A transferência às pressas no fim de semana de dois pacientes em estado gravíssimo do Hospital São José de Joinville para outras unidades reforçou a urgência de buscar soluções para um dos problemas crônicos na saúde pública: a falta de leitos de terapia intensiva.

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O número de vagas em unidade de terapia intensiva (UTI) nas 26 cidades da Central Regional de Regulação de Internação Hospitalar (CRRIH) deveria ser quatro vezes maior para atender ao que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Hoje, há 83 leitos de UTI disponíveis em cinco cidades e, de acordo com a OMS, o ideal seriam 330 leitos para cada 1 milhão de habitantes. Como nas 26 cidades atendidas pela central há pelo menos 1,3 milhão de pessoas, seriam necessários 429 leitos. Então, o déficit de leitos hoje é de 347 leitos na região.

Se considerada só a situação de Joinville, há apenas 51 leitos de UTI – 20 no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt; 14 no São José e 17 no Hospital Infantil Jeser Amarante Faria.

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O Hospital Bethesda tem, ainda, leitos considerados de retaguarda, que podem atender a pacientes graves, mas que não exigem toda a complexidade de uma unidade de terapia intensiva.

A Central de Regulação, como é conhecida entre os profissionais da saúde, começou a funcionar no ano passado e transformou a realidade das internações nas regiões Norte e Planalto Norte do Estado. Agora, não é possível mais falar que “Joinville tem 51 leitos de UTI” ou “os leitos de Joinville”.

Pela central, além dos leitos de terapia intensiva, é possível transferir pacientes de uma cidade para a outra de acordo com a especialidade médica, disponibilidade de recursos tecnológicos e, claro, vagas disponíveis. Assim, os pacientes de Joinville podem e devem ser transferidos, quando há necessidade, para outras cidades.

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-A partir de agora, tudo tende a passar pela regulação. É uma maneira de aproveitar melhor os recursos-, diz o coordenador da CRRIH, Jean Rodrigues da Silva.

Segundo ele, todos os leitos disponíveis ficam praticamente 100% do tempo ocupados. Joinville, por ter a maior demanda, tende a ser o ponto de partida para as decisões.

Agilidade na transferência

Nos dois casos do fim de semana – uma adolescente que levou 15 facadas de uma colega de trabalho na zona Norte de Joinville e um carpinteiro que teve as duas pernas e um braço decepados pelo trem, no bairro Jativoca – a agilidade da regulação foi fundamental para que ambos fossem transferidos com segurança.

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Antes da central, era comum os médicos e gestores dos hospitais ficarem literalmente “caçando” as vagas nos hospitais da região e do Estado. Agora, os leitos disponíveis ficam o tempo todo visíveis no sistema. Basta que haja uma negociação rápida entre as equipes. Mas a palavra final, sempre, é o acordo entre o médico e a família do paciente.

-Conseguimos três vagas para a adolescente em minutos. Mas a família não queria e não havia condições médicas para uma transferência para fora da cidade. Por isso, a opção mais indicada era a UTI do Infantil-, explica o coordenador do sistema.

No caso do carpinteiro, a situação era ainda mais complicada.

– Se não havia vagas na UTI com melhores condições para atender aquele tipo de caso, gravíssimo, a gente só poderia procurar na central de regulação do Estado. Por isso, ele foi para Florianópolis-, diz Jean.

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50 novas vagas estão previstas

Embora a OMS oriente por um número ideal – 330 leitos de UTI para cada um milhão de habitantes – especialistas e gestores consideram que aumentar radicalmente o número na região é inviável neste momento.

A melhor previsão para o aumento do número de leitos de UTI na região é a do Hospital São José, com a ativação do Complexo Emergencial Ulysses Guimarães II (Cedug II), que será equipado e concluído com os R$ 14 milhões repassados pelo governo do Estado.

A previsão é de que as obras fiquem prontas no segundo semestre de 2014. O prédio contará com 30 leitos de UTI, 12 leitos de internação, quatro salas cirúrgicas (anexas ao Centro Cirúrgico Geral já existente), andar exclusivo para Central de Material Esterilizado, casa de máquinas, reservatório próprio de água, além dos 47 leitos destinados ao pronto-socorro e do heliponto, que entraram em funcionamento no fim do ano passado.

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Para o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, há uma expectativa de abertura de outras 20 vagas. Em um encontro entre a secretária estadual de Saúde, Tânia Eberhardt, e o prefeito Udo Döhler, no fim do ano passado, a secretária e o prefeito retomaram a integração do sistema e anunciaram que, no começo deste ano, seriam abertos novos leitos de UTI.

Nesta terça-feira, a secretária reafirmou a intenção de levar o projeto adiante, mas as licitações devem ser refeitas e lançadas nos próximos dias.

– É muito difícil fazer 20 leitos de UTI sendo que temos uma série de obras estruturais. Vamos lançar as licitações para a enfermaria, as UTIs, as salas de cirurgia e as obras do centro de esterilização. Tudo de uma vez só. É a melhor maneira -, disse a secretária.

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No Hospital Infantil Jeser Amarante Faria, também há um projeto para implantação de mais leitos neonatais, mas ainda não há prazos ou previsão para que isso ocorra.

O anúncio para a ampliação do número de leitos no Regional foi feito logo após a morte de uma mulher por suspeita de gripe A. Ela precisou esperar por cerca de dez horas por um leito de UTI.

– Não vai resolver o problema. É importantíssimo ter mais leitos. Mas é importante as pessoas entenderem que, junto com a UTI, precisa mais leitos cirúrgicos, mais leitos de retaguarda. Se tivessem 300 a mais, seria um número fantástico, mas não é assim que funciona. A regra do jogo é trabalhar articulado, ceder para quem não tem-, explica o coordenador da Central de Regulação, Jean Rodrigues da Silva.

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Como funciona a Central de Regulação de Leitos

A Central de Regulação de leitos funciona como um grande Big Brother dos hospitais que estão conveniados. Uma equipe com 38 pessoas – médicos e operadores – atendem por telefone os pedidos de 26 municípios das Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs) de Joinville, Jaraguá do Sul, Mafra e Canoinhas.

Por meio do Sistema de Regulação (Sisreg), os atendentes verificam as disponibilidades de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e de cuidados prolongados, conforme a demanda requerida pela unidade prestadora dos primeiros atendimentos.

Pacientes em situação estável podem dar lugar a pacientes em estado grave ou gravíssimo, por exemplo. A decisão final é das equipes médicas e das famílias.

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A partir do momento em que um médico faz a solicitação de um leito, a Central avalia todo o sistema e indica as vagas consideradas ideais para o tipo de tratamento que o paciente precisa.

Em último caso, se não houver vaga na região nem no resto do Estado, a Central está autorizada a buscar uma vaga na rede particular, garantindo o pagamento pelo SUS.