O Diário Catarinense começa nesta segunda-feira uma série de entrevistas com os candidatos ao governo de Santa Catarina. A ordem de publicação segue o critério de representação na Câmara dos Deputados das coligações e partidos. Aos quatro que têm maior tempo de TV – pela ordem: Raimundo Colombo (PSD), Paulo Bauer (PSDB), Cláudio Vignatti (PT) e Afrânio Boppré (PSOL) -, foram feitas cinco perguntas iguais. Os outros quatro candidatos de siglas de menor porte foram convidados a fazer uma apresentação da candidatura.
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Qual é hoje o grande problema do Estado?
É a burocracia. Conseguimos chegar a um estágio em que termos recursos para investir e temos as obras escolhidas. Agora, a lei 8.666 (Lei das Licitações) é uma lei muito injusta. Ganha a empresa com o menor preço. Se ela tem condições de fazer a obra ou não, é outro departamento. Isso vale para escola, ponte, estrada, posto de saúde, penitenciária. Qual é o nosso papel agora? É ficar cobrando o andamento. Tem empresas com que você se surpreende. Por exemplo, a SC-401 aqui em Florianópolis foi rápida, foi impressionante. A estrada dos Ingleses (Florianópolis), nós estamos pagando em dia. Olha como ela se arrasta. Agora tem uma empresa nova, a mesma coisa no Sul da Ilha. Gerenciar esse trabalho é o maior desafio para a gente. É a burocracia, emperra aqui, emperra ali. Os parceiros também não se sentem cobrados, nós temos que melhorar essa questão da cobrança, da busca da eficiência, da fiscalização, da qualidade das obras. Como eu disse: temos os recursos, as obras foram, a maioria, selecionadas, vencemos as etapas burocráticas. Agora tem que fazer isso tudo deslanchar. E cuidar muito da qualidade do serviço público. Na segurança pública, colocar mais policiais na rua, melhorar as condições tecnológica, isso estamos fazendo, é um processo a longo prazo. Melhorar as condições na educação, essa questão da descompactação da tabela, o nível de satisfação dos professores, acho que já melhorou muito, mas é um desafio. E o maior de todos é a saúde, a maior demanda da sociedade, qualquer pesquisa aponta isso. Nós estamos construindo diversos hospitais. Não adianta o Estado ir bem se o município não está indo bem, então iniciamos a repassar um per capita para cada município para ajudar no pagamento de exames, porque aí melhora o atendimento na base, melhora o atendimento intermediário. Agora é, de fato, um processo de gestão. Depois de quatro anos você conhece as pessoas, as cidades, os problemas, onde deu certo, onde não deu certo, melhora muito a condição de gestão. No terceiro ano eu já me senti muito mais seguro, os resultados começaram a ser muito mais fortes. A gente tem muito mais segurança para mudar rumos, escolher prioridades. Os recursos do Pacto, nós já investimos até agora 18%, mas já tem contratado mais de 60%. De fato, agora o processo é acelerar e dar qualidade.
No início da próxima gestão, as secretarias regionais vão completar 12 anos de implantação. Qual o plano para essas 36 estruturas em sua gestão?
