O Diário Catarinense começou na segunda-feira uma série de entrevistas com os candidatos ao governo de Santa Catarina. A ordem de publicação segue o critério de representação na Câmara dos Deputados das coligações e partidos. Aos quatro que têm maior tempo de TV – pela ordem: Raimundo Colombo (PSD), Paulo Bauer (PSDB), Cláudio Vignatti (PT) e Afrânio Boppré (PSOL) -, foram feitas cinco perguntas iguais. Os outros quatro candidatos de siglas de menor porte foram convidados a fazer uma apresentação da candidatura.
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Qual é hoje o grande problema do Estado?
É reconhecido, é notório, que o tema saúde cresceu muito. Infelizmente a população é a principal prejudicada. Nós tínhamos já uma reclamação generalizada de falta de assistência. Não é verdade que esse é um problema só do interior, da ambulancioterapia, de quem não têm assistência e vem buscar em Florianópolis a solução. Florianópolis também não tem a solução. É um problema de gestão, de concepção, que nós precisamos rever e trabalhar. O atual governo adota uma estratégia de trabalho para a saúde que está levando a um processo de privatização. E a privatização, todos nós já sabemos: só atende aqueles que têm recursos financeiros. Caso contrário, você fica batendo nas portas, correndo de um lado para o outro, buscando assistência. Esse é um tema fundamental e nós queremos trabalhar a ideia da promoção da saúde. Esse é um enfoque muito distinto do que vem acontecendo atualmente, onde se tem a cura da doença. Hoje a política de saúde é a cura da doença e para nós é, fundamentalmente, a inversão disso: a promoção da saúde. Para isso, precisamos rever as privatizações. Não concordamos com a lógica de passar um serviço público essencial para as organizações sociais. É um nome muito bonitinho, muito pomposo, mas na realidade quem está gerindo a saúde, e não foi eleita para isso, é uma empresa chamada SPDM, Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, que o povo nem conhece.
No início da próxima gestão, as secretarias regionais vão completar 12 anos de implantação. Qual o plano para essas 36 estruturas em sua gestão?
As secretarias regionais padecem de um grande problema: foi uma forma de levar assistência, serviços públicos, atenção para a população do Estado. O que já vinha ocorrendo pelas secretarias setoriais, porque elas mesmo tinham lá suas representações, e a própria dinâmica do Estado abria a discussão sobre todo o território de Santa Catarina. Mas ela tem um problema que é de distribuição física e territorial, com várias estruturas espalhadas pelo território. Mas a população precisa entender que o erro não está em levar o serviço público para o Estado, o erro está em que o governo não desconcentrou. São dois conceitos que precisam caminhar juntos. Descentralizar é uma coisa, desconcentrar é outra. O poder político continua concentrado nas mãos de três secretários que são superpoderosos e têm a confiança do governador. São aqueles que mandam no governo, o chamado grupo gestor. Eles concentram poder. É esse o balanço que devemos fazer depois de 12 anos. O secretário regional fica lá na ponta, no balcão, recebendo a comunidade, os prefeitos, as entidades empresariais, os vereadores, mas ele não tem tinta na caneta e acaba transferindo tudo novamente. Existe outro problema que é a falta de sincronia. Lá numa secretária regional tem um gerente de saúde e um gerente de educação. Esse gerente foi nomeado por uma lógica político-partidária e responde ao secretário regional. O secretário de Educação não consegue dialogar com o representante da área lá embaixo. Há um desencontro de ideias, uma falta de sincronia de políticas públicas. É preciso fazer uma revisão. Eu acho que a principal motivação nesse momento é não usar as secretarias regionais como hoje estão usando, como comitê partidário, como se fosse um escritório político do governo, mas fazer dela um espaço de atendimento da população. Não se trata de se opor ao atendimento dos serviços da população, mas de rever totalmente essa estrutura.
Santa Catarina sofreu nos últimos anos com atentados ordenados diretamente das cadeias. Como garantir que essa situação não se repita?
