Exatos dois meses após ter sido deflagrada a Operação Trato Feito, que levou à prisão empresários e membros do primeiro escalão da prefeitura de Balneário Camboriú, o ex-secretário de Obras, Elton Garcia, falou pela primeira vez sobre o caso. Em entrevista exclusiva, afirmou inocência, comentou trechos de interceptações telefônicas que aparecem no inquérito movido pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e confirmou a intenção de voltar à Câmara de Vereadores em dezembro.
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Visivelmente nervoso, Elton relutou em falar sobre assuntos delicados como a suposta aceitação de propina e terminou às lágrimas quando falou das pretensões na vida pública.
De acordo com o relatório da investigação, os indícios que envolvem Elton incluiriam corrupção passiva e peculato. O inquérito, que na semana passada foi enviado ao Tribunal de Justiça do Estado por indício de participação do prefeito Edson Piriquito nos fatos apurados, não tem data para conclusão.
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A PRISÃO
Como o senhor está após sair da prisão?
Isso faz parte da vida, coisas boas e ruins. Passei por uma situação delicada, um procedimento em dúvida, mas hoje estou tranquilo.
Como foram os dias em que passou detido?
Foi a pior coisa da minha vida. Quando você deve, você teme. Mas quando não sabe nem por que está lá, o que está acontecendo, é ruim até falar. Quero esquecer. Foram 15 dias de terror, não pelo tratamento, mas pela dificuldade em estar ali sem saber por quê.
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A INVESTIGAÇÃO
Num telefonema interceptado pelo Gaeco, entre duas estagiárias, uma delas afirma que “vai dar umas 50 grelhas, e Elton quer que dê umas 200, só que nunca chega a isso, por mais que tu digite todas as ordens de serviço que te entregarem”. Registrava-se na Secretaria de Obras a instalação de mais grelhas do que se colocava?
Não é superfaturamento. Ela fala sobre a região Sul, e a gente falava sobre relatórios. Se foi um material para a secretaria, tem que ter no relatório o que foi, não pode ser menos. Como eles não tinham controle lá, não tinha computador na região Sul, tudo era feito por aqui. O entendimento da gente é diferente… quando eu falo em aumentar as grelhas, é aumentar a capacidade de vazão. Se tem 10, pede pra colocar 20 pra aumentar o escoamento de água. Essa parte foi mal interpretada.
O Gaeco afirma, no inquérito, que houve compra de material asfáltico em quantidade muito superior à necessária, e uma licitação dirigida para que a empresa PLM fosse a vencedora. O que o senhor tem a dizer a respeito?
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A secretaria não faz licitação, não faz compra e não faz pagamento. Executa obras. É feita uma ordem de serviço pra cada rua. Se a rua tem mil metros, tem que fechar. Por exemplo, 100 toneladas. No final da rua tem que dar exato.
Quem faz essa medição?
A responsabilidade é do engenheiro, mas a Secretaria de Obras não tem. Quando assumi a secretaria (em 2013), já foi com essa defasagem. Dois funcionários acompanhavam a obra.
Quem determina a quantidade de asfalto?
Depende do que você quer botar, a espessura. O pessoal fala em massa fina, massa grossa. Quando aplica camada em cima de outro asfalto, tem que ser massa fina. Quando não tem, é massa grossa. É entendimento de quem trabalha. A metragem tem uma pessoa responsável na secretaria.
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É difícil para as prefeituras gerir esse tipo de contrato?
Se tivesse um engenheiro acompanhando seria diferente. A Secretaria de Obras de Balneário Camboriú não tem uma pessoa técnica para dizer que aquilo está certo ou errado. Antes da nossa administração já funcionava assim. Se houve erros, eles já vêm do passado.
O senhor teria se encontrado periodicamente com um empresário que prestava serviço para o município durante as investigações e de acordo com o Gaeco, após um dos encontros o senhor ligou para diferentes pessoas para pagar contas e emprestar dinheiro. O senhor recebia propinas?
Esse mérito do processo eu vou deixar de lado, os advogados estão cuidando. Até agora só fui acusado. Só tenho a dizer que sou inocente e no final do processo tudo vai ser esclarecido.
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O senhor usou bens públicos em benefício próprio? O inquérito fala em trator usado em evento de arrancadas, caminhão para limpar fossa do seu edifício e um ônibus de um parente de um funcionário da Secretaria.
Não existe isso. A Emasa tem obrigação de dar assistência na limpeza de esgoto, tubulação. Tem bairros que ainda não têm coleta de esgoto. Nessas situações é obrigação da administração fazer a limpeza da fossa. Desvio de carro não tem.
Então a situação do ônibus e do trator você nega?
Do trator, (o arrancadão) fazia parte dos 50 anos do município. Existem ofícios pedindo que se fizesse uso da máquina para dar continuidade no evento. (E o ônibus?) A Associação de Moradores do bairro faz um ofício e a empresa cede, mas sem obrigação do secretário e da administração. Isso sempre foi feito. Nesse caso foi a Associação de Moradores do Bairro dos Municípios.
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POLÍTICA
O senhor vai reassumir sua vaga na Câmara? Vai tentar a presidência do Legislativo?
O Elton vai voltar pra Câmara para trabalhar pela sociedade. Dia 2 estou assumindo e vou concorrer à presidência porque o Elton não é diferente de nenhum dos vereadores. Foi eleito pelo povo como os outros, fui o segundo mais votado do PMDB.
Por que você não voltou no primeiro momento, logo que deixou a prisão?
Estava muito abalado, precisava cuidar da minha saúde.
E a relação com os vereadores? Houve um movimento para impedir sua volta…
Cada um tem sua opinião. Tem gente querendo se promover em cima, mas respeito porque cada um foi eleito pelo povo.
O senhor tinha mesmo planos de concorrer a vice-prefeito ao lado de Auri Pavoni?
É uma cogitação, isso quem decide é a sociedade. Daqui a seis meses, um ano, a inocência do Elton vai vir à tona.
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