O desaparecimento do menino Ícaro Alexandre Pereira, sete anos, completa 90 dias envolto em incertezas. Sem provas que apontem um responsável pelo paradeiro da criança, a Polícia Civil não conseguiu avançar na investigação e decidiu concluir o inquérito como inconclusivo. O relatório já foi entregue ao Judiciário.

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Para o delegado responsável pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Balneário Camboriú, Rodolfo Farah, as suspeitas do envolvimento de familiares no desaparecimento prejudicaram o andamento das investigações. Segundo ele, o relacionamento com a família passou a ficar mais difícil depois de o padrasto do menino, Alóis Gebauer, ter se tornado o principal suspeito do crime – ele chegou a ser preso por 30 dias e foi liberado por falta de novos indícios.

– Desde o início explicamos para eles por que tomamos algumas atitudes. Talvez isso tenha criado uma barreira que dificultou 95% da investigação – observa.

Uma das esperanças da polícia era que as perícias do quarto de Ícaro e dos carros da família pudessem apontar novidades. No entanto, os resultados foram inconclusivos e a apuração ficou ainda mais restrita. Farah explica que as amostras recolhidas estavam degradadas e não foi possível identificar qual era o tipo de material encontrado.

– Não via mais como a DIC podia ajudar nesse caso, então optei por sair da investigação. Quando se tem família envolvida é quase impossível de solucionar o caso e os indícios que conseguimos foram insuficientes – afirma.

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Com a DIC fora do caso, a delegada responsável pela Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso e Delitos de Trânsito de Balneário (Dpcami), Ruth Henn, diz que, apesar da conclusão do inquérito, as investigações continuam e novos indícios serão apurados.

– No mesmo dia do sumiço o delegado Farah veio até aqui se inteirar sobre o caso. Não se mediu esforços para procurar pelo menino e ele vai continuar no cadastro de desaparecidos, mas não temos bola de cristal.

O delegado Wanderley Redondo, da delegacia de Desaparecidos de Santa Catarina, também acredita que as investigações foram prejudicadas pelas suspeitas de envolvimento da família.

– No início da investigação todas as informações vêm da família. Até descobrir o envolvimento se perde uma semana ou mais de trabalho. Nesse caso, pela experiência que temos, nosso entendimento é de que há 99% de chance do Ícaro estar morto, porém novas informações serão checadas – completa.

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Investigação marcada por desentendimentos

A falta de efetivo na Polícia Civil de Balneário Camboriú não teria influenciado negativamente na investigação do desaparecimento do menino Ícaro. Além da Divisão de Investigação Criminal de Balneário Camboriú, foram mobilizados policiais da Dpcami e da Delegacia de Desaparecidos de SC, em Florianópolis.

A Polícia Militar também mobilizou 25 militares, um drone e dois cães de busca para procurar pelo corpo do garoto em uma operação no início de abril. A tentativa encerrou sem sucesso, assim como as buscas feitas pela Polícia Civil. Apesar dos esforços, Farah acredita que houve equívoco na ação da PM:

– Eles fizeram buscas nos mesmos locais que nós tínhamos feito. Eles mobilizaram muita gente, mais do que nós poderíamos mobilizar, mas não se preocuparam em pedir informações para a Polícia Civil. Essa interferência é nociva. Eu enviei um ofício à PM e ao Conselho Tutelar para saber quais informações eles tinham para fazer essa busca e até agora não recebi resposta – aponta.

Para família, polícia se precipitou

O advogado da família do menino Ícaro, Frederico Gebauer, afirma que a principal falha da Polícia Civil foi a precipitação na investigação, em especial à prisão do padrasto do garoto, Alóis Gebauer. Ele diz que apesar de ter sido uma ação legal, até agora nada foi comprovado.

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– Se houve crime não foi dentro de casa, nem com os carros da família porque as perícias foram inconclusivas. A polícia bateu apenas numa linha de investigação, foi tudo muito precipitado e talvez se perderam provas importantes – comenta.

Para Gebauer, a investigação se deteve apenas nas suspeitas sobre o padrasto, não apurou outras alternativas e não chegou a uma conclusão sobre o que ocorreu. De acordo com ele, poucos vizinhos e possíveis testemunhas do desaparecimento foram ouvidas nesses 90 dias de desaparecimento.

– A polícia colocou os familiares como inimigos e, muita coisa que poderia ter colaborado, não foi dita por medo. O sentimento é de injustiça, indignação e impotência, mas ainda há esperança de esclarecimento do caso e que o Ícaro esteja vivo – conclui.

Entenda o caso

– Ícaro sumiu de casa no dia 9 de fevereiro, feriado de Carnaval, e não foi mais visto pela família. De acordo com o relato dos pais, ele estava sozinho no apartamento onde morava, na Rua 3450, quando desapareceu. A mãe e o padrasto viram que o menino havia sumido quando chegaram em casa, por volta das 18h.

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– No dia do desaparecimento Ícaro vestia uma camisa pólo verde, uma bermuda quadriculada azul e branca e um chinelo do Homem-Aranha. Para a Polícia Civil, a criança não teria conseguido sair de casa sozinha, pois o prédio possui grades e segurança. Vizinhos também não notaram a presença do menino no imóvel no dia do desaparecimento.

– Câmeras de monitoramento nos arredores do bairro e em outros pontos da cidade foram analisadas, mas não trouxeram novidades ao caso. A polícia também investigou a possibilidade da disputa pela guarda da criança com o pai biológico ter sido o motivo do desaparecimento, mas não confirmou a hipótese.

– O principal problema na investigação é a falta de provas. Por isso, o caso está parado até que novas evidências surjam. A única possibilidade com que a polícia trabalha no momento é de envolvimento do padrasto, Alois Gebauer, 41 anos. Mas nenhuma prova contribui para isso. O que levou a Polícia Civil a pedir a prisão temporária de 30 dias para ele foram contradições nos depoimentos. A defesa dele alega inocência e diz que tem álibi que comprova a ida até o trabalho em 9 de fevereiro.

– A família de Ícaro acredita que o menino esteja vivo e, por isso, ofereceu uma recompensa de R$ 10 mil para quem tiver informações concretas sobre sua localização. Por enquanto, não houve contato sobre o caso.

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