O desenvolvimento de um país pode ser medido pela sua capacidade de garantir a cidadania a todos os sujeitos que dele participam. A máxima vale também para o espaço local. Dizer que uma cidade é o melhor lugar para se viver não passa de retórica quando, na prática, pessoas são excluídas do convívio social, seja por conta da sua origem social, condição econômica ou características físicas.

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Desde a redemocratização, uma série de avanços legais vem assegurando aos grupos historicamente marginalizados maior igualdade de oportunidades. Estatutos como os da Igualdade Racial, do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência buscam garantir direitos que reduzam a vulnerabilidade, dependência e preconceito a que estes grupos reiteradamente são submetidos. Ainda assim, o desrespeito, a intolerância e a ignorância são comuns em nossa sociedade, e andam em descompasso com o processo civilizatório que tanto defendemos.

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Exemplo deste descompasso é o lamentável episódio envolvendo uma família blumenauense que procura garantir ao seu filho com autismo o direito básico da educação. Após matriculá-lo em uma escola pública, alguns pais de alunos pressionam a família para que retire o menino da escola. Argumentam que estão preocupados com a integridade física e a qualidade da educação dos seus próprios filhos. O fato ganhou destaque na imprensa depois que a avó do menino foi agredida por uma mãe de aluno diante do estabelecimento de ensino, em represália ao fato da família insistir na matrícula. Violência bizarra que escancara a que ponto uma pessoa pode chegar quando tomada do preconceito e da ignorância.

Uma educação de qualidade ensina, em primeiro lugar, a convivência com a diferença. Uma educação de qualidade produz alteridade. Se é uma educação de qualidade que estes pais, que hoje insultam, agridem e discriminam esta criança autista e sua família, buscam para seus filhos, então deveriam aproveitar esta oportunidade para estimular seus filhos a aprender com a diferença, contribuindo para a formação de sujeitos mais sensíveis à pluralidade humana. Se a escola atualmente não oferece condições adequadas para o convívio pedagógico entre os diferentes (e na maioria dos casos, não oferece), a luta deveria ser, justamente, pela construção destas condições, e não pela segregação daqueles que a sociedade ainda julga inadequados.

Quando famílias se reúnem para promover a exclusão de um menino autista (ou com outra subjetividade) do convívio escolar, prestam um enorme desserviço à formação humana dos seus filhos. E isto a sociedade não pode admitir.

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