Santa Catarina é um dos polos de tênis não só por causa de Gustavo Kuerten, mas por tudo que aconteceu depois dele. Larri Passos, técnico de Guga, tem em Camboriú um centro de treinamento. Nessa mesma região, mas em Itajaí, no Itamirim Clube de Campo o argentino Patrício Arnold trabalha há 10 anos com o alto rendimento de atletas em projeto junto com a Confederação Brasileiro de Tênis (CBT). Patrício é o coordenador de alto rendimento e transição da CBT.

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— Eu trabalhava em São Paulo no Instituto do Tênis e em 2005 o projeto foi para Itajaí. Nessa mudança fui convidado para ir junto. O Instituto decidiu voltar para São Paulo e o Itamirim quis continuar com um projeto de alto rendimento de tênis e me convidou para ficar — explica Patrício Arnold.

Patrício foi atleta e trabalhou com quase todos os tenistas brasileiros da última década. Hoje ele, junto com a equipe da CBT, cuida de atletas juvenis como Orlando Luz, Marcelo Zormann e João Menezes.

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Em uma entrevista longa, ele conta sobre os desafios de fazer a transição dos atletas do juvenil para o profissional e da função.

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Você é coordenador de alto rendimento e de transição da CBT, como funciona essa transição?

Essa parte surgiu com os anos. Em 2005, por exemplo, começamos um trabalho com os atletas juvenis, entre eles o Thiago Monteio (brasileiro atualmente número 123 do mundo). Os meninos foram crescendo e saindo do juvenil e aí veio a pergunta: vamos abandonar eles? Assim surgiu essa parte de transição. Percebemos que existia uma lacuna, de até cinco anos, entre o fim do juvenil e até o atleta ser realmente um profissional. É um momento delicado.

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Por que é difícil entender esse período. O que acontece durante?

É difícil de ser entendido esse período porque o atleta que deixa de ser juvenil, onde ele tinha um ranking e era avaliado, passa para o ranking da ATP, mas ele ainda não é profissional. Se perde parâmetro em um período que o atleta vai perder muito. Os jogadores ficam perdidos nesse período. Se tem muito trabalho para ser um profissional. O nosso trabalho é sentar com eles, os pais, e explicar que essa fase é normal. Quando ele deixa o juvenil e passa a enfrentar vários atletas que também eram ótimos no juvenil, mas agora eles estão quatro anos mais experientes e melhores preparados, e por isso eles perdem. Além de na forma física um juvenil ter desvantagens contra um jogador que tem 21 ou 22 anos.

O Thiago Monteiro está ainda nessa fase de transição?

O Thiago eu diria que sim, que está na fase final. Esse é o quinto ano de transição dele. Um bom juvenil começa com 17 anos, e nesse último ano de juvenil já começa a jogar torneios de future e fica alternando. Faço uma comparação com o Dominic Thiem (austríaco número 9 do mundo), os três primeiros anos dele são iguais ao do Thiago. No quarto ano ele conseguiu entrar no top 100. E para mim, se entrou no top 100 pode se considerado que é pró. É uma boa referência. Se dermos esse tempo para o Thiago, que já está muito próximo, ele pode se consolidar no top 100.

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Qual a maior dificuldade nessa fase de transição?

É a financeira. Um bom juvenil viaja com apoio da sua confederação, isso na maioria dos países e aqui no Brasil também, e nos torneios ganha hospedagem, alimentação e etc. Quando você deixa de ser juvenil perde esse apoio da confederação e dos torneios e passa a ser tudo por tua conta, e isso é muito caro. Não dá para considerar ele um atleta profissional. No Brasil a CBT mantém o apoio, desde a chegada do Correios tivemos mais investimentos para isso. Além disso, muitos meninos desistem porque falta informação. Nos primeiros anos você vai perder muito para enfim começar a ganhar. Alguns não aguentam essa rotina e desistem, ou começam a sair à noite aproveitar mais o lazer e, para mim, ai já é como se desistissem também porque dificilmente vai conseguir bons resultados.

Existe algum catarinense com um futuro promissor?

Há alguns anos tinha um muito promissor, de Jaraguá do Sul, o Karue Sell. Começou a treinar lá em Itajaí com 13 anos e fez todo o processo de juvenil, mas decidiu fazer universidade na Califórnia, nos Estados Unidos. Está saindo agora da UCLA e tem o desejo de voltar a jogar. Eu vejo ele com muito potencial. Em Joinville, tem o Pedro Boscardin. Um desses meninos para se olhar. Ele está no nosso processo da CBT de ações regulares desde os 12 anos.

Em uma entrevista que fiz com o Guga há alguns anos ele me disse que uma das suas preocupações era com a formação de técnicos no Brasil, tanto profissionais como para as crianças. Como vê essa questão?

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Acho que falta em todas as áreas. São três fases de treinamento: a formação, a competição e o alto rendimento. São fases diferentes e que requer capacitação bem específica para avaliar e passar os meninos e meninas com potencial para a próxima fase. Os investimentos de modo geral tem que existir e a politica de modo geral no Brasil, isso parte de lá de cima, e em todos os esportes sempre se visa o imediato. Esse tem chance? Vamos apostar nele. Botar onde não tem retorno imediato é mais difícil. Isso é um pouco cultural do país. O Guga está ajudando a aumentar a massa de crianças no esporte com as escolinhas dele e isso faz com que tenhamos mais atletas, mas precisamos estar preparador para o trabalho intermediário, entre a formação e o alto rendimento. Um menino de 13 anos não pode sair da casa dele para morar em Itajaí e treinar com a gente. O ideal é ele trabalhar na cidade dele e perto da família, para quando estiver maior e mais preparador ai sim, sair de casa.

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