Aglomerados embaixo do telhado do pequeno ponto de ônibus antes da ponte Adolfo Konder, no Centro de Blumenau, homens e mulheres dividiam a sombra do local enquanto esperavam pelos ônibus intermunicipais com destino à Indaial e Pomerode. As linhas que vão para as cidades vizinhas acabaram sendo a salvação de blumenauenses que ainda enfrentam dificuldades para se deslocar pela cidade.
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Ignorada pela maioria dos motoristas que, sozinhos em seus carros, seguiam o fluxo da via, a cena chamou atenção de Veridiana Harmel. Com o banco do carona vazio, a autônoma parou no corredor de ônibus, esticou o braço até a porta, baixou o vidro e perguntou sorrindo:
– Alguém vai para a Itoupava Central?
A pergunta inesperada demorou a ser respondida. A carona solidária, apesar de ser incentivada pela prefeitura e amplamente divulgada nas redes sociais após a extinção do contrato de concessão do Consórcio Siga, ainda é uma prática pouco comum entre os condutores da cidade.
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De uniforme azul, uma moça loira disse timidamente que precisava passar pela 2 de Setembro. Com medo de ser multada pela Guarda de Trânsito por estar parada na via de rolamento, Veridiana prontamente abriu a porta para a jovem, até então desconhecida.
– Mudei um pouquinho o meu trajeto, mas deixei ela na frente do trabalho. As pessoas ficam com receio de aceitar ou dar a carona porque não se conhecem, mas eu pensei ‘poxa, porque não?’. Já dependi muito de ônibus e sempre pensava como seria bom ganhar uma carona. Agora que eu posso, tento ajudar. É gratificante – relatou Veridiana.
Dúvidas marcam primeiro dia do transporte alternativo
A passageira de Veridiana poderia ter pego uma das vans ou ônibus cadastrados no transporte alternativo da cidade. Mas, assim como ela, muitas outras pessoas não sabiam como o serviço, que começou a operar oficialmente nesta terça-feira, funciona.
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Lançado pela prefeitura como uma medida paliativa para amenizar os transtornos causados pela falta de ônibus regular, o cadastramento do serviço alternativo teve 14 interessados. Com itinerários previamente acordados com o Seterb e sem escalas fixas _ os veículos podem rodar a qualquer hora, desde que seja das 6h às 20h, e não podem cobrar mais de R$ 4 pela tarifa _, a prefeitura também liberou os motoristas a fazerem pequenos desvios de rota para atender o máximo de passageiros possível.
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As facilidades, que numa primeira análise soam negativamente para quem depende do transporte, garantiram a volta para casa de Ingrid Aquino Nunes, 21 anos. Na rua desde às 6h, a jovem, que precisava fazer o exame admissional para o cargo de auxiliar administrativo, iria voltar para a casa andando se não fosse o motorista do micro-ônibus Valmir Roncáglio, de 50 anos, mudar o itinerário _ com destino final no bairro Água Verde _ e deixá-la na Vila Nova.
– Eu já estava há duas horas no ponto. Decidi esperar, mesmo sem saber se ia conseguir embarcar, porque se fosse para voltar a pé, levaria mais de uma hora – revela Ingrid, que só conseguiu chegar ao Centro de manhã porque conseguiu uma carona.
Diferente de Ingrid, Miriam Prate, de 58 anos, que precisava ir para a Rua Bahia, optou por embarcar no ônibus que seguia para Indaial. Sem saber de onde saíam e para onde iam as vans do transporte alternativo, a dona de casa não arriscou:
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– Ele só vai de terminal em terminal, né? – questionou enquanto esperava o intermunicipal da viação Rainha na Avenida Beira-Rio.
O Seterb, através da assessoria de imprensa, reconhece que o funcionamento do serviço não é o ideal, mas ressaltou que esta medida foi adotada para atender uma pequena demanda diante da dimensão do município.