Condições climáticas desfavoráveis, diminuição no número de peixes nos estuários (Lagoa dos Patos e Argentina), restrições da legislação vigente e falta de incentivo governamental à pesca da tainha. Estes são os fatores apontados por especialistas do setor que classificam a safra de 2014 como uma das piores da história em Santa Catarina.

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O pior resultado foi na pesca industrial, praticada além do limite de 5 milhas da costa. Segundo dados do Grupo de Estudos Pesqueiros da Univali, a estimativa é que o total não ultrapasse 617 toneladas – o resultado não está finalizado -, o que representa 50 % a menos que no ano passado (1.227 toneladas) e 9,6% da melhor marca, em 2007 (6.386 toneladas). O professor de Engenharia Ambiental e Oceanografia, Paulo Schwingel, acredita que o clima não favoreceu.

– Os pescadores alegam que o peixe estava muito na costa, mas a verdade é que não houve frentes frias que trouxessem as tainhas da Lagoa dos Patos (no Rio Grande do Sul) para o nosso litoral – analisa.

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Na opinião do presidente do Sindicato das Indústrias de Pesca (Sindipi), Giovani Monteiro, a redução vem ocorrendo gradualmente desde que a Normativa 171, publicada em maio de 2008, ter fixado o limite de 60 embarcações para a pesca nas regiões Sudeste e Sul.

– Antes eram 178 barcos no mar e não tinha a restrição das 5 milhas. Isto tem afetado a indústria, que não consegue sobreviver somente da artesanal – alertou.

No caso da pesca artesanal, a restrição ao uso das anilhas nas redes de emalhe deixou 102 barcos parados durante boa parte da safra (de 15 de maio a 30 de julho). De acordo com o presidente da Federação de Pescadores de Santa Catarina, Ivo de Souza, o volume de pescado chegou a 1.300 toneladas.

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– Foi abaixo da meta, que era pescar 1.800 toneladas – afirmou.

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Paralelo a tudo isto, crescem os indícios de que o número de peixe tem reduzido na Lagoa dos Patos. Ao mesmo tempo, o acompanhamento dos Ministérios da Pesca e do Meio Ambiente sobre os impactos da pesca e o comportamento dos cardumes é precário, de acordo com Schwingel. São mais de dois anos desde a criação do Grupo Técnico da Tainha (GTT) sem um resultado efetivo que beneficie tanto o peixe quanto o pescador.

Fotos: Pescadores da Barra da Lagoa já preparam redes para safra de 2015. Imagens: Marco Favero/ Agência RBS

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Nova normativa para regularizar setor é esperança de melhora em 2015

Depois de uma safra muito abaixo da expectativa, a esperança recai sobre a elaboração de uma nova normativa que regule o setor, prevista para sair até 2015. Técnicos do Ministério da Pesca e da Superintendência do Ibama em Santa Catarina estiveram em Florianópolis há duas semanas para cadastrar e visitar pescadores da Barra da Lagoa, Ingleses, Ponta das Canas, Jurerê, além de colônias de Laguna e Garopaba. Segundo Ivo de Souza, que representa o Estado no Grupo Técnico da Tainha o objetivo do trabalho de campo é incluir a rede anilhada nas regras do jogo.

– Foi comprovada que, além de serem seletivas, ela não causa impactos à espécie, como se acreditava – disse Ivo.

Um estudo do Grupo de Estudos Pesqueiros, formado por especialistas da Univali e da Furg (Universidade Federal do Rio Grande), pretende trazer novas informações sobre o comportamento do peixe. De acordo com Schwingel, que integra o grupo de pesquisadores, sabe-se que a tainha tem maturação tardia. Com cerca de 10 anos de vida, o peixe chega ao primeiro período férito aos 5 anos de idade.

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– É como se nós, humanos, tivéssemos nossos filhos aos 35 anos – compara.

Tal revelação pode servir de base para elaboração de normas que preserve a espécie e garanta a produção a longo prazo.