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Essa é uma pergunta muito importante e aproveito a oportunidade para lembrar que nós temos no partido uma preocupação muito grande sobre esse assunto. Nosso candidato ao Senado, sargento Amauri Soares, é uma importante liderança da Aprasc, muito experimentado no tema da segurança pública. Meu candidato a vice é o sargento Armindo Maria, de Blumenau. Temos discutido muito esse assunto. O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. Precisamos dignificar o atendimento dentro do próprio sistema penitenciário. Segundo, todo mundo sabe que existe um comando lá dentro, mas há uma benevolência. Aqui em SC o governo afrouxou, fez uma pactuação com os setores que mandam lá dentro. Preso tem que ficar preso com dignidade. Geladeira, churrasquinho, cervejada, como temos visto, são formas que vão criando um amiguismo nas relações e criam problemas aqui fora. Precisamos repensar todo o modelo. SC fracassou. Prova disso foram os ônibus incendiados, o pânico espalhado por várias vezes. É demonstração de falta de capacidade gerencial do próprio governo. Nós do PSOL achamos que é possível inclusive atender bem os próprios trabalhadores do sistema prisional. É preciso valorizar esse trabalhadores.
Ambulancioterapia é uma palavra que faz parte do dicionário político de SC há muitas campanhas eleitorais. O fim do transporte de pacientes do interior para tratamento na Capital é uma meta atingível?
Eu dialogo com os técnicos do setor. Sei que tem determinados exames que são de alta complexidade. Então, dizer que vamos conseguir colocar esses equipamentos, que muitas vezes são caros, em todas as regionais, em todos os municípios, não seria uma postura correta e ética de um candidato. Mas hoje não é isso que está acontecendo. A ambulancioterapia não acontece por falta de equipamentos. Hoje, inclusive, no próprio diagnóstico, as pessoas são trazidas a Florianópolis para serem atendidas por um clínico-geral, por um especialista. O próprio diagnóstico faz a movimentação das ambulâncias, o que nós achamos que é um erro. O atendimento primário diminuiria muito esse problema que nós carimbamos como ambulancioterapia e que hoje em dia já tem onibusterapia, porque eles vêm em grandes multidões. Tem prefeito que se reelege prometendo comprar ambulância nova. Tem deputados que fizeram desse sofrimento e da dor do povo, espaço eleitoral. Montaram casas de acolhimento para recepcionar seus eleitores que vêm do interior e ali tem um tratamento vip. Isso acaba dando dividendos eleitorais. O que estão fazendo com o povo catarinense é muito grave e o governo tem que bater mesa. Dizer que vai acabar com esse tipo de situação.
A implantação do piso nacional dos professores em SC foi traumática, com ações no STF, greve, votações tumultuadas. O que o senhor pretende fazer para em relação à chamada descompactação da tabela salarial do magistério?
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Lamentamos o governador atual e o anterior foram reclamar no Supremo Tribunal Federal a constitucionalidade da aplicação do piso nacional, infelizmente. Não entendemos como o governo se ajoelhou na questão da quebra do teto para os oficiais da Polícia Militar e dos delegados da Polícia Civil. Aceitou a quebra do teto e foi contra a aplicação do piso, o que considero uma postura irresponsável do governo. Nós precisamos entender que o piso nacional de salários, que foi uma luta dos professores do Brasil inteiro, ele é muito bem-vindo, ele não é o problema. Ele é o começo de uma solução. Aqui em Santa Catarina, ele desalinhou a carreira. Professores que tinham mais tempo na função, maior titulação, pós-graduação, ficaram com os salários achatados. Qual é a solução? Sentar na mesa, chamar todos os atores sociais, conversar com o sindicato. Fazer, inclusive, uma auditoria da dívida pública, que é uma caixa-preta, ninguém quer tocar nesse assunto. Mostrar que é possível descompactar essa tabela no médio prazo, com uma política de reajustes que vá devolvendo as diferenças para o magistério. Seria uma irresponsabilidade da nossa parte dizer que é possível fazer nisso num canetaço, sem conversar com os atores sociais. É preciso criar um ambiente de análise, conciliada com elementos técnicos, com caixa, porque é preciso dinheiro para fazer o pagamento, mas com muita vontade política de fazer com que a educação seja priorizada. Uma boa educação com um professor mal remunerado nunca vai acontecer.