Na mesma hora em que o corpo de Eli Heil chegava para ser velado à capela mortuária da igreja Nossa Senhora das Necessidades, em Santo Antônio de Lisboa, tinha início ao lado missa em festejo ao Divino Espírito Santo, na noite do último domingo, dia 10. Pode ser apenas coincidência, mas para quem conheceu a obra da artista, tão cheia de simbologias e significados, os fogos de artifício e a música tocada em celebração ao Espírito Santo, de quem ela era tão devota, não foi mero acaso. Não à toa, ela mesma contava, certa vez um pássaro pousou em seu telhado…
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Ícone das artes de SC, Eli Heil morreu no dia 10 de setembro, aos 88 anos, depois de duas paradas cardíacas. Sua morte comoveu artistas, intelectuais, críticos e admiradores de uma obra considerada única, incomum e inclassificável. O enterro ocorreu às 16h.
A artista Jandira Lorenz, amiga e pesquisadora da obra de Eli, conta que em junho passado, quando foi visita-la, a artista mostrou os trabalhos que estava fazendo: desenhos feitos em canetas coloridas. Comentou estar finalizando uma série.
— Eu conheci Eli quando fui fazer minha dissertação de mestrado. Eu a procurei e ela abriu as portas de casa. Mostrou as obras e eu me apaixonei, senti que ali poderia desenvolver o meu trabalho. A procurei muitas vezes, escrevi cadernos e cadernos e pude conhecer a obra dela: grafite, pintura, escultura, cerâmica. É uma artista incansável, dominada pela verve artística. Vivia consumida pelo ato criador, mas era esse mesmo ato que a sustentava também — comenta Jandira.
Durante o velório, amigos e parentes prestaram as últimas homenagens, e comentaram que a arte de Eli Heil brotava sem polimentos ou refinamentos posteriores acadêmicos. Ela era uma fonte de água pura e limpa.
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Emocionado, o filho José Pedro falou do carinho que ela tinha pela comunidade de Santo Antônio de Lisboa, bairro que escolheu para construir o museu O Mundo Ovo, inaugurado em 1987, e onde o corpo foi enterrado, junto ao do marido.
— Em 2012, ela foi tema do bloco Baiacu de Alguém. Foi uma homenagem linda, parecia uma escola de samba. Ela tinha saído do hospital havia 10 dias e, mesmo debilitada, participou — lembra, emocionado.
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