprir algumas carências de estrutura.

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