Elas sobreviveram à inflação de três dígitos ao ano, a planos econômicos duvidosos, crises institucionais, abertura de mercado e até a cortes de energia elétrica durante a Segunda Guerra Mundial. Para as centenárias marcas catarinenses – ou que caminham para os cem anos –, a atual recessão é apenas mais uma adversidade a ser ultrapassada. Afinal, qual é o segredo da longevidade?
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– O que mantém uma empresa viva por tanto tempo é o respeito pelo consumidor. Ele identifica a qualidade do seu produto e você não pode trair essa expectativa nunca. Logicamente, também é preciso tomar cuidados: sempre demos um passo de cada vez, com uma administração pé no chão, sem nos aventurarmos. É preciso tomar cuidado com a expectativa de uma possível demanda que acaba não ocorrendo – explica o presidente da blumenauense Hemmer, Ericsson Luef.
O professor do curso de Propaganda da Univali Fábio Ghedin concorda. Ele explica que as companhias antigas tinham naturalmente algo que hoje as empresas tentam criar artificialmente com estratégias de marketing: autenticidade e proximidade com o consumidor.
– Essas empresas vêm de um tempo em que havia uma preocupação maior com as pessoas. Transmitiam verdade no que faziam. Também havia menos marcas, e as pessoas criavam vínculos mais fortes com essas empresas, que muitas vezes eram os motores da economia da cidade ou da região – afirma Ghedin.
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É o caso da Pureza, nascida quando Rancho Queimado não passava de um vilarejo com pouquíssimas casas, um distrito de São José. Ainda hoje, a fábrica tem uma importância econômica considerável para o município.
– Empregamos 3% dos habitantes – diz Sérgio Murilo Sell, um dos representantes da quinta geração da família à frente da companhia.
Mas nem só de autenticidade vivem as empresas. A tradição e a memória afetiva que o consumidor cria ao longo do tempo ajudam muito. No entanto, com o passar dos anos, essas companhias precisaram investir em marketing e em novas formas de falar com os clientes.
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– A marca não pode sentar em cima da tradição e achar que vai se perpetuar. Ela tem que criar ações para inovar, mas mantendo o DNA. Já vimos muitas marcas tradicionais fortes morrerem por não fazerem isso. E outras renascerem com essa estratégia, como é o caso da Granado (marca carioca de cosméticos) – explica o professor de Branding do MBA da ESPM Sul, Genaro Galli.
Foi o que a bala Dalva começou a fazer neste ano. A empresa, que em 74 anos não havia investido R$ 1 em marketing, viu as vendas caírem pouco a pouco. A crise trouxe a oportunidade de refletir, e foi aí que Augusto Schütz, neto do fundador, passou a dedicar tempo às redes sociais e a novas ideias, como a criação do sorvete sabor Bala Dalva em parceria com a Amoratto – que se tornou um dos mais vendidos.
– Tem pessoas de outros Estados que descobriram a marca por causa do Facebook e até faço vendas pontuais para elas. Também apareceram várias histórias relacionadas à marca, como a de um casal que diz ter começado a namorar por conta da bala – conta Schütz.
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Todas essas marcas gozam ainda de uma outra vantagem: a tendência atual de os consumidores se voltarem para empresas de suas regiões.
– É uma tendência global por uma série de razões que estão vinculadas à sustentabilidade e à racionalidade do consumo. Algumas questões que eram símbolo de status, como usar marcas de luxo, são comportamentos que começam a ser condenados. Por isso, cresce a opção por produtos locais, mais próximos de casa – diz Galli, professor da ESPM Sul.
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