Nós fortalecemos muito a parte operacional. Eu viajava pelas estradas e enlouquecia quando encontrava uma estrada com muito buraco. Aí tem que ligar pro Deinfra em Florianópolis, aí a empresa que ele contratou cuidava de diversas regiões do Estado. O que a gente fez? A gente passou para cada secretaria regional cuidar dessa parte da roçada, da limpeza das valetas, da saída de água, da operação tapa-buraco. Fizemos isso com as escolas. Nós temos 1.144 escolas. A limpeza das caixas d’água, as roçadas, coisas simples. Esses tempos, aqui em Florianópolis, uma cobra mordeu uma criança. Um negócio inacreditável. As secretarias regionais coordenam toda essa questão. A parte interna a gente já deu um cartão de débito para as diretoras e elas têm autonomia. Então, essa parte de manutenção está passando toda para as secretarias regionais. Uma fase importante que começa agora é a do desenvolvimento econômico, construir um processo de agências de desenvolvimento. São regiões diferentes. Esses dias eu estava em Campos Novos, que fica 40 quilômetros distante de Joaçaba. Em Campos Novos, a atividade da agricultura é muito forte, as cooperativas, a pecuária é muito forte, mas ela não é uma cidade industrial, embora agora tenha ativado um grande frigorífico que está abatendo quase 7 mil suínos por dia. Joaçaba é uma cidade fortemente industrial, uma cidade de serviços, saúde, universidade. Uma cidade tão pertinho da outra, mas tão distante. Do ponto de vista cultural, por exemplo, Joaçaba faz um carnaval extraordinário. Se fosse fazer um carnaval em Campos Novos seria um desastre, porque a cultura é mais gaúcha. Esta é uma característica de Santa Catarina, que a gente precisa valorizar o nosso modelo de boa distribuição demográfica. O conceito está correto. O custo das secretarias regionais com salários, comissionados, é 0,04%, um valor bem pequeno. Todas elas juntas representam muito menos que órgãos aqui em Florianópolis. Nossa ideia é dar mais atribuições, melhorar a condição e adequar elas a esse novo desafio que é um processo de desenvolvimento equilibrado do Estado.
Santa Catarina sofreu nos últimos anos com atentados ordenados diretamente das cadeias. Como garantir que essa situação não se repita?
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Nós melhoramos muito o sistema de humanização dentro das unidades prisionais. Por exemplo, o fato de termos hoje mais de 8 mil detentos trabalhando dá uma condição operacional muito melhor. O preso se sente uma pessoa valorizada. Há o fato de aprender uma profissão, ela se reinsere na sociedade. As empresas têm muito interesse, porque para elas também é vantajoso. Não tem Fundo de Garantia, o custo da mão-de-obra é menor, ele cumpre horário, ele é um funcionário importante e isso tem sido um excelente resultado. O que a gente exige? Que terminada a pena, eles tenham um ano de garantia de emprego. Isso mudou o ambiente completamente. Também passamos a exercitar algumas ações fundamentais de respeito humano. Eu, por exemplo, via aquele processo da revista íntima. Uma coisa é você revistas o preso, outra coisa é a mãe do preso ir visitar e passar por todos aqueles constrangimentos. Então, estamos instalando equipamentos muito mais modernos. Revistar o preso está correto, ele cumpriu um delito com a sociedade, os familiares não. A gente está fazer um esforço melhor, profissionalizando toda a gestão, os avanços são extraordinários. Uma área que a gente humanizou e melhorou muito. Agora, é evidente que existe o crime organizado e ele tem poder em todos os lugares do Brasil e mostra isso todos os dias na sociedade. Nós temos procurado minimizar ao máximo esse poder, mas ele existe e está presente. Esse risco sempre vai estar presente.
Ambulancioterapia é uma palavra que faz parte do dicionário político de SC há muitas campanhas eleitorais. O fim do transporte de pacientes do interior para tratamento na Capital é uma meta atingível?
É, nós já melhoramos muito. Hoje nós temos oito unidades de quimioterapia e radioterapia, tratamentos sendo feitos lá. Eu estava esses dias comemorando um ano de ativação do sistema de radioterapia em Lages. É um ganho extraordinário. Aquelas pessoas vinham todos os dias, de ônibus, fazer o tratamento aqui. Hoje está sendo feito lá. Não tem mais o ônibus e melhorou o atendimento aqui, porque diminuiu a demanda. Isso está sendo feito. O Hospital de São Miguel do Oeste ultrapassou 100 mil atendimentos, ele foi ativado em 2011. Nós conseguimos atender lá. O Hospital de Concórdia tem um centro de diagnósticos que é um dos melhores do Sul do Brasil, todas as demandas estão sendo feitos lá. Nós estamos construindo hoje 10 novos hospitais, 1,5 mil novos leitos, uma quantidade muito grande de UTIs. Esse trabalho é permanente. A cada passo como esse, você diminui a questão da ambulancioterapia. Mas é uma questão continuada, tem que continuar com muito tempo para realmente conseguir alcançar as metas. A cada ação que você passa a prestar, ganha um espaço extraordinário. Esse tratamento das unidades de retaguarda, esse novo trabalho da saúde, está sendo um espetáculo. Eu estava esses dias em Campos Novos e uma criança recém-nascido precisava de uma UTI neonatal. Vieram falar comigo. Eu liguei para o sistema que controla e tinha uma vaga imediatamente em Concórdia, então a criança foi deslocada, recebida e salva. Um trabalho bem imediato. Hoje nós temos as informações para dizer “leva para tal lugar que eles estão aguardando”. Esses sistema, que está operando há uns oito meses, tem excelentes resultados. Sistema de transplantes, nós também ganhamos muita qualidade, aumentamos muito o número. É um processo que está em curso, tem muito o que fazer ainda, mas a gente tem avançado.
