O Food Truck, informou-me o sujeito, é um festival gourmet. Coisa chique! Eu juro que não sabia.
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Para mim, comer cachorro-quente na Kombi do Zé sempre foi uma espécie de êxtase gastronômico, até porque o esquema lá é confortável. O Zé disponibiliza umas poltronas de plástico em que você senta como um rei. Nada de comer em pé, porque comida é coisa para se apreciar com vagar. Só lanche muito ruim, ou muito pequeno, merece ser devorado em estado bípede. Não é o caso.
O cachorro-quente da Kombi do Zé é quase uma cesta básica. E tem mais, como o catchupe e a mostarda são livres, sobra guardanapo para limpar o grosso da lambuzeira e palitos de dentes para a higienizinha bucal básica.
O problema é que o Zé não se chama Jack, e a Kombi dele não tem ar de Truck. Não tem grife. A Kombi do Zé é uma espécie de vira-lata da gastronomia local. Eu, particularmente, prefiro assim. Pago o preço justo, saio com minhas lombrigas dançando um samba animado e, o melhor de tudo, sem escoriações pelo corpo.
Tudo bem fazer um festival de carros de comida. O Zé, que serve o melhor cachorro quente do Vale do Itajaí, não estava lá. Mas não há dúvidas de que, sob a perspectiva dos organizadores, o evento foi um sucesso. Uma verdadeira multidão acorreu para a Vila Germânica, sequiosa por trocar seus reais por “Truck Money”, tirar selfies em filas quilométricas e comer as tais iguarias. Estar na moda é cool, e a moda agora é “food truck”.
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O que mais me incomoda nesta história toda, é perceber o quão carente Blumenau está de eventos que promovam lazer e alternativas de renda local, bem como de políticas públicas capazes de planejar uma cidade que seja interessante e provocadora para seus cidadãos. Vive-se do senso de oportunidade de uns e outros ou de promoções esporádicas que pouco agregam à identidade local e apenas contribuem para tornar a cidade mais parecida a tantas que conhecemos por aí.
Claro, há as exceções, como é o caso da Feirinha da Servidão Wollstein, que todos os meses movimenta a região central através de uma iniciativa singela e democrática que valoriza as cores locais. Ninguém precisa de pedigree para participar dela, tampouco realizar pagamentos em Truck Money. A Feirinha, entretanto, ainda é a exceção.
Ver o povaréu se acotovelando em torno de alguns carros de comida reunidos no pátio da antiga Proeb causa pena. Chamar este evento de inovador, como vi muitos afirmando, beira o despropósito. Bom seria se o “Food Truck Festival” fosse apenas mais uma opção, ofuscada por outras melhores. Mas isto já seria esperar demais.
Ou não?