Josiane Cidral, 34 anos, mãe de cinco filhos, deu entrada no pronto-atendimento Leste por volta das 17h30 de terça-feira. 24 horas depois, estava morta na unidade sem nem conseguir um leito de UTI no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt.
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A moradora da zona Leste de Joinville estava com insuficiência respiratória, tosse e dor no peito. Segundo o coordenador do PA Leste, Alvaro Cesar Ricardo Junior, apesar de ter chegado sem febre e de os primeiros exames, de sangue e raio X não detectarem infecção e indícios de pneumonia, a equipe médica optou por tratá-la imediatamente com o Tamiflu – medicamento utilizado para combater a infecção causada pelo vírus H1N1 (gripe A).
Cinco horas depois, a piora no estado de saúde de Josiane foi tamanha que às 23 horas, quando os exames foram repetidos, foram constatadas infecção e pneumonia. Neste horário também foi feita a primeira tentativa de transferência da paciente para um leito de UTI no Regional, que, entre as referências, está a infectologia. No entanto, o médico informou que não havia vagas e Josiane seguiu na observação do PA Leste. O Hospital Municipal São José também estava sem leitos disponíveis.
Às 2h30 da quarta-feira foi feito novo contato com o Regional, novamente sem sucesso. O estado de Josiane continuou se agravando e, por volta das 4 horas, ela começou a tossir sangue, além de apresentar piora na insuficiência respiratória.
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A paciente foi entubada e mais uma vez a equipe médica ligou para o Regional a fim de tentar uma vaga na UTI. Após um novo não, a equipe contatou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que informou que a vaga zero – quando o paciente dá entrada mesmo sem leito disponível e fica à espera de vaga – deveria ser tentada com a Central de Regulação de Leitos. Mas, ao contatar a central, a equipe foi informada que é de responsabilidade do Samu viabilizar esse tipo de vaga.
Longa espera
A agonia de Josiane só piorava e ela foi ficando agitada. Por volta das 6 horas, surgiu um leito no Regional, mas não era de isolamento e, como havia a suspeita de gripe A, havia essa necessidade. Após duas horas à espera do Samu, por volta das 8h55, a Central de regulação informou que havia conseguido um leito no Hospital Governador Celso Ramos, em Florianópolis.
Como o estado de Josiane já estava bastante grave, foi feita uma última tentativa, às 9 horas, no Regional e surgiu um leito, mas 15 minutos depois ela perdeu muito sangue e às 9h40, mesmo horário em que o Samu chegou para levá-la, sofreu uma parada cardiorrespiratória. A morte de Josiane, que vivia a expectativa de um emprego novo e preparava a festa de aniversário um dos filhos, foi registrada às 10 horas.
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Casos de gripe A
Caso seja confirmado que Josiane estava com gripe A, esta vai ser a terceira morte pela doença registrada neste ano, em Joinville.
De acordo com a coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Aline Costa da Silva, foram confirmados 11 casos da gripe A em Joinville em 2013. O resultado que vai confirmar se Josiane estava ou não com a doença deve sair nesta sexta-feira ou na próxima segunda.
Nesta quinta-feira, o exame feito em um adolescente de 16 anos que morreu esta semana constatou que ele foi vítima da Influenza B.
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CONTRAPONTO?
O diretor do Hospital Regional Hans Dieter Schmitd, Hercílio Fronza Junior, explica que a unidade vive constantemente no limite das vagas.
– A UTI nunca tem leito. Porque a quantidade é inferior a demanda, não temos reserva – afirma.
Hoje, o Regional conta com 20 leitos. Esses, somados aos 14 do São José, representam um total de 34, sendo que, de acordo com Hercílio, a necessidade de Joinville seria de 70 vagas.
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– Não posso retirar um paciente para colocar outro – disse.
O diretor esclarece que o surgimento de vagas em UTI é muito dinâmico, pode não haver num momento e, em questão de horas, aparecer.
Ele conta que foram feitos vários projetos de readequação do Regional, entre eles o que tem a finalidade de dobrar de 20 para 40 as vagas de UTI. No entanto, não há prazo para que isso de fato aconteça.
Em relação ao fato da paciente ter morrido antes de conseguir um leito de terapia intensiva no Regional, Hercílio afirma que teoricamente ela teria tido uma resposta melhor.
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– Qualquer coisa que você utilize de recurso tecnológico a mais, você espera conseguir uma melhora, o que não significa que você vai atingir essa melhora – disse.