O Diário Catarinense começou na segunda-feira uma série de entrevistas com os candidatos ao governo de Santa Catarina. A ordem de publicação segue o critério de representação na Câmara dos Deputados das coligações e partidos. Aos quatro que têm maior tempo de TV – pela ordem: Raimundo Colombo (PSD), Paulo Bauer (PSDB), Cláudio Vignatti (PT) e Afrânio Boppré (PSOL) -, foram feitas cinco perguntas iguais. Os outros quatro candidatos de siglas de menor porte foram convidados a fazer uma apresentação da candidatura.
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Qual é hoje o grande problema do Estado?
O grande problema de Santa Catarina é a falta de planejamento. Nos últimos anos foi criado um governo máximo, em cargos de confiança, e um Estado mínimo. E nós não temos uma ferrovia que atravesse o Estado, um aeroporto bom, uma estrada atravessando o Estado duplicada, um programa para resolver o saneamento básico. Temos piores índices de saneamento básico do Brasil e isso nos envergonha. Precisamos retomar o planejamento para enxergar a Santa Catarina dos próximos 20 anos. Que saúde vamos ter em 20 anos, que educação, que estradas, que portos, qual o desenvolvimento econômico teremos, quais as matrizes novas do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico para que a gente possa acompanhar e evoluir à frente do mundo e não atrás do mundo. Quando a gente olha o serviço público: precisamos ter segurança de primeiro mundo, educação comparável à de primeiro mundo, não só a melhor do Brasil. E decidir o que somos capaz de fazer em quatro anos. Isso é retomar o planejamento, Santa Catarina hoje não tem planejamento. Além disso, precisamos fortalecer o papel do serviço público, que nos últimos anos foi desmantelando. A Casan, a Celesc, a segurança pública, a Epagri, a Cidasc, que deixaram de prestar serviços que são importantíssimos para o cidadão catarinense.
No início da próxima gestão, as secretarias regionais vão completar 12 anos de implantação. Qual o plano para essas 36 estruturas em sua gestão?
Primeiro, nós vamos terminar com as regionais. As regionais viraram uma acomodação para as pessoas que perdem as eleições. Elas não serviram para o desenvolvimento regional. A ideia inicial do Luiz Henrique foi boa. O jeito como ela foi implementada, eu acho que tem problemas. Criou uma superestrutura em Santa Catarina. Nós temos hoje 52 secretarias de Estado. É maior do que o Brasil, é muito grande. Isso consome, só nas regionais, R$ 500 milhões por ano no custeio. Seja no salários, nas diárias, água, luz, aluguel, outras coisas que as regionais possam ter. Com R$ 500 milhões nós resolvemos os problemas da segurança e da saúde. Nós acabamos com as filas da saúde, com metade desses recursos, em menos de dois anos. Nós resolvemos um dos grandes problemas de Santa Catarina que é a segurança pública, a falta de efetivo, a falta de tecnologia. E fazemos a descentralização de verdade. Trabalhamos a ideia de fazer o governo itinerante, um governo que vá próximo da sociedade. Um dia por semana a gente descentraliza a sede do governo. Temos 21 associações de municípios. Nessas associações, se instala o conselho de desenvolvimento econômico social regional, discute a política de desenvolvimento, desde o serviço público até a matriz industrial, mapeia, faz a debate, descentraliza o recurso. À tarde, atende os prefeitos, os empresários, o movimento social. Aproxima a relação do governo com a sociedade, acaba com o intermediário e economiza recurso para o Estado fazer mais serviço público para melhorar a vida do cidadão. Dá para fazer muita coisa a mais sem a regional. Além disso, o governador e o governo do Estado estão muito distantes da sociedade. A gente aproxima essa relação com as pessoas e constrói uma oportunidade diferente de as pessoas enxergarem o secretário de segurança, o de saúde. Em 21 semanas a gente volta àquela região, ao município, e volta prestando contas do serviço que a gente construiu naquele período, naquele entendimento. Isso também bota o governo do Estado a trabalhar mais. Quem está responsável pela delegacia regional, pela coordenação da Educação na região, pelo Deinfra na região, pela saúde, vai ter que prestar contas também. Isso aproxima o cidadão sem precisar das regionais.
Santa Catarina sofreu nos últimos anos com atentados ordenados diretamente das cadeias. Como garantir que essa situação não se repita?
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Tenho falado que precisamos ser implacáveis no enfrentamento ao crime organizado. O crime organizado cresceu em Santa Catarina nos últimos anos. Cresceu porque vai se constituir onde não tiver uma fiscalização direta, um enfrentamento direto a ele. Vivemos situações, que as pessoas contam para a gente, muitas vezes, de ver um assalto numa agência dos Correios e o cidadão ligar para o policial e o policial perguntar: “quantos são? que armas estão usando? Temos dois policiais e dois .38”. Ou seja, a polícia não está equipada para fazer o enfrentamento e não tem policiais para fazer o enfrentamento. Tem que ser implacável contra o crime organizado e contra quem tira a vida. Isso tem que está no gabinete do governador. Nós precisamos de uma ação efetiva no enfrentamento do crime organizado, com tecnologia, com inteligência, com o policial preparado. Hoje a Polícia Civil de Santa Catarina tem menos de 3 mil no efetivo e 1,2 mil se aposentado. Vamos ficar com 2 mil no efetivo para o Estado inteiro. A maioria dos municípios pequenos não tem nem um policial civil. Aliás, tem município pequeno que tem um policial militar. Não tem nem um para dirigir a viatura e outro para ir atrás do bandido. E muitas cidades cortadas por BRs ou SCs movimentadas. Esse desmantelamento da Polícia Militar é visto. Tínhamos 12 mil policiais militares há 30 anos atrás. Até podia ter um pouco mais à época, que tinha o regime militar fechando. Mas hoje temos 11 mil e 46 por mês vão para a reserva remunerada. Agora tem 800 que em setembro vão para a reserva remunerada. Precisava formar quase 5 mil pessoas em quatro anos, em Santa Catarina, para garantir que 3 mil vão para a reserva e 2 mil novas. Esse governo, em 12 anos, não formou 5 mil. É evidente a falta de policial. Então, precisamos construir a partir da tecnologia nova, de cercas eletrônicas, a partir do investimento em tecnologia, do enfrentamento ao crime organizado, de no gabinete do governador ter uma prestação de contas em uma ação articulada às várias polícias de Santa Catarina, podemos ter uma condição de ser um Estado reconhecido com uma política de segurança comparável à dos países mais seguros do mundo.