A implantação do piso nacional dos professores em SC foi traumática, com ações no STF, greve, votações tumultuadas. O que o senhor pretende fazer para em relação à chamada descompactação da tabela salarial do magistério?
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Essa contestação do piso foi feita antes de eu assumir o governo. Quando foi definido o valor do piso, a gente passou a pagar imediatamente. O que tem no Estado de Santa Catarina, é que além do piso temos a regência de classe, que outros Estados incorporaram. O piso, mais a regência de classe, mais a questão de tempo, ficou um valor alto. O primeiro aumento foi de 22%. O que aconteceu? Não tinha todo aquele valor. Passamos de uma folha da educação de R$ 1,5 bilhão para R$ 2,7 bilhões. O Estado não comporta. O que aconteceu? Achatou a tabela. Subiu o piso e não deu o mesmo percentual para quem estava em cima. Isso é injusto, mas não tinha outro jeito. Precisa fechar as contas, pagar os salários, não pode atrasar, seria uma catástrofe. Então, achatou. Achatou aqui e achatou em todos os lugares do Brasil. O que precisa fazer agora é recompor esse quadro que, de fato, é preciso reconhecer, houve um prejuízo. O piso achatou (a carreira) e aí você deixa de estimular aquilo que é essencial, que é a qualificação, o avanço profissional de quem se qualifica. Isso precisa ser corrigido. Qual é a chance que a gente tem? A chance é que com o pré-sal, o governo federal estabeleceu que parte desse dinheiro tem que ser destinado à saúde e à educação. São valores muito significativos e crescentes à cada ano. Isso é um dinheiro novo que está chegando aos Estados e municípios para investir em educação e saúde. Isso é, de fato, o melhor passo. O que temos que ir fazendo enquanto isso não toma volume? É ir recompondo a cada ano um pouquinho a mais dentro das condições financeiras que temos. Em 2012, nós superamos o limite prudencial da folha. Agora voltamos, um pouquinho abaixo, e está ali no limite máximo. Também tenho imposições de leis que sou obrigado a cumprir. A questão da Justiça descompactar a tabela, tem que ter o recurso para pagar isso e não pode ultrapassar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa máxima todo mundo tem conhecimento. O Sinte, quando foi candidato à reeleição, mostrou em seu panfleto todas as conquistas como sendo conquistas suas. É engraçado que são conquistas extraordinárias para reeleger o próprio sindicato, mas são defeitos do governo. Essa equação não fecha. Eu tenho conversado com muitos professores. Reconheço que muitos tem uma visão política diferenciada e isso faz parte do processo democrático. Mas muita gente com quem tenho conversado reconhece que melhorou a questão salarial, mas temos muito o que fazer. Eu reconheço e essa foi minha postura no momento das greves. Eu reconheço que o professor ganha mal no Brasil, historicamente. Nosso interesse é corrigir isso, mas isso precisa ser feito dentro de um equilíbrio financeiro. Porque o Estado não pode só pagar salário, ele tem que investir, tem que melhorar as condições e esse é o desafio que a gente tem. Mas é conversando, construindo, eu sinto que melhorou muito o quadro interno, a boa-vontade da grande maioria. Eu não vejo como a gente não possa construir um cenário cada vez melhor.