Um ano se passou desde o conturbado dia 21 de maio, quando Emili Miranda Anacleto, de dois anos, desapareceu em Jaraguá do Sul. A menina foi levada pelo pai, Alexandre Anacleto, durante uma visita assistida à casa da mãe, Josenilda Miranda.

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O caso tomou proporções maiores três dias depois, quando Alexandre foi encontrado morto dentro do seu carro, carbonizado, na praia de Itajuba, em Barra Velha. Foram ouvidas mais de 20 pessoas, realizadas mais de 30 buscas e escrito inquérito com mais de 200 páginas e, até agora, nenhum vestígio da criança.

No dia seguinte ao desaparecimento, a Delegacia de Desaparecidos de Santa Catarina entrou na investigação para somar forças à Delegacia de Barra Velha e Delegacia de Proteção a Criança, Adolescente Mulher e Idoso (DPCAMI) de Jaraguá do Sul. A primeira linha de investigação foi checar a família de Josenilda, pois, no dia 17 de março, Alexandre registrou um Boletim de Ocorrência (BO) contra os cunhados.

– Neste BO, Alexandre dizia que os cunhados ameaçaram matá-lo e atear fogo no carro dele. De fato, isso aconteceu. Mas, durante as investigações, nenhum fato apontou envolvimento dos cunhados – relata a delegada da DPCAMI, Milena de Fátima Rosa.

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Milena destaca que a falta de testemunhas do que aconteceu na praia e o fato de o carro ter sido queimado dificultaram a investigação do paradeiro de Emili. A delegada ressalta que os adolescentes que queimaram o automóvel, com 13 e 15 anos na época, não tiveram envolvimento na morte de Alexandre, pois uma testemunha avisou os garotos sobre o corpo.

– A perícia não apontou a causa da morte de Alexandre. Não sabemos se foi morto ou se matou, o que dificulta a investigação.

Para o delegado da Delegacia de Desaparecidos, Wanderlei Redondo, dois fatores dificultaram as buscas por Emili. Em um primeiro momento, a quebra telefônica de Alexandre não identificou a localização exata do pai de Emili durante as ligações. Outro problema foi que as câmeras de vigilâncias dos locais não estavam funcionando.

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Com isso, a morte de Alexandre não foi esclarecida e o processo foi encaminhado ao Fórum de Barra Velha para ser arquivado por falta de provas. Segundo Redondo, um crime leva ao outro. Entretanto, as buscas e as mais variadas tentativas de encontrar Emili continuam.

– É um caso de conflito familiar no qual quem sai prejudicado é a criança. Desde que a delegacia foi fundada, há quase dois anos, conseguimos resolver 12 mil dos 18 mil casos. Emili continua sendo a única criança desaparecida em Santa Catarina – afirma Redondo.

Durante as investigações, seis denúncias anônimas foram feitas, mas todas sem sucesso. Milena espera que novas pistas surjam.

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– Nenhuma criança com os traços de Emili chegou aos IMLs e nem às unidades de saúde estaduais. Todas as delegacias envolvidas continuam pensando em novas formas de investigação para encontrarmos Emili – conclui.

Rompimento do silêncio

Emili era uma menina muito alegre e espoleta, relembra o avô paterno, José Anacleto Neto de 58 anos. Um ano após o desaparecimento da garota, a família de Alexandre Anacleto, pai de Emili, rompe o silêncio e fala pela primeira vez sobre os dois crimes que não foram solucionados.

– Meu filho dizia que estava sendo ameaçado. Ele não tinha nenhum envolvimento com drogas ou bebidas, era pedreiro como eu e só queria a filha perto dele. Ele já tinha sumido uma vez com ela e fez novamente, por isso acredito que jamais faria mal para a criança – declara José.

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O avô relembra que horas depois que Alexandre levou Emili da casa da mãe, durante a visita assistida, ele fez uma ligação para José:

– Eu disse para o Alexandre levar ela de volta, mas meu filho já sabia que seria morto e queria ela por perto.

Para José, os problemas de Alexandre começaram quando o filho expulsou a família da ex-mulher, Josenilda Miranda, de casa. A justificativa para o ato foi que Alexandre pagava todas as contas da casa e não concordava com supostas atitudes ilícitas dos cunhados. Ainda segundo o avô paterno, as brigas eram constantes e aumentaram depois da separação porque Alexandre não conseguia ver a filha.

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– Como Alexandre tinha levado uma vez a Emili, ele só podia ver a filha com a presença de alguém – relembra José.

O avô acredita no envolvimento da família materna no caso, pois Alexandre era ameaçado constantemente de que não poderia ver mais a filha. A família de Alexandre continua angustiada por falta de avanços nas duas investigações. José acredita que o filho sofreu para morrer e sabe que nunca o terá de volta, mas que a solução do seu assassinato é fundamental para encontrar a Emili.

– Eu tenho esperança de que vou encontrar a minha neta. Sinto falta de ouvi-la acordar bem cedo e chamar por mim. Também quero recuperar o tempo perdido porque nem sei se ela se lembra de mim.

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A eterna espera

Sentar, rezar e esperar. Com essas três palavras, Josenilda Miranda, de 22 anos, começa a relatar como são seus dias desde que sua filha desapareceu. Ela ficou quatro meses sem conseguir trabalhar por causa da tristeza por não saber o paradeiro da filha. Agora, seus dias são mais próximos da família para se sentir reconfortada.

– A esperança de encontrá-la será eterna, mas, para reconfortar um pouco a dor, eu tenho acompanhado o crescimento da minha sobrinha. Eu ia toda semana à delegacia, mas, como não tiveram mais avanços, parei de ir – conta Josenilda.

Na semana passada, o resultado da perícia dos 14 aparelhos celulares confirmou a segurança de Josenilda de que sua família não tem envolvimento no caso. Ela garante também que a perícia do computador terá o mesmo resultado dos celulares. Segundo ela, a família tem sido julgada injustamente.

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– Temos que continuar vivendo porque quando a Emili for entregue, vamos estar aqui para recebê-la – acrescenta.

A mãe de Emili diz que saudade aumenta em datas comemorativas, como Natal e Páscoa, e que está aflita por ter que passar mais um aniversário longe da filha. Ela relembra que Emili nasceu moreninha e, aos poucos, o cabelo foi clareando. Por isso, sua pergunta diária é de como Emili está agora.

– Neste um ano, ela cresceu. Não sei como está o cabelo ou como ela está se vestindo. Mas nada apaga a imagem dela com seu vestido roxo, quando Alexandre levou ela de casa.

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Josenilda espera que as pessoas denunciem se localizarem Emili e, também, garante que quando devolvida, não irá registrar Boletim de Ocorrência contra a pessoa, pois só quer a filha de volta.