O silêncio não tem cor, não pode ser mensurado e nem está na lista de objetos a serem apreendidos, mas pode ser considerado uma arma letal. Ele aparece em pessoas com quadros de depressão e outros transtornos emocionais e, se mantido, corre o risco de levar ao suicídio – ou à tentativa dele.
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Por isso, entre os remédios indicados para combater este problema, as informações e as conversas sobre o assunto estão na prescrição, mesmo que sejam apenas o primeiro nível do tratamento para doenças que, por tabu, preconceito ou falta de conhecimento, são banalizadas. Foram elas, no entanto, que levaram pelo menos 22 pessoas ao suicídio em Joinville até agora em 2015, segundo os registros da Secretaria Estadual de Saúde. O número oficial do ano será divulgado em janeiro.
Em relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2014, o suicídio corresponde a 883 mil óbitos por ano no mundo, ultrapassando a soma de mortes causadas por homicídio e guerra, o que significa que há, em média, um novo caso a cada 40 segundos. Neste contexto, o Brasil está em 8º lugar entre os países com maior número absoluto de mortes deste tipo e Santa Catarina é o segundo Estado com mais casos: no ano passado, foram 596 casos, com 133 tentativas registradas.
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Há, entre os mitos sobre as doenças emocionais, a crença que as tentativas de suicídio existem apenas para chamar a atenção, como um comportamento manipulativo que não precisa ser levado tão a sério. O fato é que, para cada suicídio consumado, há aproximadamente 20 ameaças, que também podem causar problemas de saúde e que precisam ser encaradas como pedido de socorro: elas são o principal indício para novas tentativas.
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– Pessoas com tendências suicidas geralmente estão enfrentando uma crise existencial que gera sintomas emocionais intensos e, com isso, enfrentam um estado temporário de perturbação e desorganização. Esse estado mental confuso faz com que a pessoa se sinta incapacitada de enfrentar as situações difíceis e não vê uma saída para solucionar seus problemas – avalia a psicóloga Cleonice de Fátima de Andrade.
Segundo ela, a prevenção do suicídio necessita de fácil acesso à informações sobre o assunto. O que não ocorre porque, muitas vezes, há uma ideia errada de que falar em suicídio pode despertar o desejo em alguém que esteja passando por crises emocionais.
– Quanto mais falarmos sobre suicídio, mais estaremos ajudando a salvá-los. Se percebermos alguém com características depressivas ou em crise é importante ouvir, oferecer apoio e convencer a procurar ajuda profissional. Qualquer comentário ou ameaça de suicídio deve ser levado a sério – afirma ela.
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A banalização do assunto, aliado ao preconceito em relação aos problemas emocionais, dificultam a procura por ajuda profissional, causando vergonha e constrangimento em que enfrenta doenças como depressão, transtornos de personalidade (como borderline), esquizofrenia e transtornos de ansiedade. Casos de suicídio e ameaça de suicídio não devem ser tema de piadas ou acusações.
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– Não se brinca com essas coisas. Depressão não é fraqueza, é uma doença que pode matar. E todos estão sujeitos a passar por isso: ninguém está imune a nenhuma doença – avisa Cleonice.
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