O confronto que se arrasta há anos entre traficantes rivais das comunidades Novo Horizonte e Chico Mendes, no bairro Monte Cristo, em Florianópolis, voltou a se acirrar e amedrontar moradores nas últimas semanas. No domingo, após denúncias de tiroteios, a Polícia Militar deslocou viaturas do Bope e também um helicóptero para o local, que resultou na prisão de um homem e a apreensão de uma submetralhadora 9mm com 17 munições intactas. Um homem foi baleado e encaminhado para o Hospital Regional, porém não há informações sobre seu estado de saúde.
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Um grupo de uma Igreja que iria realizar um trabalho de evangelização próximo a escola estadual Américo Dutra Machado por volta das 14h30min, precisou dar meia volta por ordem de traficantes:
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– Chegamos lá e um homem com uma arma na cintura e outro de moto passando falaram pra gente “vazar que o bicho estava pegando”. O pastor até tentou conversar e disse que queríamos ficar, mas eles disseram que respeitam o trabalho da Igreja, mas que ia ter tiroteio – contou um membro.
Outro morador, que vive há 10 anos na Chico Mendes, relata que os bandidos já começaram a anunciar toque de recolher às 22 horas, uma rua foi fechada para impedir a entrada de policiais e basta anoitecer para ouvir barulhos de tiros e fogos de artificio para despistar:
– Já cansei de ligar e ninguém aparece. A PM só vem aqui quando tem algum baleado para buscar o corpo – falou.
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Moradores reclamam da ausência do poder público
A inoperância do poder público é que mais incomoda outro morador. Ele relata que no início do ano, vários secretários foram até lá e prometeram melhorias para a comunidade, mas até agora não viu nada.
– A noite não podemos sair na rua, toda hora é tiroteio. Tá complicado novamente. Faltam projetos pra tirar esses meninos da rua, eles só veem o exemplo do tráfico, daí ficamos nessa situação – lamentou.
Em novembro de 2014, a Hora esteve no Monte Cristo para relatar os mesmo problemas. Na ocasião, a reportagem flagrou um jovem caminhando com arma em punho à luz do dia. No início de dezembro a Polícia Militar tomou as comunidades, e os traficantes cessaram fogo. A trégua terminou assim que os policiais saíram da região, e o clima de guerra continuou: moradores do Chico Mendes temem atravessar para visitar parentes na Novo Horizonte, e vice versa.
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Titulares das secretarias de assistência social e do Continente visitaram o bairro na época, e prometeram melhorias, como a revitalização das áreas públicas e reforço nos projetos sociais, mas muito pouco foi feito desde então.
O que diz a PM
Embora moradores relatem a falta de policiamento, o comandante do 22º Batalhão da Polícia Militar, Tenente-Coronel Marcos Barreto Valença, garante que existe patrulhamento 24 horas no local, e também patrulhas direcionadas nos casos de confronto:
– Assumi o batalhão no dia 24 de fevereiro, e logo teve um confronto lá. Desde então temos mantido o patrulhamento, em quase três meses temos evitado mortes e mais confrontos, além de realizado 120 prisões na região continental, muitas no Monte Cristo. Mas acontece de alguns atores serem soltos e voltarem a cometer crimes na mesma região.
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O comandante ainda informou que estão monitorando com serviço de inteligência para que toda a população do entorno, de aproximadamente 20 mil pessoas, tenha condições de retomar a normalidade.
O que diz a Secretaria do Continente
O secretário do Continente, Deglaber Goulart, afirmou que uma nova empresa já foi contratada para terminar a obras na praça da rua dos Cedros e a reforma do ginásio (a antiga empresa abandonou a obra alegando falta de segurança). Ele disse que não é possível dar uma data para a conclusão, pois depende do tempo.
– Estamos em contanto com as lideranças da comunidade, e vamos retomar os projetos que já existiam lá. Fizemos uma parceria com a Casan e com Comcap, que já limpou o prédio conhecido como Carandiru, as salas já estão prontas para uso – disse.
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O secretário não informou datas de início, mas disse que será o mais breve possível.
O que diz a Secretaria de Assistência Social
O diretor geral da secretaria de assistência social, Dejair de Oliveira Junior, ocupava a Secretaria do Continente em janeiro de 2015 e esteve visitando o Monte Cristo. Agora em outra secretaria, Dejair relatou que para implementar os projetos sociais no local precisam que o prédio esteja em condições de uso e segurança:
– A Secretaria tem o interesse de implementar os projetos e serviços para as comunidades, mas precisa de condições mínimas. Não depende só da assistência social, mas de outras forças públicas, como a Polícia Militar, para garantir a segurança. Os conflitos entre as duas comunidades – Novo Horizonte e Chico Mendes – em que quem mora de um lado não pode passar pro outro dificulta executar projetos que envolva os dois lados. ?