“Brasil, pátria educadora.” Quantos vezes já ouvimos slogans especialmente criados para a educação brasileira? Vira e mexe aparecem-nos com um novo. Mudam-se slogans, mas nossa educação segue em seu mesmo ritmo de caramujo. Constroem-se prédios, pintam-se as paredes, pouco a pouco o quadro negro – “este pau-de-arara intelectual”, como diz Cristovam Buarque – vai sendo substituído por modernos projetores multimídia, mas a educação persiste em suas mesmas estruturas arcaicas, com suas caixinhas disciplinares, seus conteúdos obsoletos, sua rigidez disciplinadora e seus profissionais simbólica e financeiramente desrespeitados.
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A escola, tal qual ainda a conhecemos, é filha da fábrica, irmã do hospício e da penitenciária. Pink Floyd, na cada vez mais atual ópera-rock The Wall, já denunciara isto. O filósofo Michel Foucault, em Vigiar e Punir, também. A escola, e por extensão a educação que a legitima, é nossa bota ortopédica social.
Produto da sociedade em que se insere, a escola a reproduz. É para isto que foi criada, é por isso que se sustenta. Um novo modelo de escola implicaria em um novo modelo de sociedade. Daí a importância da dimensão política do professor, que a burocracia escolar busca sufocar.
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Para exercer sua dimensão política, o professor necessitaria de tempo livre e de liberdade para agir socialmente. Teria que recuperar sua condição de intelectual. Mas tempo livre e liberdade de ação é o que menos se permite ao professor. Tal qual nos monastérios, onde a oração preenche os espaços ociosos para afastar os pensamentos pecaminosos, nossa lógica escolar impõe ao professor normas, regulamentos, rotinas e critérios de avaliações que ocupam praticamente todo seu tempo e o obrigam a seguir como uma locomotiva antiquada pelos trilhos de uma lógica fabril.
Não é por acaso que os índices de adoecimento, principalmente os de sofrimento psíquico, acometem de forma assustadora os profissionais da educação. A mesma sociedade que os transforma em operários de uma linha de produção regulada por uma esteira exime-se das suas responsabilidades e joga sobre os ombros do magistério a responsabilidade de salvá-la. A escola, entretanto, não muda a sociedade, é a sociedade que muda a escola, e é isto que todos precisamos compreender.
Remunerar o professor de modo que este possa exercer sua profissão com tranquilidade e o mínimo de conforto pessoal é só o primeiro passo, e o mais fácil de ser dado. Desafio maior é permitir aos professores o tempo para a ociosidade criativa e condições de trabalho que substituam a disciplina fabril pelo delírio febril.