Diretor-presidente da Espaço Aberto Ltda, o empresário reconhece o atraso nas obras da Ponte Hercílio Luz, mas garante que os carros vão poder trafegar pelo local até dezembro.
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Nesta entrevista, concedida na tarde de quarta-feira, Paulo Ney Almeida falou sobre os frequentes atrasos em obras assumidas pela construtora e a polêmica envolvendo o alto número de aditivos nos contratos. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.
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Diário Catarinense – Por que as obras da ponte estão atrasadas?
Paulo Ney Almeida – Não estão atrasadas. Houve alterações na execução do projeto devido à complexidade da obra. A Hercílio Luz é uma coisa viva, tem que fazer estudos constantes para saber quais as condições da estrutura. Gente do Brasil inteiro e até do Exterior analisaram a obra. Com esses estudos alteramos a maneira como vamos sustentar a ponte.
DC – As obras não estão atrasadas?
Almeida – Estamos um pouco (atrasados) porque mudamos a maneira de montar, por uma questão de segurança.Vamos apresentar dia 5 um cronograma ao governador e mostrar como vamos entregar a obra no final do ano. O importante é garantir que a ponte possa ser usada. Vai passar carro até dezembro. Depois vamos pintar, desmontar aquela armação debaixo, o que pode levar um pouco mais de tempo, uns três meses.
DC – O dinheiro para as obras continua sendo liberado?
Almeida – Está sendo tudo pago, está tudo certo, tem dinheiro.
DC – Houve aditivo na obra?
Almeida – Como trocamos a metodologia de trabalho, foi feito um aditivo, coisa normal em qualquer obra. Aditivo é feito quando se precisa realizar novos serviços. Não é para ganhar dinheiro. A ponte tem mais coisa enferrujada do que achavam.
DC – A Espaço Aberto está com grandes obras públicas em andamento no momento em Florianópolis e Porto Alegre. Todas, segundo os cronogramas, fora do prazo. Qual é o problema?
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Almeida – Tem que analisar obra a obra. O que posso te dizer é que eu tenho 32 anos de empresa, fazendo as maiores obras no Sul do Brasil, todas entregues. Nunca deixei de entregar uma obra. E ainda é pouco. Você esqueceu de dizer aí que eu tenho um dos maiores reflorestamentos de Santa Catarina. Nem 50% das nossas obras são públicas. O resto é privado. Ninguém dura 32 anos no mercado se não tiver competência para fazer. Nunca tivemos um contrato rescindido.
DC – Mas e os atrasos?
Almeida – Cada obra tem seu prazo. Se a obra aumentou, se atrasou.Depende de cada obra. Tens de ir em cada lugar e perguntar: atrasou por quê? Se eu atrasar uma obra sem razão não tenho porque continuar na obra, vão me tirar dali. Muitas vezes atraso a obra porque não faço o projeto, só pego e executo o que me dão. Atrasar uma obra me dá prejuízo. Quanto antes eu fizer, mais dinheiro ganho. Essa rótula de Ingleses, por exemplo, estou com um monte de tratores lá, vou entregar no final do ano. Prometi e vou fazer.
DC – Mas é normal haver atraso?
Almeida – Vou dizer uma coisa: não considero atraso quando se entrega uma obra, as pessoas recebem e te dão o atestado de qualidade, de obra perfeita. Em todas as obras que entreguei tenho atestado de qualidade e capacidade técnica. Não tem atraso em obra nenhuma. Até porque isso vira uma questão jurídica.
DC – Há na Justiça ações dos Correios contra a Espaço Aberto alegando que a obra de São José “está em andamento até hoje”. O que houve?
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Almeida – Tanto foi entregue que quem inaugurou foi o presidente Lula. E eles estão usando. A obra está sendo usada 100%. Acho até que eles me devem (dinheiro). É a Justiça que resolve essas coisas.
DC – Auditorias do Tribunal de Contas da União observam o número considerável de aditivos pedidos pela Espaço Aberto na conclusão de várias obras. A sede do Tribunal de Contas, inclusive, foi construída pela Espaço Aberto. É comum esse número de aditivos?
Almeida – É tão comum que onde houve o maior número de aditivos foi no prédio do Tribunal de Contas. Pergunta pra eles por que. Eles acham, porque são da lei, que se trocar uma coisinha tem que fazer um aditivo. Eu não fiz um banheiro, então faço um aditivo para tirar esse banheiro dali. Eu fiz dois (banheiros), faço outro aditivo pra colocar. Tira. Bota…
DC – Isso não seria estratégia para vencer a licitação, jogar o valor da obra para baixo e depois readequá-lo?