Ambulancioterapia é uma palavra que faz parte do dicionário político de SC há muitas campanhas eleitorais. O fim do transporte de pacientes do interior para tratamento na capital é uma meta atingível?
É uma meta atingível. É preciso fazer outras coisas além disso. Precisamos construir condições de credenciar especialidades em regiões diferentes do Estado. O que acontece hoje? Não temos um programa de rede que credencie especialidades diferentes em regiões diferentes. Só nas cidades-polo. Precisamos ter especialidade credenciada em Itapiranga, Palmitos, Araranguá, Mafra, Canoinhas, Curitibanos, Joaçaba. Pela experiência que temos, se a gente criar uma rede de especialidades onde a alta complexidade seja bem atendida e a rede consiga trabalhar entre ela, a gente vai resolver boa parte do problema da ambulancioterapia. Mas outro problema maior é que se o cara entra na fila da cirurgia, o Estado chega a pagar três vezes os exames para a pessoa fazer a cirurgia. Porque o Estado não é eficiente. O Estado não atende as pessoas próximos de suas regiões e não atende no tempo. Se essa cirurgia foi marcada e tem que fazer três vezes o exame, é três vezes o custo. A pessoa fica sofrendo para fazer os exames e, muitas vezes, quando chega na hora da cirurgia não vale o exame porque já faz um ano. Precisamos garantir que também a média complexidade seja atendido perto das pessoas. E precisa ser feita com recurso público maior. Metade do dinheiro das regionais, vamos investir na saúde. Em um ano nós vamos resolver o problemas das filas. Até um pouco antes ou um pouco mais. Mas essa ambulancioterapia, com certeza, Santa Catarina vai ver o fim dela no nosso governo, porque nós vamos fazer investimento diferenciado tanto no credenciamento de especialidades novas quanto em equipar os hospitais de regiões diferentes, repassar recursos e garantir mais médicos especialistas, com os próprios médicos catarinenses que estão aí colocados.
A implantação do piso nacional dos professores em SC foi traumática, com ações no STF, greve, votações tumultuadas. O que o senhor pretende fazer para em relação à chamada descompactação da tabela salarial do magistério?
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Primeiro, o piso ainda não foi cumprido em Santa Catarina. O governo não cumpriu o piso na carreira do magistério. E eu votei, como deputado federal, o piso. Não para Santa Catarina. Votamos imaginando que quem cumpriria esse piso seriam outros Estados. Que Santa Catarina seria o primeiro. Se temos índices educacionais elevados, teríamos que ser os primeiros. Infelizmente não aconteceu isso. Não tem um processo de valorização. Se o professor fez pós-graduação, mestrado, doutorado, não tem uma política de valorização. Essa política de valorização se dá não só pelas condições para fazer a pós, mas também pelo retorno que ele pode dar para o Estado do ponto de vista educacional. Em um grupo de dez professores, se um está fazendo mestrado, já vai contribuir para o debate político. Imagina o que ganha a sala de aula, o que ganha aquela escola? Mas ganha se ele estiver motivado para isso. Então, precisa uma projeção salarial diferenciada. Precisamos descompactar a carreira, criando uma carreira nova, tendo o piso no início da carreira. Mas, mais do que isso, a escola em Santa Catarina está ultrapassada. Nós nos escondemos atrás dos índices que conquistamos ao longo da história. Ter a melhor formação acadêmica do Brasil, a melhor frequência escolar, não é suficiente. A nossa escola está velha e ultrapassada. Por isso, 43% dos estudantes de Ensino Médio estão fora da sala de aula. A nossa juventude está no tablet, no smartphone, e a nossa nossa educação ainda está no tempo do telefone discador. Não tem uma lousa digitalizada, não tem wi-fi na escola, coisas básicas. Não tem uma biblioteca digitalizada. Podíamos ter um acervo extraordinário, uma biblioteca digitalizada, a serviço do cidadão catarinense, não só da comunidade escolar. E se for só da comunidade escolar, com acesso pela matrícula de cada estudante, garantindo a oportunidade do novo. Tem que capacitar o professor para isso e investir na carreira do magistério. Mais de 40% dos professores são ACTs. Que carreira é essa? Em algumas áreas das exatas não tem nem professor habilitado para dar aula. Não podemos nos esconder atrás dos índices conquistados. Nós podemos conquistar a melhor segurança do mundo, a melhor saúde do mundo, mas nós temos o dever de estar entre as melhores educação do mundo. Santa Catarina pode conquistar e tem condições de conquistar isso. É só articular com nossas universidades públicas e comunitárias e as privadas, inclusive, e repensar nosso modelo educacional.