A notícia chegou por telefone, televisão, vizinhos e parentes. Os moradores do bairro Maciambu, em Palhoça, na Grande Florianópolis, ficaram sabendo nesta terça-feira de manhã que à tarde passariam a ter como vizinhas aproximadamente 400 famílias vindas do terreno à margem da SC-401, em Florianópolis.

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>> Famílias da Ocupação Amarildo se mudam para área questionada na Justiça como terra indígena

Surpresos, foram tomados pelo sentimento de apreensão. Sem saber muitos detalhes, parte das pessoas questionava a decisão do padre Luiz Prim, diretor do Instituto Kairós, em oferecer o terreno que antes abrigava o Centro de Tratamento Recanto Paz e Bem para receber os integrantes da Ocupação Amarildo de Souza.

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Enquanto Prim discutia com o Ministério Público Federal, o Incra e os líderes do acampamento como seria feita a mudança para a nova área, os moradores de Maciambu repercutiam entre si a informação dos novos vizinhos. Em poucas horas, a pacata comunidade passou a ter movimentação de viaturas da Polícia Militar (PM). Duas mulheres em um Uno com placas de Almirante Tamandaré (PR), que se diziam integrantes da Ocupação Amarildo estiveram na localidade em busca do novo assentamento.

Diretor de um centro de tratamento para dependentes químicos, Marcos Rodrigues foi chamado às pressas no local para conter os 30 internos da unidade. Segundo ele, o grupo teria ficado agitado com a possibilidade de o bairro receber a ocupação:

– Estávamos com êxito na recuperação dos internos, mas isso prejudica o tratamento porque escolhemos lugares mais distantes para deixarmos eles isolados – justificou.

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Um grupo de moradores pretendia ir até a prefeitura de Palhoça ontem à tarde em busca de apoio para que os ocupantes não fossem à nova área.

– A gente não vai ficar de braços cruzados – garantiu a moradora Rosane dos Santos.

A área oferecida pelo padre Prim é de sete hectares. Com o mato alto, ela aparenta estar descuidada, apesar de um rapaz morar no local desde o fechamento do centro para tratamento de dependentes químicos em junho do ano passado. Uma casa alaranjada fica à direita do portão de entrada. Ao lado dela, uma outra residência branca e um oficina mecânica são as únicas estruturas levantadas no terreno.

Integrantes da ocupação começam a se instalar nesta quarta-feira

Pelo menos dois ônibus com integrantes da Ocupação Amarildo chegaram por volta da meia-noite desta quarta-feira ao terreno na região do Maciambu, em Palhoça, na Grande Florianópolis. Alguns membros do movimento também deixaram a área montada na margem da SC-401, em Florianópolis, em carros e motos. O grupo começou a se instalar no local durante a madrugada desta quarta-feira.

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Um dos líderes da ocupação, Rui Fernando Filho disse que a mudança de terrenos é uma solução provisória para as famílias. Segundo ele, a intenção é retornar à área na SC-401.

Rui Fernando disse ainda que a área em Palhoça não foi invadida, pois houve consentimento do proprietário em receber as famílias no local. O terreno em Palhoça está sendo questionado na Justiça como área indígena.

Desocupação na SC-401 iniciou na noite desta terça-feira

O primeiro ônibus com integrantes da Ocupação Amarildo deixou a área em Florianópolis perto das 22h30min desta terça-feira. O prazo para a liberação da área, determinado judicialmente, era até a meia-noite desta quarta-feira. O veículo saiu com escolta de uma viatura e duas motos da Polícia Rodoviária Estadual.

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A decisão de deixar o terreno na SC-401 foi tomada em uma reunião na noite desta terça-feira entre Ministério Público Federal, Defensoria Pública da União e integrantes da Ocupação Amarildo.

Minutos depois da decisão, o MPF e a Defensoria da União lançaram nota afirmando não concordar com a decisão. Segundo os dois órgãos federais, a primeira proposta do Incra seria de transferir as famílias para Canoinhas, no Planalto Norte catarinense, mas que foi recusada pelos acampados.

“O Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União esclarecem que não chancelam qualquer decisão que não seja a apresentada pelo Incra, dentro do parâmetro da legalidade, a exemplo da possibilidade de realocação das famílias na região do Maciambu, em Palhoça. Tal iniciativa poderia aumentar as tensões em uma região que já apresenta conflitos”, diz a nota.

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