Com toque de recolher às 17h, creches e escolas fechadas, homens circulando com armas e trocando tiros à luz do dia, duas comunidades da área continental de Florianópolis estão sob o domínio do tráfico de drogas: Chico Mendes e Novo Horizonte no bairro Monte Cristo.
Continua depois da publicidade
Leia Também:
::: PM ocupa comunidade do Chico Mendes
::: Vingança por mortes gera série de crimes no Continente
Continua depois da publicidade
A área, margeada pela Via Expressa, é o principal acesso rodoviário à Capital e vive esse clima de medo há duas semanas. Desde então, duas mortes e a disputa entre grupos rivais encurralaram os moradores. A imprensa está impedida de entrar e a polícia considera toda a situação uma afronta ao Estado.
Apesar da restrição, alguns moradores rompem o silêncio na esperança de que a situação chegue às autoridades e melhore.
– O armamento está muito forte. É de macaquinha pra cima.
A linguagem dos traficantes, que chamam fuzil de macaquinha, está no relato de um morador ao descrever o ambiente dos últimos dias na comunidade de Chico Mendes, e conversou com a Hora por telefone.
Continua depois da publicidade
Às 17h, o medo cala os trabalhadores, que se limitam a fechar seus estabelecimentos comerciais e retornarem às casas _ algumas crivadas de balas. Nessa sexta-feira, nossa reportagem flagrou um dos criminosos empunhando uma arma no meio da tarde.
Se entra um estranho, é problema
– Ainda consigo circular pelas ruas, porque moro aqui, mas se entra uma pessoa estranha já é problema. Está todo mundo com medo. Eles (os traficantes) não chegam a ameaçar quem é daqui, mas só de ter um cara armado na sua porta já intimida – conta o morador.
Os tiros que ecoam na madrugada, todas as noites nas últimas três semanas, deixaram dois mortos: um homem de 27 anos e um adolescente de 16 anos, apontado pela Polícia Militar como irmão do chefe dos traficantes que atuam na região da Novo Horizonte. Segundo informações da PM, este grupo estaria avançando sobre a Chico Mendes, gerando o confronto.
Continua depois da publicidade
– São 5 ou 6 crianças deixando a população refém. Eles têm entre 14 e 17 anos, uma gurizada nova por aqui – disse a testemunha, que vive há mais de 15 anos na comunidade.
“Nada de colocar no Facebook”
É por cima do muro de arrimo que a mulher de 44 anos observa para a rua. São 18h e nesse horário o companheiro chegaria do trabalho para passar a noite em sua casa, no bairro Monte Cristo, em Florianópolis. Mas isso não ocorre desde terça-feira. Por causa do toque de recolher_ a partir das 17h_ o casal suspendeu os encontros.
– É uma questão de segurança, diz ela.
Nem as entidades espirituais os bandidos respeitam.
– A lojinha que vende produtos de macumba fecha no horário determinado_conta.

Morador fotografa rua deserta por volta das 17h30min desta sexta-feira
Ninguém contraria as ordens. Mesmo os moradores mais antigos, por temerem represálias aos familiares. Lojas, salões de beleza e os mercadinhos deixam de atender antes da noite chegar. Tiros são ouvidos a qualquer hora do dia. Muros e paredes estão crivados pelas balas.
Continua depois da publicidade
Os traficantes também teriam mandado um recado para os que utilizam a internet:
– Deixem que a gente resolva as coisas: nada de colocar no Facebook.
“Eles atiram a esmo e se escondem”, diz comando da PM
O tenente-coronel Mauro da Silveira, comandante do 22º Batalhão da PM, afirma que a maioria dos tiros registrados pelas guarnições nos últimos dias foram casos de afronta ao Estado.
– Tem uma briga por território, mas muitas vezes eles vão para o meio da rua, atiram a esmo, e depois se escondem em casas da própria comunidade só para manterem o medo na comunidade – disse o comandante.
O trabalho da PM se resume a rondas em horários aleatórios, enquanto a inteligência levanta informações.
Continua depois da publicidade
Armas pesadas vindo de fora
– Pelo que monitoramos, eles estão trazendo armas pesadas de fora, em parceria com criminosos do Rio de Janeiro. Estamos preparados para reagir – disse.
A Polícia Civil mantém investigação na área por meio da Divisão Especializada no Combate ao Narcotráfico (Denarc) da Diretoria Especial de Investigação Criminal (Deic).
A comunidade pede agilidade na intervenção.
– Não tem polícia. Tem insegurança – disse o morador.