Enquanto os problemas financeiros, com ameaça de restringir atendimentos em 60 dias, não se resolvem no Hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, uma queda de braço é travada entre membros do poder público.

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De um lado, a prefeitura de Balneário pedindo mais apoio, alegando que não tem como bancar os R$ 2,4 milhões necessários para a manutenção mensal da unidade. Do outro, o Governo do Estado, que diz não ter condições de suplementar a defasada tabela SUS, que não é reajustada há 13 anos.

A Secretaria de Estado da Saúde disse não ter recebido nenhum pedido recente de Balneário Camboriú. Até porque o documento protocolado na segunda-feira foi direto para o gabinete do governador Raimundo Colombo.

No ofício, que o prefeito Edson Piriquito chamou de “carta aberta à população de Santa Catarina”, o município diz estar fazendo o papel do Estado ao manter um hospital com estas características. E deu um ultimato.

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– Caso a situação permaneça assim, sem a parceria do governo, em 60 dias não restará alternativa. Eu lamento, mas terei que interromper o atendimento aos municípios vizinhos – disse Piriquito.

Posição oficial

Por meio de nota, o Governo do Estado se manifestou sobre a situação dos hospitais municipais e filantrópicos. Sem citar o nome de nenhum deles, o texto diz que “os cofres públicos estaduais não comportam a suplementação da tabela do SUS, tampouco fazer aporte de custeio a essas unidades de saúde.”

A Secretaria de Estado da Saúde pontua que uma das soluções seria o reajuste na tabela SUS e diz que está intercedendo junto ao Ministério da Saúde para que essa questão seja revista.

A nota diz também que a secretaria “vem trabalhando intensamente para implantar as redes de urgência e emergência em todo o Estado, o que trará recursos adicionais significativos para os hospitais que dela participarem com emergências, leitos de retaguarda e UTIs.”

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Outra medida que o Estado diz vir tomando é “viabilizar junto ao Ministério da Saúde a recontratualização com hospitais de todo o Estado, o que implica em revisão de valores, com incremento financeiro do governo federal.

Pacientes preocupados com situação do Ruth Cardoso

O autônomo Jonatan José Diego, 21 anos, não conseguia esconder a apreensão. Pela segunda vez em um ano, a mulher dele passava por uma cirurgia cesariana de risco. A chegada do segundo filho é um motivo de alegria para o casal, mas o fato de se deslocar de Itapema até Balneário Camboriú já gera uma expectativa diferente.

Como a cidade onde ele mora não tem condições de fazer uma cirurgia deste porte, eles foram indicados a ir até o Hospital Municipal Ruth Cardoso. Felizmente, a previsão inicial de que o atendimento seria restrito apenas a moradores de Balneário Camboriú não se confirmou.

No fim de janeiro, a prefeitura deu prazo de 90 dias para que o Governo do Estado ajudasse a unidade. A restrição era para ter começado na segunda-feira, mas uma nova data foi estipulada para isso: 29 de junho. O que já gera preocupação para o jovem Jonatan.

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– Deveria ter um investimento maior em saúde. Imagina a gente ter que usar o nosso carro, se deslocar até aqui e não conseguir ser atendido. Pelo menos temos este hospital para nos atender, se tirarem fica ainda mais difícil – disse o autônomo.

A história de Jonatan é a mesma de milhares de pessoas que todos os meses vêm dos municípios vizinhos para o hospital de Balneário Camboriú. Na grande maioria dos casos, transferidos das unidades de saúde dos respectivos municípios, que não tem estrutura para atender.

Prioridades e investimentos

A dona de casa Maria Dolores Voigt, 59 anos, também é de Itapema. E ficou preocupada ao saber, pela reportagem, da intenção da prefeitura de Balneário Camboriú restringir o atendimento no Ruth Cardoso.

– No Litoral parece que se tem esse problema. Investem muito no turismo e esquecem da saúde. E é a saúde que tem de vir em primeiro lugar – disse dona Dolores.

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Para ela, não importa quem mantenha o hospital. O importante é que se tenha atendimento para toda a população.

– Em Itapema, nem se a gente tivesse dinheiro a gente conseguiria atendimento, porque não tem equipamento decente. Será que vão ter que esperar morrer alguém para tomar alguma atitude? – questiona a dona de casa.