Internada há 11 dias no Hospital São José, em Joinville, a bailarina Fiama de Bittencourt da Silva, de 21 anos, se recupera de um acidente que tirou a vida de dois dos quatro amigos que estavam no carro com ela. A batida frontal de que foi vítima é um acidente considerado impensável em se tratando de uma rodovia duplicada como a BR-101.

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Fiama estava no banco de trás de um automóvel que foi atingido por um veículo que andou pelo menos cinco quilômetros na contramão. O acidente, que ocorreu na madrugada do dia 9, um domingo, sobre o viaduto que dá acesso à região de Pirabeiraba, na zona Norte de Joinville, matou três pessoas e deixou, além de Fiama, outras duas gravemente feridas.

A recuperação será lenta. Ela quebrou as duas pernas e sofreu uma série de lesões pelo corpo. Na última terça, ela passou por uma cirurgia que durou sete horas e mantém vivo o sonho de voltar a dançar.

Embora pareçam improváveis em rodovias que têm mureta de concreto com pelo menos um metro de altura separando os sentidos das vias, os acidentes na contramão em estradas duplicadas de Santa Catarina têm feito uma série vítimas. Em um levantamento produzido pela reportagem do Grupo RBS, quatro acidentes ocorridos nos últimos cinco anos mataram dez pessoas e deixaram outras dez gravemente feridas.

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Mais grave

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, entre os acidentes de trânsito, a batida frontal é uma das mais graves e tende a resultar em mortes e ferimentos muito sérios. Eles são mais comuns em rodovias simples, em tentativas de ultrapassagem mal calculadas ou feitas em locais proibidos.

Raro nas rodovias duplicadas, esse tipo de acidente geralmente é provocado por acidentes de difícil explicação, com veículos em alta velocidade que são arremessados sobre a mureta ou por desconhecimento dos motoristas em relação ao trecho.

Segundo a PRF e a Autopista, não há números ou estatísticas específicas sobre os acidentes provocados na contramão nas estradas duplicadas em Santa Catarina, mas estima-se que haja pelo menos um acidente com morte a cada semestre.

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Quem sobrevive enfrenta o processo de recuperação. A quem perdeu seus familiares, restam a dor e a saudade. E todos lutam em processos judiciais cuja tramitação ainda não foi concluída na Justiça. O pai de Fiama, Antônio da Silva, tem conversado com os parentes das outras vítimas sobre a responsabilidade do acidente. O motorista do carro que bateu de frente com o veículo onde ela estava depois de rodar na contramão – o vidraceiro Jackson Rodrigo Batista Porto, 25 anos, de Garuva – também morreu.

Embora esteja empenhado na recuperação da filha, Antônio avalia a hipótese de acionar a Justiça.

– Há uma responsabilidade a ser apurada. Mesmo que o motorista tenha morrido, podemos acionar a concessionária e o governo federal. Alguém tem de explicar o que houve. Como alguém anda na contramão?

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