A Kafka Edições, editora capitaneada pelo escritor e editor Paulo Sandrini, deu mais dois importantes passos na difusão da obra do escritor catarinense Manoel Carlos Karam (Rio do Sul, 1947 – Curitiba, 2007) com a publicação de Um Milhão de Velas Apagadas e Godot É uma Árvore. Karam (que já venceu o finado Prêmio Cruz e Sousa) tem uma casa de leitura e um prêmio com seu nome no Paraná, mas pouco espaço aqui no Estado. Para quem quer iniciar na obra do mestre, indico os inventivos Cebola e Encrenca, livros divertidos e provocadores que fizeram a cabeça de importantes escritores brasileiros.

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Uma reflexão sobre o janeiro dos catarinenses

“Além de gênio da música, David Bowie era um grande leitor”

London calling

É difícil encontrar os livros da independente Rádio Londres em Santa Catarina: poucas livrarias vendem os títulos desta editora que completa um ano de existência neste janeiro. Capitaneada pelo italiano radicado no Brasil Gianluca Giurlando, leva esse nome para homenagear a estação de rádio clandestina da resistência, que operou entre 1940 e 1944 na França ocupada pelos nazistas. Alguns dos melhores livros traduzidos no Brasil em 2015 levam o selo desta jovem editora, como Stoner (recomendo a edição em capa dura) do John Willians, o clássico latino-americano Viva a Música! do prodígio colombiano Andrés Caicedo e o cínico Estação Atocha do norte-americano Ben Lerner. Vale a pena insistir com seu livreiro (é importante fortalecer o mercado catarinense, principalmente as livrarias de rua, em extinção) para que ele solicite os títulos da editora.

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Obras raras da literatura de Santa Catarina em novas edições

Mozart e SC

O Festival de Música de Santa Catarina, o Femusc, em Jaraguá do Sul, foi palco no último sábado pela manhã do lançamento do livro A Flauta Mágica, do escritor e ilustrador jaraguaense Roberto Laznaster. A obra faz uma releitura do clássico de Mozart acrescentando pitadas brasileiras, como a presença de índios e criaturas mitológicas da Amazônia, e belas ilustrações do autor. A história inclusive está sendo adaptada para as telonas, em animação, pelo Escritório de Cinema. Lanznaster autografou cerca de 500 exemplares para os músicos do festival e leitores em geral (o livro recebeu recursos do Fundo Municipal de Cultura e foi distribuído gratuitamente).

Confira quatro novidades que já estão nas livrarias

Viva a música!

Em John Lennon em Nova York: Os Anos de Revolução, lançamento da editora Valentina, o jornalista norte-americano James A. Mitchell faz uma biografia ilustrada da era pós-Beatles. É um mergulho nos processos de criação da fase solo de Lennon e das suas relações com ícones da cultura americana. É também um olhar sobre o ativismo político de Lennon e as perseguições do FBI e do presidente Nixon, que tentaram deportá-lo ao se opor à Guerra do Vietnã. Recomendadíssimo.

Diário de um leitor

Pequenos Monólogos para Mulheres, de Afonso Nilson Barboza de Souza: joinvillense radicado em Florianópolis, o dramaturgo e pesquisador (faz doutorado na Udesc) em teatro Afonso Nilson apresenta seis monólogos curtos em que o protagonismo feminino é um grito lancinante. Da mulher que tatua o nome de seu amor na bunda e ao se arrepender prefere que ali esteja “uma enorme mancha negra, como uma nuvem de tempestade” à que trabalha cortando pescoços de galinhas (2 mil por dia), tudo neste livro converge para o mínimo, como manda a cartilha da boa dramaturgia.

“Minha Luta”, o controverso livro de Hitler, terá novas edições

Tirza, de Arnon Grunberg: certamente o grande lançamento de literatura estrangeira no Brasil do ano passado. É quase impossível largar as 460 páginas deste brilhante e sombrio romance do escritor holandês. O livro se centra nas obsessões de Jorgen, um editor de livros sem prestígio e habilidades sociais, e a doentia relação com a esposa vulgar e a filha mais nova, Tirza (Ibi, a mais velha, saiu das garras da família disfuncional tão cedo quanto pôde). Impressionante como o autor conseguiu retratar as esperanças e paranoias contemporâneas de uma família de classe média a partir das neuroses do patriarca, sem cair no lugar-comum ou ficar naquele eixo cansado “classe-média-sofre” de um Jonathan Franzen. A primeira parte, composta por 132 páginas, é simplesmente estonteante e prepara o leitor para o final apoteótico e macabro. É um daqueles romances que te assombram por dias e dias após a leitura: um clássico contemporâneo.

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