Proprietária do terreno para onde os integrantes do acampamento Amarildo de Souza foram transferidos na última terça-feira, a arquiteta Rocío Delfín, 64 anos, garante que não autorizou a ocupação. O imóvel foi alugado pelo padre Luiz Prim em janeiro de 2008 para o funcionamento de um centro de recuperação para dependentes químicos – o inquilino é quem teria permitido que a área fosse usada para acampamento provisório.
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Rocío mora no México e de lá acompanha o caso. Acionou o advogado da família para ingressar com processo de reintegração de posse e prevê romper o contrato de locação. A arquiteta reclama que sequer foi comunicada da decisão. Ela soube do caso por ex-vizinhos brasileiros. E afirma que desde então tenta ligar para o padre e ele não atende os seus telefonemas.
Rocío morou por 17 anos em Palhoça, no terreno de 7,5 hectares localizado na região de Morro dos Cavalos e que hoje é ocupado por cerca de 350 famílias. Saiu de lá quando decidiu voltar ao México, seu país de origem. Ela esperava o desenrolar das questões indígenas (a área de Morro dos Cavalos foi reconhecida pelo Ministério da Justiça em 2008 como terra tradicional indígena) para vender o imóvel ou receber a indenização do governo federal.
Rocío e o Instituto Kairos, representado pelo padre Luiz Prim, assinaram contrato de cinco anos. Após o vencimento, em janeiro de 2013, houve prorrogação por mais três. Caso uma das partes queira quebrar o acordo, basta comunicar a decisão com três meses de antecedência. E é exatamente o que a mexicana pretende fazer.
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Advogado aguarda decisão de juiz até terça-feira
O imóvel já é instrumento de ação judicial. A arquiteta discute a propriedade de 100% do terreno com o ex-marido, em um processo que tramita na Vara da Família do Fórum de Palhoça. Na quarta-feira o advogado de Rocío, Márcio Roberto Paulo, informou isso ao juiz envolvido no caso sobre a ocupação. Ele aguarda por uma decisão já na terça-feira, primeiro dia útil da semana que vem. Caso não tenha resposta, vai ingressar com processo de reintegração de posse.
– Vamos investigar se foi o padre Prim quem promoveu esta mudança. Se isso se confirmar pode caracterizar má-fé e tentativa de se apropriar de um imóvel que não é dele – diz o advogado da mexicana.
“Se ele tivesse me falado, eu não autorizaria”
Rocío Delfín mora com a filha e o neto em um apartamento alugado em um bairro de classe média em Xalapa, capital do Estado de Veracruz – a 350 quilômetros de Cidade do México. Ela soube da ocupação por uma mensagem de celular, enviada por um ex-vizinho brasileiro. A notícia veio em um momento difícil, enquanto acompanhava a filha em um procedimento cirúrgico. Por telefone, ela contou ao Diário Catarinense que o padre não atende as suas ligações e disse que teme pela perda de seu único imóvel.
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Diário Catarinense – O padre Prim falou com você antes da ocupação?
Rocío Delfín – Ele não falou e se tivesse falado eu não teria autorizado. Nós tínhamos um contrato de aluguel que já havia até vencido. E este contrato era para que no local funcionasse um centro de tratamento para dependentes químicos e não para assentar pessoas. Eu tentei falar com ele quando soube que haveria invasão e ele não me atendeu. Parece que ele está fugindo de mim.
DC- E o que você pretende fazer?
Rocío – Entrei em contato com o meu advogado para que retome a área. E se precisar ir ao Brasil eu vou. Estou assustada, esse imóvel é o único bem que eu tenho, é a garantia do futuro do meu neto de sete anos, que é brasileiro e mora comigo aqui no México. Estava esperando as questões indígenas se resolverem para poder vender ou receber indenização. E com certeza vou romper o contrato de locação. Não confio mais no padre.
DC – Como você tem acompanhado o caso aí do México?
Rocío – Tenho amigos e ex-vizinhos que estão em contato comigo. Tem também o advogado que já atuava em uma ação de família e vai me representar neste caso. Além de eu me informar pela mídia. Disseram em uma notícia que eu era milionária e que havia cedido o terreno. Não sei de onde saiu esta história. Até agora eu não havia falado com ninguém da imprensa. Tenho 64 anos, vivo de aluguel e trabalho duro para sustentar a minha filha, que é doente, e o meu neto. Só voltei do Brasil, onde tinha casa própria, porque não conseguia emprego.
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DC – Você pretende vir ao Brasil?
Rocío – Se precisar eu vou, mas é complicado custear passagens e deixar a minha família no México. A minha filha acabou de passar por uma cirurgia. Vou esperar o feriado e a resposta do meu advogado. Eu espero por uma atitude da Justiça brasileira.