Há mais de dez anos consecutivos, Santa Catarina lidera o ranking em doação de órgãos no Brasil, com o índice de 40,6 doadores por milhão de pessoas. Neste período, houve uma queda de quase 70% na lista de espera por um órgão.

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Maior cidade do Estado, Joinville é a que mais realiza transplantes: no ano passado, foram 28 captações e, nos primeiros seis meses de 2018, 20. São estes números que trazem esperança para pacientes como a baiana Lucélia da Silva Gama.

Ela estava na maior fila de todas: a de transplante de rins. Em 2018, por exemplo, das 32 mil pessoas à espera de um transplante de órgãos, 21 mil estão à espera da cirurgia para transplante renal.

Conheça a história de Lucélia da Silva Gama

A baiana Lucélia da Silva Gama, 41 anos, precisou adiar os sonhos por tempo demais. Aos 30 anos, ela havia se mudado para a Espanha com o sonho de trabalhar e viver no país quando começou a sentir cansaços inexplicáveis, dificuldades para respirar e retenção excessiva de líquidos. A menstruação também atrasou, e foi quando o sonho esbarrou no preconceito. Ao procurar um médico, teve a consulta limitada à certeza de que o problema era sinal de gravidez.

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— Eu sabia que era impossível e expliquei que nem tinha namorado. Mas viam uma mulher latina e deduziram que eu estava lá para engravidar e conseguir a residência permanente no país. Então, só testaram o sangue para gravidez e, quando deu negativo, disseram que era “provavelmente” um problema hormonal — recorda ela.

Lucélia precisou retornar para o Brasil depois de apenas seis meses na Espanha. Ao chegar em Salvador, descobriu que o nível de plaquetas — que em uma pessoa saudável varia entre 150.000 e 450.000 por microlitro de sangue — estava tão baixo que ela corria o risco de ter sofrido hemorragia cerebral se o atendimento tivesse demorado mais tempo. O diagnóstico certo finalmente chegou: os sintomas eram causados pela falência de um dos rins.

Começava ali um processo de quatro anos e seis meses de hemodiálise e luta para que esse tempo não fosse perdido sem realizações e experiências felizes. Quando percebeu que na Bahia o transplante de rim nunca viria — os médicos nem chegaram a mencionar a possibilidade a ela —, Lucelia mudou para Minas Gerais.

Em Belo Horizonte, administrava o tempo para trabalhar, estudar e continuar o tratamento, mas, depois de dois anos na fila de espera, decidiu que era hora de uma medida drástica. Ela teria entre as consequências a perda da bolsa de estudos da faculdade de Assistência Social, mas ganhou a oportunidade de reacender os sonhos.

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— Soube por outros pacientes que em Joinville o tempo de espera era menor e vim sozinha para a cidade. Na época, havia mais ou menos uns 250 pacientes na minha frente, e mesmo assim eu fiquei só dois meses na fila — conta ela, que fez o transplante em 1º de maio de 2012.

Sozinha na cidade, Lucélia conheceu a Casa Padre Pio, que abriga pessoas de outras cidades que estão em Joinville para tratamentos de saúde. Depois do transplante, tornou-se voluntária na instituição. Agora, já formada como assistente social, ela é profissional contratada da casa de apoio.

— Meu plano para o futuro é me dedicar à minha carreira. Casar um dia, claro, e torcer para que a estimativa de tempo de vida do meu rim, de dez anos, seja superada — afirma.

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