Certo déjà vu pode ter lhe ocorrido ao ler o título desta coluna. Não é novo, de fato. Foi esta sensação confusa que tive nesta semana, ao observar com atenção o primeiro telejornal da manhã. Acordar, de verdade, não se trata de uma tarefa simples, ao menos para mim. E antes das 7h, em jejum e na expectativa de tomar alguns bons copos de líquido doce que me habilite a fazer uma tomografia, chego a duvidar da capacidade de lembrar meu nome. Isso ficou em segundo plano com a sequência de notícias. A violência contra a mulher foi um soco no estômago logo cedo. Brutalidade reiterada, tornou-se figura comum entre as notícias policiais. Até quando?
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A sequência nefasta começou com a adolescente de Lages, de 17 anos, assassinada pelo ex-companheiro enquanto dormia. Ela já havia registrado vários boletins de ocorrência contra ele por ameaça. A morte de uma mulher de 34 anos, em Blumenau, ocasionada por golpes de machadinha proferidas pelo então marido foi o destaque seguinte. Não bastasse, seguiu-se com o caso da menina de três anos molestada pelo auxiliar de professor numa creche em Gaspar. Dias depois, o caso da garota abusada por anos pelo próprio pai, de quem chegou a engravidar e ter uma menina, completaria o quadro de violência contra mulher da última semana.
Três das sete pessoas assassinadas em Blumenau neste ano eram mulheres, vítimas de feminicídio
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Comecei assistindo as reportagens na recepção da clínica e terminei já sendo atendida. A enfermeira até tentou, mas não conseguiu avançar no questionário pré-exame. Ficamos, as duas, mudas diante da tevê. Não se tem segurança em lugar nenhum, concluiu ela. Concordei, mas complementei: as mulheres não estão totalmente seguras em nenhum lugar. Este é um dos fatores que mais chocam em casos de feminicídio.
Em entrevista à repórter Aline Camargo publicada em matéria especial do Santa sobre violência contra mulher no início de março, Maria da Penha – vítima de violência doméstica que deu origem à lei de proteção às mulheres que carrega seu nome – concluiu: elas morrem dentro de casa assassinadas por quem já foi de confiança. As estatísticas comprovam a argumentação e a necessidade de que a sociedade discuta e aplique formas eficazes de reverter este quadro. Umas delas, sem dúvida, é a educação desde a tenra infância dentro das famílias e nas escolas.
Casa Abrigo Eliza acolhe vítimas de violência doméstica em Blumenau
Na época da publicação da reportagem, nas redes sociais alguns questionaram a leitura dos dados. Até aquela data eram sete homens assassinados em Blumenau contra três mulheres. Que a segurança pública é questão urgente comprovada pelos dados que se avolumam a cada dia não há dúvida. Porém, a própria Maria da Penha desmonta o questionamento pipocado nas redes. “Homens são assassinados por pessoas com quem não têm parentesco, intimidade. As estatísticas mostram que você não vê mulher morrendo como os homens”, explicou. Até quando?