Ao menos nove crianças e jovens da região passaram o fim de semana sem suas mães pela primeira vez na vida. O que estes filhos têm em comum? Viram suas mães engrossarem as estatísticas de vítimas de homicídio. Tiveram a vida dilacerada pelo próprio pai – e ex-padastro, em um dos casos. A repercussão dos casos foi inversa à brutalidade dos assassinatos. Estamos naturalizando a violência – também – contra a mulher. A sequência de crimes começou no último sábado de janeiro.

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Uma técnica de enfermagem de 44 anos foi assassinada a tiros na frente do filho de 12 anos dentro de casa em Joinville. A principal suspeita é de que o crime tenha sido encomendado pelo ex-companheiro. Ela já tinha feito boletins de ocorrência por ameaça de morte vindas dele. O segundo caso foi em Blumenau, na madrugada de domingo, dia 31. Numa crise de ciúmes, o homem torceu uma calcinha no pescoço da esposa de 30 anos. Entregou-se à polícia com o corpo no porta-malas do carro.

Na terça-feira, no Badenfurt, coube ao filho de 21 anos encontrar a mãe, 46 anos, sem vida coberta por areia no quintal de casa. O pai confessou no dia seguinte o assassinato por asfixia e marretadas. O caso mais recente foi no sábado, em Itajaí. Uma mulher de 34 anos foi morta a facadas no bairro Promorar. O filho de 16 anos também foi ferido. O principal suspeito é o marido da vítima, que até ontem estava foragido. São casos que adensam dados nacionais.

De acordo com o Mapa da Violência – Homicídio de Mulheres no Brasil, em 2013 (ano mais recente com dados disponíveis), do total de mulheres vítimas de agressões não letais no país, 72% foram atacadas dentro de casa e a maioria por parceiros ou ex. Entre 2003 e 2013 aumentou em 8,8% a taxa nacional de homicídio de mulheres, sendo que as negras têm índices de crescimento muito acima da média. Santa Catarina figura entre as menores taxas de assassinatos do país: são 3,8 vítimas para cada 100 mil mulheres. Ainda longe do ideal: zero. A média nacional é de 4,8.

Apesar do avanço que significou a criação da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminicídio, a repetição dos casos de mulheres assassinadas e violentadas grita a necessidade de que sejam aplicadas políticas públicas de prevenção eficientes. Elas têm de ir desde a conscientização de que em briga de marido e mulher se mete, sim, a colher. Passam pelo tratamento psicológico público a toda a família e vão até a educação na tenra infância.

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Uma lei que proíbe a citação do termo gênero nas diretrizes do plano de educação não pode ser o empecilho para ações educativas contra concepções equivocadas arraigadas na sociedade. Passou da hora de não aceitarmos mais mortes de pessoas vítimas do fato de terem nascido mulheres numa sociedade em que se perpetua a crença de que homens têm irrestrita propriedade sobre elas.