Passados dois meses do desaparecimento de Ícaro Alexandre Pereira, 7 anos, pelo menos dois fatores impedem a investigação de avançar. A falta de provas e as perícias inconclusivas tornam o caso complicado e perto de ser considerado arquivado pela polícia. O sumiço do garoto ocorreu em 9 de fevereiro, terça-feira de Carnaval, quando a mãe, Ariane Pereira, o deixou em casa para ir trabalhar. O padrasto do garoto, Alois Gebauer, ficou na residência e foi a última pessoa a estar com o pequeno.

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Gebauer chegou a ficar preso por 30 dias, mas a falta de novas evidências contra ele impediu a continuidade da prisão. A Polícia Civil diz ter “99%” de certeza do envolvimento do padrasto no desaparecimento, porém, alega que há contradições nos depoimentos e não há materiais concretos que demonstrem a participação dele no sumiço.

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O Instituto Geral de Perícias (IGP) faz a análise de diversos objetos encontrados na casa da família, que fica no Centro de Balneário Camboriú. A maior parte das provas já teve a perícia concluída, mas nenhuma apontou algo que pudesse ajudar na investigação. Apesar de esperar o resultado dos exames de DNA, os peritos são claros ao afirmar que dificilmente devem ter sinais positivos nestes materiais.

— É um caso muito difícil. A principal dificuldade é que é muito amplo, não conseguimos restringir o nosso foco. Foi feito exame na residência e em todas as possibilidades que poderiam ter sido usadas. Tudo o que foi feito até agora deu negativo — resume o coordenador do IGP em Balneário Camboriú, Rudy Cezar Bedin de Oliveira.

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A Delegacia de Desaparecidos de Santa Catarina trabalha com a hipótese de Ícaro estar morto e deve fazer nos próximos dias mais uma busca pelo corpo do garoto. Na última semana, os bombeiros e a Polícia Militar procuraram pelo cadáver, mas nada foi encontrado.

— O problema sério é quando envolve familiar. Perdemos muito tempo até descobrir isso. Perdemos uma semana até ter indícios contra o padrasto. Mas, por enquanto, não tem fato novo — explica o delegado da Desaparecidos, Wanderley Redondo.

Em Jaraguá do Sul, um caso parecido ocorreu há dois anos, quando a menina Emili Miranda Anacleto, 2, desapareceu. Dias depois, o corpo do pai dela foi encontrado carbonizado. Naquela investigação, porém, Redondo acredita que a garota esteja viva, pois foi levada da família.

Perícias inconclusivas

Todos o material coletado no Caso Ícaro está em Florianópolis para análise. Entre os produtos recolhidos estão celulares e roupas. Também foram coletados materiais que contêm manchas e podem indicar sangue, além de ter sido feita perícia nos carros da família do garoto.

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A maior parte das amostras enviadas já retornou a Balneário Camboriú: todas deram resultado negativo. Ou seja, em nada devem auxiliar na investigação. Os peritos de Balneário Camboriú afirmam que a grande dificuldade neste caso é a falta de um ponto específico para ser analisado. Como não há evidências que apontem um local específico da residência, o trabalho foi feito em diversos lugares, o que gerou uma grande quantidade de material coletado.

A esperança de algum resultado reside nos exames de DNA. Os resíduos enviados para o IGP da Capital seguem em análise. O trabalho pode durar até seis meses. Tudo depende da qualidade dos materiais que, neste caso, como afirmam os peritos, não favorece o serviço.

Ocorrências como a de Ícaro, que envolvem crianças, são prioridade no IGP, segundo o gerente do Instituto Forense do IGP em Florianópolis, Odilon Souza Júnior.

Falta de provas

O principal problema neste momento na investigação é a falta de provas. Por isso, o caso está parado até que novas evidências surjam. A única possibilidade com que a polícia trabalha no momento é de envolvimento do padrasto, Alois Gebauer. Mas nenhuma prova contribui para isso. O que levou a Polícia Civil a pedir a prisão temporária de 30 dias para ele foram contradições nos depoimentos. O álibi de Gebauer, segundo o delegado Wanderley Redondo, também é contraditório. No entanto, Redondo admite que não há evidências que justifiquem a manutenção da prisão dele.

