A região Norte é composta por 26 municípios congregados em três microrregiões: Joinville, Canoinhas e São Bento Sul. Tem uma rica mistura de relevos, climas, vegetações e recursos hídricos. Contudo, tais aspectos só ganham sentido se os abordarmos como elementos de uma paisagem cultural. No tempo presente, atribuir valores a essa paisagem requer sensibilidade e abertura para conhecer e lidar com múltiplas histórias, lembranças e vestígios de experiências humanas que fizeram deste território o lugar onde cerca de 1,3 milhão de pessoas vivem e tecem suas existências.
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A região tem um patrimônio arqueológico de mais de 140 sítios de tipologia sambaqui, que remonta a 6 mil anos. Também nela estão inscritas outras expressões, ligadas à ocupação por indígenas, portugueses, africanos, imigrantes europeus ( germânicos, ucranianos, poloneses, dentre outros), que chegaram a partir do século 19, e migrantes de diferentes cidades brasileiras, motivados pela possibilidade de emprego e pelas redes de apoio estabelecidas por outros estrangeiros.
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Assim, caracterizar a paisagem cultural da região Norte imputando preponderância a uma ou outra influência étnica ou grupo social é esvaziar de sentidos sua própria história. Não podemos esquecer dos graves conflitos que resultaram no extermínio de populações indígenas, na escravização de africanos e numa guerra que teve como efeito a expulsão e dizimação de camponeses que tradicionalmente viviam na região (Guerra do Contestado, 1912- 1916).
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Na diversidade arquitetônica, destacam- se construções que se misturam e mesclam técnicas e estilos. Exemplos são: fortalezas, igrejas e casarios inspirados na arquitetura portuguesa e açoriana; construções em enxaimel inspiradas na arquitetura germânica; casarões de madeira com influência polonesa e ucraniana. A isso se somam edificações tombadas como patrimônio como a Ponte Metálica Rio Negro/ Mafra, antigos locais de trabalho e de produção que assumiram novas funções, como a Estação da Memória em Joinville e os galpões da empresa de navegação Cia Hoepcke, que abriga o Museu Nacional do Mar, em São Francisco do Sul. E a estrada Dona Francisca ( SC- 301), cuja construção iniciada em 1858 foi concluída em 1906, além de ter sido uma das primeiras estradas carroçáveis brasileiras, foi pioneira ligando o litoral ao planalto norte. Por ela, que integra a Área de Preservação Ambiental Serra D. Francisca, eram escoados produtos como erva- mate, madeira e gêneros alimentícios.
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Por fim, mas não menos importantes, as formas de expressão e os modos de saber- fazer. Refiro-me à diversidade dinâmica, silenciosa e inventiva dos grupos sociais e das comunidades que desenvolvem maneiras próprias de empregar recursos naturais comuns e de falar sobre eles. Da gastronomia aos jeitos próprios de cultivar flores, ervas e frutos. Das narrativas de casos sem data ou registro ao fabrico de artesanatos. Enfim, práticas pelas quais as comunidades fazem agir suas ideias, juízos e expectativas de futuro na paisagem cultural da região.
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*Artigo de Ilanil Coelho, historiadora e professora da Univille