É normal, é comum até, ter medo da morte e não querer se preocupar com esse assunto ainda em vida. Mas há uma decisão que, se tomada por uma só pessoa durante a vida, pode ajudar a salvar ou, ao menos, melhorar a saúde de outras dezenas: a doação de órgãos e tecidos. Por isso, é importante que quem pretende ser doador na morte informe seu desejo aos familiares.

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Nesta Semana, o Jornal A Notícia divulgou que Santa Catarina aumentou em 86% o total de transplantes de órgãos e tecidos realizados em uma década. Somente neste ano foram 864 procedimentos entre os meses de janeiro e setembro. Esse total já ultrapassa 70% das intervenções realizadas ao longo do ano passado e indica que até dezembro a marca dos mil transplantes deve ser superada pelo oitavo ano seguido no Estado, hoje referência nacional em doações de órgãos.

A evolução dos números é explicada pela adoção de uma política estadual na área e pelo altruísmo dos catarinenses. Mas apesar do avanço sentido na última década, ainda há muito a ser feito. Com o intuito de tirar as dúvidas sobre doação de órgãos, AN Elaborou perguntas e respostas comuns sobre o tema, confira:

O QUE É A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS?

É o ato de permitir que uma ou mais partes do corpo (órgãos ou tecidos), em condições de serem aproveitadas para transplante, sejam retiradas de um paciente após sua morte para que possam ajudar outras pessoas. No caso dos órgãos, o transplante precisa ser feito horas após o falecimento para que seu funcionamento no receptor não seja inviabilizado. Em alguns casos, a doação também pode ser feita em vida.

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COMO SER DOADOR?

O ideal é manifestar a vontade de doar e informá-la à família. Não adianta deixar o desejo expresso por escrito nem um registro ? mesmo gravado em vídeo ou declarado em uma rede social, por exemplo. A decisão final é dos familiares: são eles que definirão se e quais órgãos e tecidos serão doados. Por isso, é fundamental que os doadores deixem seu desejo claro para os parentes.

QUANDO A DOAÇÃO É POSSÍVEL?

Não é qualquer tipo de morte que viabiliza a doação. Para que os órgãos possam ser transplantados, é preciso que sejam retirados enquanto o coração ainda bate artificialmente – o que só é possível em casos de morte encefálica, quando todas as funções do cérebro param de maneira completa e irreversível. Essa é a definição legal de morte. Quando cessam todas as funções neurológicas, o organismo é mantido ?vivo? com a ajuda de aparelhos. Como ainda há uma pulsação e o corpo ainda está quente, há dificuldade de os familiares entenderem que aquela pessoa não vai voltar. E a negativa familiar diante de situações como essa é a principal causa que impede a doação de órgãos. É por isso que, apesar do grande número geral de mortes, a quantidade de possíveis doadores, especialmente de órgãos, é baixa.

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QUAIS OS CRITÉRIOS PARA DOAÇÃO?

Há critérios de seleção destinados a impedir que órgãos pouco saudáveis sejam utilizados em transplantes. A idade não costuma ser um deles: crianças e idosos podem ser doadores, assim como qualquer pessoa que tenha tido a morte encefálica confirmada. Mas a causa da morte e o tipo sanguíneo do doador, entre outros fatores, ajudam a definir quais partes de um corpo poderão ajudar outras pessoas. No Brasil, só há restrição absoluta à doação de órgãos por parte de pessoas com aids, com doenças infecciosas ativas e com câncer. No entanto, indivíduos com alguma doença transmissível podem doar para pacientes que tenham o mesmo vírus, como no caso das hepatites.

QUEM PODE SER DOADOR?

Qualquer pessoa que sofreu morte encefálica e, no caso da doação de córneas, parada cardíaca. Fatores como idade e condição física influenciam na possibilidade de doar ou não. Também é possível ser doador ? em vida ? de rim, medula óssea e parte do fígado ou do pulmão para um familiar. A Lei dos Transplantes determina que só pode ser doador vivo o cônjuge ou a pessoa com até o quarto grau de parentesco com o paciente. Nos demais casos, é necessária autorização judicial, exceto na doação de medula óssea. Só é permitida a doação em vida de órgãos duplos ou de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não comprometa o doador.

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QUEM RECEBE O ÓRGÃO?

Os pacientes que estão na fila, controlada pela Central de Transplantes do Estado. Além da posição na lista, pesa a compatibilidade entre doador e receptor. Caso não haja receptores no Estado, podem ser buscados pacientes em outras regiões.

QUEM É RESPONSÁVEL PELO PROCESSO?

A Central de Transplantes desloca equipes para realizar as operações.

QUANDO OCORRE A MORTE ENCEFÁLICA?

Em geral, a morte cerebral se dá por traumatismo craniano, acidente vascular cerebral (AVC), alguns tumores e por hipoxemia, a falta de oxigênio no sangue.

O QUE ACONTECE COM O DOADOR?

Depois de a família autorizar a doação dos órgãos, o corpo passa por uma coleta de sangue. São verificadas as condições de saúde do doador, incluindo se ele tem HIV, hepatites B e C, sífilis, doença de Chagas, citomegalovírus e toxoplasmose, entre outros. Se os exames apontarem condições boas para a doação, inicia-se a cirurgia de retirada dos órgãos e/ou tecidos. O procedimento dura algumas horas. Caso a morte tenha decorrido de causa não natural, como vítimas de violência, o corpo segue para o Instituto Médico Legal (IML) e é submetido a uma necropsia. Antes, porém, a polícia pode concordar ou não com a retirada de órgãos.

APÓS A DOAÇÃO, O CORPO FICA DEFORMADO?

Esse é um dos mitos sobre a doação. Após a cirurgia, a equipe médica recompõe o corpo do doador, que não deve ficar deformado, permitindo que a família providencie um velório tradicional, se for esse seu desejo. O objetivo da equipe médica é liberar o corpo em até 12 horas, mas esse tempo pode variar.

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O QUE FAZER PARA SER UM DOADOR?

O fundamental é avisar a família, que deve assinar o tempo de consentimento.

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COMO SER DOADOR DE MEDULA?

– Vá a um hemocentro ou unidade de coleta de sangue. Em Santa Catarina, há opções em Florianópolis, Lages, Criciúma, Joinville, Joaçaba, Chapecó, Tubarão, Jaraguá do Sul, Canoinhas e Blumenau.

– Há também coletas externas. Confira endereços e calendário no site do Hemosc.

– O voluntário assina um termo de consentimento, preenche um cadastro e retira uma pequena quantidade de sangue para ter as características genéticas analisadas em laboratório.

– Os dados vão para o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).

– Quando houver um paciente compatível você será consultado para decidir quanto à doação. Por isso, mantenha os dados atualizados.

– Após novos exames, o doador é considerado apto. O que mais dificulta é a compatibilidade, as chances de o paciente encontrar um doador são de 1 em cada 100 mil pessoas, em média.

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Tempos para a realização do transplante, a partir da confirmação por morte encefálica: