Quando a violência doméstica chega ao extremo da ameaça – ou até da tentativa – de morte a única alternativa que resta às mulheres, de modo geral, é sair de casa. Em Blumenau, as vítimas têm a opção de recorrer à Casa Abrigo Eliza, onde podem permanecer por tempo indeterminado até que o ciclo de violência seja rompido e se sintam seguras para retornar ao lar. Em 2014, 44 mulheres foram acolhidas. No ano seguinte, o número subiu para 63. Atualmente há duas mulheres sendo atendidas.

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Ficar ou sair do abrigo é uma opção de cada mulher, explica o assistente social da Secretaria de Assistência Social Ricardo Bortoli. Porém, quando a equipe da Casa Eliza acredita que ela ainda corre riscos, o conselho é esperar mais um pouco:

– Quando a mulher vai para o abrigo é porque tem uma condição de risco de morte, porque o abrigo é uma casa de proteção para ela e para os filhos de até 18 anos, e o objetivo principal da casa é preservar a vida.

Bortoli explica que quando a mulher opta por buscar segurança no abrigo, a vida toda muda: ela se afasta do trabalho, os filhos mudam de escola e só é possível sair do abrigo na companhia de uma educadora. Além disso, as abrigadas têm restrições de uso de celular, de contato com outras pessoas e de qualquer atividade que praticavam fora do abrigo:

– As mulheres acabam reclamando pelo fato de estarem presas, mas a vida está acima de qualquer coisa e ali o Estado está zelando por elas. Porém, para garantir a vida elas também sofrem.

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Bortoli explica que, apesar das mulheres estarem em relações com alto grau de violência, existe a possibilidade de acabar com as agressões sem pôr fim ao relacionamento, e que este é um dos pontos que a equipe da assistência social procura trabalhar com as famílias. Ele analisou 125 prontuários de abrigadas na Casa Eliza e relata que em 55% dos casos a mulher conseguiu sair do ciclo de violência sem se separar do companheiro:

– Tem quase 50% dos casos em que para acabar com as agressões a mulher separa, mas por mais que às vezes pareça muito difícil tem casos em que ela não quer se separar e trabalha para isso.

Outro número que mostra o sucesso no trabalho de extinguir a violência do círculo familiar é o número de reincidências na procura do abrigo. Entre janeiro de 2014 e fevereiro de 2016, apenas seis mulheres voltaram a procurar o acolhimento.

De qualquer forma, o trabalho não para. Para garantir o fim da violência e a preservação das famílias, a Secretaria de Desenvolvimento Social (Semudes) trabalha também com os autores de agressões que, mais que as vítimas, precisam compreender a gravidade da violência que praticam.

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Segundo a diretora de Proteção Especial de Média Complexidade da Semudes, Maria Augusta Buttendorf, existe uma parceria entre o município e o Poder Judiciário em relação às medidas aplicadas aos homens, como quando eles precisam participar de grupos de atendimento e orientação quando são denunciados por algum tipo de violência doméstica. Neste trabalho, 110 homens autores de agressões receberam atendimento entre outubro de 2014 e outubro de 2015.

Tragédias que podem ser evitadas

Apesar de ser um crime grave, o feminicídio pode ser evitado pois dá sinais de que pode acontecer, explica a advogada Rafaela Contezini, que trabalha com orientação para mulheres. Segundo ela, é possível identificar um relacionamento abusivo antes mesmo dele chegar ao ponto da agressão física: ciúmes, controle excessivo, isolamento dos amigos e restrições no ambiente de trabalho são só alguns dos sinais.

Deixar a situação também tende a ser um problema, já que a mulher precisa buscar ajuda e muitas vezes se sente acuada. Para a advogada, se a violência já é física a vítima deve procurar o auxílio das autoridades e órgãos competentes. Mas quando ela consegue perceber o abuso no início, existem outros caminhos:

– Eu aconselho orientação psicológica, mas também o uso das medidas judiciais, já que a chance de um crime é sempre maior se a mulher tem uma pessoa violenta do lado.

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A diretora de Proteção Especial de Média Complexidade da Secretaria de Desenvolvimento Social, Maria Augusta Buttendorf, explica que quando os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) identificam um caso de violência doméstica é iniciado um acompanhamento específico e, dependendo da situação, a própria secretaria faz o encaminhamento da mulher para o serviço de acolhimento e atendimento específico para evitar desfechos trágicos.

Denuncie

– Central de Atendimento à Mulher: 180

– Polícia Militar: 190

– Disque-denúncia Polícia Civil: 181

Marcha pela Vida

O Coletivo Feminista Casa da Mãe Joana, de Blumenau, faz nesta terça-feira uma marcha para pedir o fim do descaso do poder público com os casos de violência contra a mulher. A concentração será na escadaria da catedral São Paulo Apóstolo, a partir das 18h. A marcha sairá às 19h, seguirá até o Parque Ramiro Ruediger e continua até a Delegacia da Mulher.