Autodidata e respeitada por ter desenvolvido uma expressão própria e única no meio das artes, a catarinense Eli Heil é reconhecida como uma das principais artistas plásticas do Brasil. Sua produção foi marcada pela variedade de materiais e métodos utilizados, de cerâmica e cimento a plástico derretido, e chegou a ser classificada como “incomum” na XVI Bienal de São Paulo, em 1981. Morta neste domingo em Florianópolis, aos 88 anos, Eli foi voar com o pássaro colorido que ela diz ter pousado em seu telhado certa vez e que virou uma das principais esculturas de seu O Mundo Ovo, uma espécie de museu e ateliê que abriga suas obras em Florianópolis. Relembre dez momentos marcantes da trajetória da artista:
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1962 – O começo de tudo
Nascida em Palhoça, Eli começou a pintar somente aos 33 anos. Acamada por causa de uma doença, ganhou do irmão Rubens Diniz um quadro. “Isso eu também faço”, disse ela, à época. Autodidata, começou o que chamava de “vômitos de criações”, inventando e explorando novas técnicas – foram cerca de 200, como esculturas em argila e em cimento colorido, recuperação de garrafas plásticas que ela derretia em seu fogão de cozinha, entre tantas outras.
1963 – Primeira exposição individual
A primeira individual aconteceu logo após Eli ter começado a se aventurar no mundo das artes. Em maio de 1963, foram expostas telas e desenhos no Instituto Brasil Estados Unidos de Florianópolis, com apresentação do irmão Rubens Diniz. Em julho, ocorreu a primeira individual no MAMF (atual Masc). Na ocasião, o crítico e historiador de arte João Evangelista de Andrade Filho publicou pela Universidade Federal de Santa Catarina a monografia Eli Heil, uma pintora. Em dezembro, foi a vez da primeira exibição fora de Santa Catarina, na Aliança Francesa de Brasília.
1966 – Revelação
Neste ano, Eli Heil teve obras expostas no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Na época, o diretor Walter Zanini escreveu no catálogo: “Não temos dúvida em considerá-la como a maior revelação de nossa arte de intuição primitiva destes últimos 20 anos”.
1978 – Primeira Bienal
Mito e Magia na Arte Catarinense: Eli Heil e Franklin Cascaes foi apresentada na I Bienal Latino-Americana de São Paulo, na Fundação Bienal de São Paulo. Eli Heil foi colocada como um destaque nacional e Franklin Cascaes, quando soube que sua fotografia estava no mesmo catálogo de Eli, reclamou que sua obra merecia um catálogo individual e insultou a artista, chamando-a de analfabeta.
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1981 – XVI Bienal de São Paulo
Eli Heil expõe 17 obras na mostra de Arte Incomum, que teve curadoria internacional de Victor Musgrave e nacional de Annateresa Fabris. Seu trabalho foi classificado como “art brut”, ou incomum, termo criado nos anos 1970 pelo crítico inglês Roger Cardinal para definir artistas que desenvolvem vocabulário e técnicas próprios.
1982 – 20 anos de Pintura
Em exposição individual, Eli Heil celebrou seus 20 anos de carreira em mais uma mostra no Museu de Arte de Santa Catarina, em Florianópolis.
1994 – Reconhecimento na França
Neste ano, foi inaugurada a sala permanente de Eli Heil na Coleção Ceres Franco, em Lagrasse, no Sul da França. Ceres Franco, uma marchand brasileira ativa na França, promoveu diversas exposições na Europa desde o final da década de sessenta, incluindo em algumas delas obras da artista catarinense. Em 1972, trabalhos de Eli Heil foram expostos na III Triennale de L’Art Insitic, em Bratislava, antiga Tchecoslováquia, em exposição com curadoria de Ceres. Décadas depois, em 2004, foi a vez da mais significativa delas, a Coletiva Désirs Bruts, no Espace Culturel André Malraux, em Paris.
1987 – O Mundo Ovo
A artista cria O Mundo Ovo de Eli Heil, em Florianópolis, onde monta seu ateliê e um espaço para exibição permanente de sua produção. Até então, ela vendia suas criações com parcimônia, mas decide realizar uma série de treze painéis para vender e arrecadar dinheiro para o projeto, que marcou seus 25 anos de carreira artística. O local foi inaugurado no dia 7 de março, mas só em agosto de 1993 foi instituída a Fundação O Mundo Ovo de Eli Heil, para preservar e divulgar a obra da artista.
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1996 – A derrubada de Adão e Eva
Durante a duplicação da SC-401, um episódio marcou para sempre a artista. Apesar de uma campanha pública ter tentado mudar o projeto, tratores derrubaram as esculturas de Adão e Eva que ficavam na entrada do museu O Mundo Ovo de Eli Heil. Eram duas obras em cimento colorido e com mais de três metros de altura, que simbolizavam a criação de seu mundo e recepcionavam os visitantes desde 1987. Depois, a artista criou um cemitério metafórico para abrigar o que sobrou das obras e manifestou seu desejo de ser enterrada ali, junto.
2014 – Eli Heil, 85 anos
A maior retrospectiva de sua carreira, com cerca de 200 pinturas e desenhos, alguns deles inéditos, marcou o aniversário de oito décadas e meia da artista. Com curadoria de Ylmar Corrêa Neto e Adriano Pauli, foi a sua 15ª mostra individual na instituição, onde também participou de cerca de 40 coletivas. Eli Heil é a artista mais representada dentro do acervo do Masc, com 53 obras.
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