Não se constrói cidadania com leviandade. Cidadania é, acima de tudo, um ato de responsabilidade. Porque o cidadão sabe que seu comprometimento político tem consequências importantes para a sociedade em que vive. Exercer a cidadania não é como ir a uma partida de futebol para xingar o juiz. Claro, bom seria se nos aboletássemos nos estádios sequiosos por espetáculos de bom futebol. Não é o caso, entretanto. Pelo menos, não no Brasil, onde até privadas são lançadas sobre as cabeças dos torcedores do time adversário.

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A construção de uma sociedade cidadã é trabalho de gerações. Implica na compreensão da condição do outro. Uma tarefa difícil quando a maior parte de nós enfia a cara no individualismo mesquinho, como este, de bater panelas que só estavam vazias porque o hábito sempre foi jantar fora. Bater panelas, cidadão de pijama, só é moralmente lícito àqueles que têm fome. Estes, reconheço, não são poucos. Estes, reconheço, ainda são uma multidão. Mas não é por causa destes que no último final de semana bateram-se panelas em algumas janelas. A estes, que têm fome, costuma-se dizer, “aprenda a pescar”. Estes, que têm fome, assam calangos pendurados em gravetos. Estes, que têm fome, não moram em apartamentos.

Então não sejamos hipócritas. Falemos honestamente. A honestidade para com o coletivo é condição para a cidadania.

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Não bati panela. Nunca bati panela. Espero jamais precisar bater panela. Este é um direito que me cabe, como coube a muitos, devidamente jantados, batê-las das suas janelas. Felizmente a ditadura foi execrada. Aquela ditadura que as marchas da família com Deus pela liberdade legitimaram. Duraria pouco, diziam. Os militares fariam uma breve transição, e entregariam o poder. Entregaram, 21 anos depois de aplicarem o golpe. Se ainda vivêssemos naquela ditadura, bater panelas seria considerado crime contra a nação. Claro que sim, se até imprimir um panfleto no mimeógrafo já dava pau-de-arara!

O problema é que muitos destes que bateram panela no último domingo, prometem estar na manifestação do próximo. O que pedem? O fim da corrupção? Impeachment da presidenta? Os militares no poder, como em 1964? O direito a andar de carro rebaixado?

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Se querem o combate da corrupção, por que pedem o impeachment da presidenta? Quem está à frente do Senado, da Câmara? Se em 7 dias os “petralhas” inventaram o mundo, então por que o Partido Progressista aparece com o maior número de parlamentares citados na lista da Lava-Jato?

Um cidadão aprende a fazer perguntas antes de levantar bandeiras e de bater panelas. Um cidadão tem clareza das consequências dos seus atos.