O clima de tensão na nova área usada pela Ocupação Amarildo no Norte da Ilha, que iniciou domingo à tarde, se estendeu pela madrugada. Policiais militares afirmaram que moradores das proximidades do terreno localizado no Rio Vermelho, na SC-406, discutiram com integrantes do movimento nesta segunda-feira e foi preciso a intervenção policial para controlar a situação.

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Por volta das 8h30min, chegou no local a Tropa de Choque da Polícia Militar (PM). A população local promete um novo protesto contrário à ocupação que iniciou na madrugada de domingo.

Segundo os policiais, as duas viaturas do Choque estão no local para garantir a integridade física dos ocupantes e dos moradores que não concordam com a situação.

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Chegada de vans acirrou ânimos

A chegada de duas vans da Ocupação Amarildo acirrou os ânimos de moradores e policiais na área. Os veículos carregavam 12 pessoas e estacionaram na região do terreno da SC-406 perto das 23h.

Os automóveis chegaram no momento em que a situação começava a ficar mais calma. O coronel João Henrique Silva, da PM, chegou a ir embora mas precisou retornar às pressas após ficar sabendo do fato.

A PM tentou impedir a entrada dos integrantes no terreno e houve um princípio de confusão. As malas ficaram do lado de fora enquanto as vans eram identificadas. Foram encontradas irregularidades nos veículos, algumas infrações de trânsito, e a Polícia Militar Rodoviária autuou os dois motoristas. Um dos transportes tinha sinalização de “van escolar” na lateral.

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Tensão crescente

Na hora em que os passageiros começaram a descer dos veículos, um membro da ocupação teria agredido um policial que estava tentando impedir a entrada de novos integrantes. O rapaz recebeu voz de prisão, mas aproveitou a escuridão para se misturar aos demais. A polícia pede que os próprios integrantes apontem o culpado. Ninguém havia se apresentado até a meia noite desta segunda-feira.

Mais cedo, por volta de 20h30min, um membro da ocupação também foi atingido, na testa, por uma pedra arremessada do lado dos moradores. O pedreiro Márcio Laurindo Viana Machado, machucado na cabeça pelo objeto, passa bem e preferiu não registrar Boletim de Ocorrência. Pouco antes, outra pedra havia trincado o vidro dianteiro de um veículo da Polícia Militar. A pedra teria partido do lado dos moradores. Ninguém foi identificado e responsabilizado por estas ações.

Moradores da região, que protestam contra a ocupação na rodovia SC-406 desde o meio da tarde, mantém a vigília diante do terreno ocupado. A manifestação chegou a reunir 40 pessoas e instrumentos de percussão foram levados ao local. Eles ameaçavam trancar a rodovia e incendiar o acampamento.

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Responsáveis não permitem ocupação

O terreno no Rio Vermelho, no Norte da Ilha, pertence à União e é cedido à fundação Lar Recanto da Esperança. A PM tem em mãos um e-mail assinado pela diretoria da fundação, pedindo providências ao poder público e afirmando que não autoriza a ocupação. Segundo o major Fábio Matos de Melo, entretanto, a polícia não recebeu ordens para retirar ninguém.

A área pertencia ao traficante carioca Paulinho da Matriz e hoje abriga um centro de tratamento para dependentes químicos. A diretoria do Recanto da Esperança não foi localizada pela reportagem.

Ocupação cercada de polêmicas

O deslocamento das pessoas que acampavam na região do Morro dos Cavalos, em Palhoça, começou durante a madrugada deste domingo. De acordo com um dos líderes da ocupação, Rui Fernando, o acampamento no terreno em Palhoça era provisório e eles aceitaram a transferência da SC-401 para lá apenas para evitar que algo mais grave acontecesse, comprometendo a integridade das famílias.

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As famílias começaram a deixar o terreno ocupado na SC-401 na última terça-feira. Elas foram realocadas para uma área próxima ao Morro dos Cavalos, no bairro Maciambu, em Palhoça.

Porém, a proprietária dessa área afirmou que não permitiu a ocupação. O imóvel da mexicana Rocío Delfín foi alugado pelo padre Luiz Prim em 2008 e ele que teria deixado que a região fosse usada com acampamento provisório.

A área de Morro dos Cavalos foi reconhecida pelo Ministério da Justiça em 2008 como terra indígena. Por isso, Rocío espera o desenrolar da questão para vender o imóvel ou receber a indenização do governo federal. Além disso, ela e seu ex-marido disputam a propriedade do terreno em um processo que tramita na Vara de Família do Fórum de Palhoça.

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O Conselho Indigenista Missionário Regional Sul (Cimi Sul) divulgou uma nota no dia 19 de abril, Dia do Índio, em que condenava a ocupação do terreno em Palhoça – reivindicada por eles como terra indígena Guarani. No texto, eles dizem que a transferência do acampamento pelo governo estadual e federal é um ato de violência contra os Guarani. O Conselho também afirmou se solidarizar com os integrantes do acampamento, “que dignamente lutam por terra, moradia e justiça”.