Mais um caso de violência doméstica que ocorreu em 2015 será julgado pelo Tribunal do Júri em Joinville. O julgamento, que deveria ter ocorrido em 26 de novembro do ano passado, mas foi adiado por falta de jurados, está marcado para 29 de março. Quem sentará no banco dos réus é Bruno Pereira da Silva, hoje com 22 anos, denunciado pelo Ministério Público por tentativa de homicídio qualificado (por motivo fútil, emprego de fogo e por impossibilitar a defesa da vítima).

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O réu é acusado de atear fogo na companheira após uma discussão, em fevereiro do ano passado. A vítima, na época com 29 anos, teve 20% do corpo queimados e ficou 40 dias internada na ala de queimados do Hospital São José. Ela dividiu o quarto com Maria de Fátima Cecílio – queimada com ácido e óleo pelo ex-companheiro semanas antes. O caso de Maria já foi julgado e o ex-companheiro dela foi condenado a 22 anos de prisão.

Já a ex-companheira de Bruno, que não será identificada na reportagem a pedido dela por questão de segurança, falou com exclusividade ao jornal “AN”. Ela aceitou expor sua versão porque não se conforma que o ex-companheiro esteja negando a autoria do crime.

Último caso em Joinville: Mulher é esfaqueada na frente do filho

– No mesmo dia em que ele tacou fogo em mim, eu corri para a casa da minha comadre (vizinha) e fiquei embaixo do chuveiro. Ouvi da janela basculante ele dizendo: ?Essa mulher é louca, se tacou fogo, tá falando que fui eu?. Quando escutei, fiquei indignada e gritei: ?Assassino, prendam ele?.

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A mulher contou que na noite em que teve um dos braços, parte das costas e do peito queimados, Bruno teria chegado em casa no meio da madrugada embriagado. Ela disse que não suportava mais a situação e o mandou embora. A discussão se prolongou até que Bruno teria se deitado para dormir e a mulher rasgado o lençol que ele usava para se cobrir.

Você se reconhece em alguma dessas situações de violência doméstica?

– Puxei o lençol e acabou abrindo um buraco que já existia. Ele disse: ?Agora tu vai ver o que eu faço contigo. Tô louco pra tacar fogo em alguém?. Eu não levei fé. (Fui para a varanda) quando ele veio com o álcool (e despejou em mim). Me inclinei para o álcool escorrer. Tentei fechar a porta rápido, fiquei tão apavorada por estar molhada de álcool, ele veio, acendeu o isqueiro e o fogo subiu. Ele disse: ? Agora tu vai para o inferno?. Fiquei apavorada com o álcool no meu corpo. Eu estava com uma roupa de manga (que começou a grudar). Me deu uma moleza nas pernas, comecei a tremer, chamei minha filha, pedi socorro.

A vítima relata que a filha conseguiu apagar o fogo e que a comadre chamou o socorro. O suspeito foi preso quatro dias depois por meio de mandado de prisão. Ele foi solto no dia 26 de novembro – quando deveria ter ocorrido o julgamento. Após deixar o hospital, a mulher não retomou a rotina. Dificilmente sai de casa por medo de encontrar o ex e por vergonha das marcas.

– Agora, tenho que usar roupa de senhora, parece que eu tenho 60 anos, mas só tenho 30. Espero que ele pague pelo que fez.

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Contraponto

Desde que foi preso, Bruno nega a autoria do crime. A reportagem conversou nesta sexta-feira com o defensor público responsável pelo caso. De acordo com Vinicius Garcia, o réu nega a acusação e a Defensoria Pública acredita que provará a inocência dele no Tribunal do Júri.