Uma semana depois de deixar a prisão, o vereador José Alvercino Ferreira (PP) falou pela primeira vez sobre as denúncias da Operação Parada Obrigatória e os planos para o futuro. Confira:
Continua depois da publicidade
O que o senhor tem a dizer de todas as denúncias que fazem contra você?
Algumas denúncias são infundadas. A das motocicletas não tem fundamento nenhum. Eu não tinha acesso a essas motos, e não eram motos, eram sucatas de motos que o proprietário do guincho acabou vendendo de três locais que ele tinha a mesma concessão. E os outros que estão me acusando são crimes administrativos, ou seja, de advocacia administrativa. É aquela que o eleitor liga para os 21 vereadores, ela não liga só pro José. Todos os vereadores já fizeram algo a favor do contribuinte. Eu não sabia que as outras acusações eram crimes administrativos e 50% dos vereadores do Brasil não devem saber que alguém pedir um favor pra você e você fazer algo pelo poder administrativo é crime.
Como o senhor pretende enfrentar os manifestantes contrários ao seu retorno?
Continua depois da publicidade
Eles vão voltar quantas sessões quiserem, vivemos em um país democrático. Da mesma forma que existe quem não gosta de mim, existe os que gostam também e vieram aqui.
E o senhor pretende continuar na Câmara?
Pretendo continuar. Estou respondendo um processo na Comissão de Ética, vou responder e ver o que eles querem. Vou enfrentar de cabeça erguida, como sempre enfrentei tudo na minha vida. Todos me conhecem, sabem que eu jamais seria capaz de vender essas motocicletas. Estou há mais de 16 anos junto do prefeito Jandir Bellini (PP). Eu jamais trairia a confiança dele. Parece que o alvo da operação seriam outras pessoas. Eu vi pessoas honestas e sérias, mas nunca vi alguém tão honesto e sério quanto o prefeito. Parece que queriam chegar nele prendendo outras pessoas, e não conseguiram chegar no prefeito. Eu tô enfrentando dois processos. No MP e agora no Conselho de Ética que está correndo aqui. Vou responder e depois meus pares vão decidir se vou continuar ou não. Mas estou bem tranquilo quanto aos meus delitos. Não tenho duvida que sou inocente. Não enriqueci, tanto é que hoje tenho menos dinheiro do que quando entrei na política.
Leia mais:
Prefeitura decide exonerar servidoras denunciadas em operação do Gaeco
Duas servidoras da prefeitura estão entre os nove denunciados pelo MP
Justiça aceita denúncia contra dois empresários em Itajaí
Prefeitura vai abrir sindicância para apurar supostos crimes na Codetran
O senhor se considera inocente das acusações?
Eu não me considero, eu sou inocente. Duas testemunhas já disseram que foram compradas, foram aliciadas para dizer que eu vendi as motocicletas. A realidade está sendo mostrada, eu sou inocente.
Continua depois da publicidade
O senhor então acha que pode ter pecado por ingenuidade?
Posso ter errado sim, mas sem saber que tava errado.
O senhor acha que foi uma armação?
Não tenho dúvida que foi. A delação premiada dele (o empresário Julio Cesar Fernandes), ele tinha que falar algumas inverdades para que a delação tivesse valor, e uma dessas mentiras foi sobre a sucata de motocicleta.
Até quando o senhor foi supervisor do contrato com o pátio de veículos?
Normalmente o coordenador não é o fiscal do contrato, normalmente é alguém do administrativo. Esse contrato novo foi no fim do meu período lá. Essa questão dos 17% não era da minha época. Em 2012 eu não estava na coordenação. Eu saí em março de 2012 da Codetran. Ese é outro sprocesso do qual não tem nada a ver com o meu envolvimento. Eu acredito, no entanto, que o Nelson Abrão e o William Gervasi não deram autorização pra que ele não pagasse os impostos. Os dois são concursados na prefeitura, e como é que eles iam autorizar sem algo por escrito da prefeitura? Eu confiro mais no nelson e no william do que no Julio. Eu penso que o julio tá mentindo. que eles não autorizaram ele a não pagar os impostos. eu nao estava mais na codetran mas não acredito nisso. em órgão publico o que vale é o que tá escrito, e não tem nada assinado.
Veja outras matérias sobre a operação:
O esquema que envolveria a imprensa de Itajaí
Vereador preso ajudaria motoristas a anular multas e liberar carros
Influência de Zé Ferreira se estenderia além da Codetran
Inquérito revela suposto furto de 715 motos e metas de apreensões
Em relação à sua suposta influência na Codetran, o senhor solicitava a liberação de veículos e multas?