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Almeida – Não, não concordo. Se você tiver um preço muito ruim, tu não faz a obra dentro dos critérios. E, se os órgãos (te) dão (a obra) é porque a empresa tem capacidade. Toda a obra pública é supervisionada. Não tem nada de superfaturamento, não tem nada de obra ruim. É até desconfortável, fico um pouco chateado. Você me pergunta: você atrasa, você faz isso, faz aquilo… Pô, se alguém disser “você cobrou cinco vezes mais caro” daí é outra história. Mas você não me fez nenhuma pergunta dessas porque não tem esse tipo de coisa. É isso… vou parar de falar, pois já falei muito.
DC – Essas notícias de atrasos prejudicam a Espaço Aberto na disputa de licitações?
Almeida – Para efeito de disputa de concorrência não prejudica em nada, mas é claro que a gente não gosta. Você acha legal alguém falar do seu trabalho, dizer que você fez um negócio mal feito. Eu não gosto.
DC – Mas são pontos que os auditores questionam…
Almeida – Não sou eu que faço, quem faz (o aditivo) é o governo, o auditor. Isso aí, me desculpa, não existe, é balela.
DC – Mas então por que o senhor acredita que há tantos questionamentos sobre atrasos e aditivos? É coisa da concorrência?
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Almeida – O que eu sei é que temos 32 anos de história e vamos crescer ainda mais. Somos uma empresa familiar, vou deixar tudo para o meu filho e daqui 30 e poucos anos quero que o meu filho esteja aqui, respondendo um monte de perguntas. É o meu legado.
“Os projetos não são fidedignos”, Cornelius Unruh, Engenheiro de Planejamento da Espaço Aberto
Com base em novas informações, na sexta-feira o DC entrou pela segunda vez em contato com a Espaço Aberto, que escalou o engenheiro Cornelius Unruh para complementar a resposta da empresa. Confira os principais trechos
Diário Catarinense – O Sistema Integrado de Controle de Obras Públicas (Sicop) mostra que a Espaço Aberto recebeu R$ 24 milhões em aditivos de sete obras que realizou em Santa Catarina. É um valor aceitável?
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Cornelius Unruh – Considerando o volume de obras é até um montante pequeno. Se você olhar a Lei de Licitações (Lei 8.666) verá que há um artigo que trata da questão. Por que isso já está na lei? Por que sabe-se que o processo é falho. Os projetos, na verdade, não são fidedignos. Se você trabalhar na Alemanha, nos EUA, você encontra projetos da construção civil em 3D. Aqui, ainda estamos em duas dimensões, você entrega o projeto para um engenheiro civil fazer o cálculo estrutural, um engenheiro mecânico para cuidar do ar-condicionado e às vezes os dois não conversam.
DC – A maioria dos projetos tem de ser adaptada?
Unruh – É necessário adequar o projeto àquilo que está sendo executado. E a própria lei prevê essa adaptação. Em obras novas, existe o limite de 25% (em aditivos). Em reformas, é de 50%. Quando se coloca isso em licitação, é porque o processo é falho.
DC – Mas é a construtora que pede o aditivo.
Unruh – Nem sempre. Muitas vezes o próprio órgão vai dizer que vai melhorar o projeto. Pode vir de interesse da instituição ou porque a construtora identificou alguma falha ou alternativa.
DC – O TCU determinou à Espaço Aberto a devolução de R$ 1,9 milhão que teriam sido pagos pelas obras do Complexo Penitencário São Pedro de Alcântara.
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Unruh – É necessário analisar quanto tempo durou esse contrato, em que época foi assinado, qual a variação de preços. Você se planeja para um ano, mas a obra dura cinco anos.
DC – Mas a Espaço Aberto devolveu esse R$ 1,9 milhão…
Unruh – Houve um processo administrativo, foi um reequilibrio econômico-financeiro, não tem nada a ver com serviços adicionais. É análise de preços unitários e despesas indiretas em função do contrato. E a Espaço Aberto provou que houve variação, pelo menos numa parte. E esse reequilibrio é uma questão prevista dentro do próprio contrato.
DC – Com relação ao prédio dos Correios, relatório da CGU fala em “sobrepreço de R$ 9,5 milhões” nas obras.
Unruh – Esse é um processo antigo, não tenho muitos detalhes, estava em Joinville na época, numa outra obra. De qualquer maneira, é uma questão que ainda está na Justiça. Ainda não tem nada definido, não tem nada transitado e julgado. Estamos com uma demanda e queremos receber. Isso é uma questão que está sendo discutida. Houve o prejuízo e a Espaço Aberto quer que haja o ressarcimento.
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DC – Em Joinville, o TCE fala em um prejuízo de R$ 201,7 mil aos cofres públicos nas obras do Hospital Infantil.
Unruh – Numa obra de talvez R$ 80 milhões hoje, não é tanto dinheiro assim… Esse troço já tem bastante tempo, não existe nada na Justiça. É um exemplo. Você se programa para ficar um ano na obra e veja quanto tempo se levou para concluir aquele hospital porque não havia dinheiro.