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— A qualquer momento, dependendo dos indícios, pode se solicitar novamente a prisão. Além das contradições, ele foi a última pessoa a estar com a criança. Aí também o problema de ter lavado o carro, saído com a moto — explicou o delegado.

Câmeras de monitoramento nos arredores do bairro e em outros pontos da cidade foram analisadas, mas não trouxeram novidades ao caso. A polícia também investigou a possibilidade da disputa pela guarda da criança com o pai biológico ter sido o motivo do desaparecimento, mas não confirmou a hipótese.

Uma nova busca deve ocorrer nos próximos dias, ainda sem data confirmada. A delegacia aguarda a equipe dos bombeiros para a procura. O delegado Redondo não divulgou o local.

QUEM É QUEM

Alois Gebauer

Alois é companheiro de Ariane Pereira, mãe de Ícaro. Paulista, veio do Litoral de SP com Ariane e Ícaro há menos de um ano. Ambos tentavam uma vida nova longe dos ex-companheiros. Em Balneário Camboriú, o segurança trabalhava em dois empregos. No dia do desaparecimento, segundo a versão do advogado dele, Frederico Gebauer, o padrasto estava de folga pela manhã e foi trabalhar à tarde. Ao sair, deixou Ícaro sozinho em casa.

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O fato de ter sido o último a ter visto o enteado no dia do sumiço, além de contradições nos depoimentos, levaram o segurança a ficar preso temporariamente por 30 dias. Por falta de evidências, a Polícia Civil optou por não refazer o pedido de prisão.

A defesa do padrasto alega que Gebauer tem álibi que comprova a ida dele até o trabalho em 9 de fevereiro, dia do desaparecimento de Ícaro e nega envolvimento no caso:

— A polícia não tem elementos para prorrogar a prisão. Naquele dia ele estava de folga de manhã e foi trabalhar à tarde normalmente. As câmeras mostram ele entrando para trabalhar. A polícia fez o passo a passo com ele, está tudo bem explicado — reforça o advogado.

Desde o dia em que foi solto, no final de março, o padrasto de Ícaro está recluso, prefere não se expor. O defensor diz que ele tem medo de sofrer represálias.

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Ariane Pereira

Funcionária de uma lanchonete em Balneário Camboriú, Ariane é mãe de Ícaro. Ela se mudou há pouco menos de um ano para Santa Catarina com Alois e Ícaro. Ela e Alois decidiram deixar Bertioga, no Litoral Paulista, para buscar uma vida nova e sair das proximidades dos ex-companheiros de ambos.

No momento em que o filho desapareceu, ela estava trabalhando. Desde 9 de fevereiro, tem se manifestado pelas redes sociais. Em um vídeo postado em 9 de março, ela pede ajuda para que o filho seja levado de volta. No dia 23 de abril, os familiares vão promover uma entrega de panfletos na Praça Almirante Tamandaré, em Balneário Camboriú, em buscar do garoto.

Quando perguntada sobre o envolvimento do padrasto, Ariane diz que prefere se manter “neutra”. Ela afirma que no início teve dificuldades com a falta de apoio da investigação. A mãe diz não acreditar que o filho está morto, e que continua buscando pelo garoto.

— A gente não sabe mais o que fazer. Não teria motivo para ele fugir.

Ícaro Pereira

Com sete anos, Ícaro estudava em uma escola de Balneário Camboriú. No dia do seu desaparecimento, estava em casa por ser feriado, já que era Terça-Feira de Carnaval. Nas investigações, o delegado Rodolfo Farah, responsável pelo caso na Divisão de Investigações Criminais (DIC) de Balneário Camboriú, ouviu de testemunhas que o garoto estava insatisfeito em Santa Catarina por preferir morar em São Paulo, onde reside o pai.

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Jonathas Lima

Jonathas é o pai biológico de Ícaro. Natural de Bertioga, mora na capital paulista. A Polícia Civil descarta envolvimento dele, como chegou a ser cogitado na investigação. Isso porque não há registro de que Lima tenha vindo para SC. No Facebook, o pai postou dias atrás um desabafo sobre a situação: “estou revoltado com tanta mentira, só queria meu filho de volta, é a minha única prioridade e nada vai mudar minha dor”.