Continua depois da publicidade
As multas, depois de inseridas no computador elas não podem ser tiradas. O que eu fazia aqui no gabinete era ajudar o contribuinte a fazer defesa. Nós tivemos uma leva de 110 mil multas em Itajaí quando mudou o sistema, e esse sistema não era da minha época. Saiu uma empresa e entrou outra, e essa nova diminuiu o tempo do amarelo pro vermelho no semáforo, e nessa saíram muitas multas. Como eu sempre fui ligado ao trânsito, as pessoas me procuravam.
E sobre os veículos?
Tem que ter uma autorização do Detran ou do Codetran. Um exemplo: sexta-feira tinha um casal de velhinhos na missa, na frente da Igreja Matriz é proibido estacionar. Quando voltaram viram que o carro tinha sido removido. Me ligaram e eu liguei para o dono do pátio e perguntei se havia a possibilidade deles liberarem esse veiculo pra segunda-feira pegar a autorização no órgão competente. O dono do pátio poderia dizer sim ou não, pois ele é o dono, eu não mando. ele disse sim e acabou liberando, e não foi buscar a autorização. Não sei se tu acha que isso é influência. As pessoas pediam pra mim porque eu estava envolvido com o trânsito. Eu não obrigava ninguém, ele é o dono do patio, eu pedia quando pediam pra mim. Se isso é influência, então eu tinha influência.
o senhor acha que a sua prisão foi injusta?
Se foi injusto ou não, só vamos saber no final do processo.
O senhor não recebeu dinheiro pela venda das motos?
Eu não recebi dinheiro pra nada. As testemunhas de acusação mesmo disseram que eu não me beneficiava com dinheiro. O que eu fazia eram favores. Se eu errei, foi sem saber.
Continua depois da publicidade
O senhor chegou a encontrar os outros vereadores presos?
Cheguei a passar por eles indo para o parlatório, mas nunca houve contato. Nunca conversei com eles.
O senhor já encontrou o prefeito Jandir Bellini (PP) depois de solto?
Ainda não falei com ele. Apenas com o vice presidente do partido a respeito da minha vinda pra Câmara hoje. Não falei com nenhum dos meus companheiros de bancada tbm.
O partido está te apoiando nessa volta?
Teremos uma reunião dia 7 de dezembro. Meus advogados estão vendo se posso ir, se posso conversar com o presidente, com o prefeito, ainda não sei ao certo. Eu tô mais ficando em casa mesmo, pra esperar abaixar a poeira.
E o seu futuro?
Vou esperar, ano que vem tem eleição e não sei ainda o que vou fazer. Vou ver com os meus familiares, quem estava junto no momento mais difícil da minha vida, que foi a prisão. alguns não queriam que eu continuasse, mas eu gosto da política. eu não enriqueci na política, eu não sou rico. o que eu tenho é fruto do meu trabalho, eu trabalho desde os sete anos. agora com todos os bens bloqueados, muito pior… tô com a minha consciência bem tranquila e tenho certeza que a justiça será feita e que serei inocentado.
Continua depois da publicidade
a minha liberdade deu-se em função do depoimento, um rapaz que não conheço, que havia falado que o dono do pátio teria o procurado e oferecido um determinado valor para que ele mentisse.
O senhor disse que foi tratado como todos os presos, e como que foi esse tempo?
Na verdade você estar encarcerado é muito complicado. Para uma pessoa que nem eu, que é ágil, que gosta muito de trabalhar é complicado. Chorei muito, emagreci muito, orei muito. Eu não estava acostumado com aquilo. Ouvia as conversas das outras celas e era uma conversa totalmente diferente do ambiente que tu vive. Um cara falando que veio porque roubou, outro planejando… isso nos primeiros 30 e poucos dias em que eu tava no presídio. Quando eu fui pra penitenciária já mudou, porque aí passei a conviver com as pessoas que trabalhavam. Consegui uma autorização para ficar com eles. Eu acordava pela manhã e o pessoal saía pra trabalhar cedo. Ficávamos em uma cela maior com 16 camas, e estávamos em 18. Eu ficava lá trabalhando dentro da cela, limpando, lavando roupa. Eu só não podia sair pra trabalhar, tinha que ficar lá dentro, mas não usava mais algema. Fiquei mais de 50 dias usando algema como os outros.
O senhor saiu diferente do presídio?
Todos que entram e passam pelo o que passei, saem diferente. Saí mais religioso, eu talvez tenha que mudar minhas atitudes. Eu sempre falei antes de pensar, nisso talvez eu tenha ofendido muitas pessoas. Saí bastante diferente de lá começando pelo corpo. Careca, mais magro. É uma vida muito difícil lá dentro. Mas é bom esclarecer que eu não tinha nenhuma regalia. Eu fui tratado como todos os outros presos. Procedimento de ser revistado sem roupa, tudo isso.
Continua depois da publicidade
(Com Bianca Ingletto, RBSTV)
Confira o vídeo com os protestos da sessão desta quinta-feira em Itajaí: