Os recentes desabafos de governantes municipais em relação à situação dos hospitais acendeu um sinal de alerta na região. Depois da Fundação Univali dar um prazo de fechamento do pronto atendimento e da diminuição do número de leitos e do Hospital Ruth Cardoso querer restringir o atendimento para quem não mora em Balneário Camboriú, segunda-feira foi a vez da Fundação Hospitalar de Camboriú reclamar da falta de apoio. No fim, todos esbarram na mesma questão: a defasagem da tabela SUS, que há mais de uma década não sofre reajuste.
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O que se vê são unidades cada vez mais lotadas e quem acaba sofrendo é a população. Na região, as administrações dos seis hospitais admitem que a demanda é maior do que o atendimento oferecido. Os municípios dizem que não tem condições de arcar sozinhos com as despesas de manutenção. O Estado, por sua vez, culpa a defasagem da tabela SUS.
Na segunda-feira, o soldador Marco Alexandre da Silva, de Navegantes, sofreu um acidente de moto de manhã e procurou um posto de saúde pois estava com muitas dores nas costas. Lá, foi encaminhado para o hospital da cidade, onde chegou por volta das 10h15min e só foi atendido três horas depois.
– Não reclamo do atendimento, que por sinal foi muito bom. Só que demorou muito para me chamarem – questiona Marco.
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Em Balneário Camboriú, o prefeito Edson Piriquito (PMDB) divulgou uma nota criticando o governador Raimundo Colombo por não dar uma resposta sobre a situação do Hospital Municipal Ruth Cardoso. Piriquito enviou um ofício no dia 29 de janeiro, alertando da dificuldade do hospital.
– Triste é dizer que hoje, 90 dias após o protocolo do ofício, prazo este anunciado para o término dos atendimentos a pessoas de outros municípios, não recebemos qualquer comunicação por parte do senhor governador – diz Piriquito.
Na vizinha Camboriú, a administração do hospital quer que a prefeitura assuma o pronto atendimento, mas o governo municipal já avisou que, sem o apoio do Estado, não tem como arcar sozinho.
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O secretário de Estado da Saúde, Dalmo Claro de Oliveira, respondeu, por meio da assessoria de imprensa, que não tem condições de suplementar a Tabela SUS para todos os municípios do Estado.
SITUAÇÃO DOS HOSPITAIS
Fundação Hospitalar de Camboriú
Especialidades: cirurgia-geral e pronto-socorro
Leitos: 46
Atendimentos: 2 mil por mês
Administração: Fundação Hospitalar de Camboriú
Gasto por mês: R$ 74 mil (déficit atual)
De onde vem o valor: SUS e prefeitura de Camboriú
Situação atual: A administração do hospital disse que o pronto atendimento só continuará aberto se a prefeitura assumir a partir desta terça-feira. A secretária de saúde, Marcia Freitag, disse que o município pode assumir, mas que sozinho não tem condições de arcar com todas as despesas. Por isso, vai tentar buscar apoio com o governo do Estado. Mas garantiu que, nos próximos 60 dias, o serviço será mantido.
Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen
Especialidades: Alergologia e imunologia, anestesiologia, angiologia, cardiologia, cirurgia cardíaca, clínica cirúrgica, cirurgia endovascular, dermatologia, eletrofisiologia, endocrinologia, endoscopia digestiva, gastroenterologia, geriatria, ginecologia/obstetrícia, hematologia, imagenologia, infectologia, medicina interna, nefrologia, neonatologia, neurologia, oftalmologia, oncologia, ortopedia/traumatologia, otorrinolaringologia, pneumologia, proctologia, psiquiatria, radiologia intervencionista, reumatologia, terapia intensiva, urologia e vídeo endoscopia.
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Leitos: 350
Atendimentos: 1,5 mil no pronto-socorro, 360 internações, 214 cirurgias, 74 partos e 1,2 mil atendimentos ambulatoriais (dados de 19 a 25 de abril de 2013)
Administração: Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada
Gasto por mês: R$ 1,6 milhão (para média complexidade)
De onde vem o valor: SUS, particular e convênios, governo do Estado e município
Situação atual: Prédio atual foi inaugurado em 1979 e tem 12 andares. Já foi assinado um convênio com o Governo do Estado, para a construção de um novo bloco, com 15 andares, no valor de R$ 41,5 milhões. As obras já estão em andamento. Serão 250 novos leitos, sendo 21 para atendimento imediato, 20 UTIs adulto, 20 UTIs neonatal e 189 leitos de internação geral, além da ampliação dos centros cirúrgico e obstétrico, e nova central de esterilização.
Hospital Municipal Ruth Cardoso
Especialidades: Anestesiologia, cirurgia geral, ginecologia, obstetrícia, ortopedia, pedriatria, radiologia, UTI neo-natal, buco maxilo facial, cardiologia, cirurgia vascular, pediátrica, infectologia, ortopedia, otorrinolaringologia e urologia.
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Leitos: 90
Atendimentos: 9 mil por mês
Administração: Municipal
Gasto por mês: R$ 2,4 milhões
De onde vem o valor: SUS e governo municipal
Situação atual: No dia 29 de janeiro, a prefeitura enviou um ofício ao governo do Estado dando prazo de 90 dias para responder aos pedidos de ajuda financeira para o hospital. O prazo encerrou segunda-feira e o prefeito Edson Piriquito divulgou uma nota reclamando que não recebeu nenhum sinal e, por isso, pode restringir, ainda esta semana, o atendimento a pessoas de outras cidades que buscam a unidade. Um novo comunicado deve ser enviado para o governo federal, como apelo para o reajuste da tabela SUS.
Hospital de Navegantes
Especialidades: Clínico geral, obstetrícia, pediatria e anestesiologia
Leitos: 37
Atendimentos: 6 mil por mês
Administração: Beneficência Camiliana do Sul
Gasto por mês: Não revelado
De onde vem o valor: SUS e governo municipal
Situação atual: No dia 7 de maio serão abertos os envelopes de licitação da ampliação do hospital. O documento é referente à primeira parte da obra, que, quando pronta, fará com que o prédio passe dos atuais 1.381 m2, para 4.795m2. O investimento é de R$ 1,4 milhão para esta primeira parte e já foi liberado pelo Governo do Estado. Ainda faltam mais R$ 6,6 milhões para as outras duas partes da obra, que a prefeitura ainda busca recursos. Quando concluído, o novo hospital passará a ter 65 leitos (28 a mais que atualmente).
Hospital Santo Antônio (Itapema)
Especialidades: Clínico geral e pequenas cirurgias
Leitos: 23
Atendimentos: 4 mil por mês (chega a 6 mil na alta temporada)
Administração: X-Pro (contratada pela prefeitura)
Gasto por mês: R$ 250 mil
De onde vem o valor: SUS e governo municipal
Situação atual: O contrato com a atual administradora termina em junho, quando a Prefeitura deve lançar um novo edital. Segundo a secretária de saúde do município, Jeane Barros de Souza Silva, a intenção é que se mude alguns pontos do contrato, como a inclusão de multas em caso de descumprimento de alguns itens, como deixar de atender no plantão, por exemplo.
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Hospital Infantil Pequeno Anjo
Especialidades: Saúde infantil
Leitos: 93
Atendimentos: 3,1 mil por mês (pronto-socorro) e 300 internações por mês
Administração: Fundação Univali
Gasto por mês: R$ 1 milhão
De onde vem o valor: SUS, governo municipal e Fundação Univali
Situação atual: Com déficit de mais de R$ 7 milhões por ano, busca parceria com governo do Estado e municípios da região para continuar atendendo. Os municípios da região da Amfri devem se reunir em breve para estudar de que forma podem ajudar. Um encontro na semana passada, na sede da Univali, definiu quanto cada município poderá contribuir, de acordo com a média histórica de atendimentos. Se até dia 30 de junho não for sinalizado um apoio maior, inclusive do governo do Estado, a Fundação Univali promete fechar o pronto-socorro e diminuir o número de leitos para usuários do SUS.