Quando o contrato foi assinado com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, em 2001, a previsão era de que as obras fossem concluídas em 360 dias. Mas a Espaço Aberto, a mesma construtora que está restaurando a Ponte Hercílio Luz, levou seis anos até entregar a construção do Centro Operacional e Administrativo, onde é feita a triagem de quase toda a correspondência que chega ou sai de Santa Catarina.

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A estatal acabou aplicando multas que somadas chegam a R$ 8,4 milhões em função de atrasos e rescindiu contrato com a construtora – o que ainda se discute na Justiça.

O caso virou alvo de investigações no Tribunal de Contas (TCU) e na Controladoria-Geral da União (CGU), que apontaram suposto prejuízo de R$ 9,2 milhões aos cofres públicos. Isto em função de sobrepreço gerado a partir de uma renegociação do contrato, três anos após a construtora vencer o processo de licitação – e quando as obras já deveriam estar prontas.

Contratada por R$ 21,2 milhões, a obra teve quatro aditivos solicitados pela Espaço Aberto no primeiro ano dos trabalhos, o que teria prolongado e encarecido o serviço. Na época, a construtora argumentou problemas técnicos que não haviam sido constatados durante a elaboração do projeto e por isso exigia custos adicionais.

O atraso motivou a primeira tentativa de rescisão de contrato, que acabou em negociação judicial: a Espaço Aberto se comprometia em pagar as multas, mas a tabela de custos teria de ser atualizada.

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A negociação ocorreu em 2004, quando faltavam cerca de 50% para conclusão da obra, e o novo aditamento foi de R$ 22,8 milhões – valor superior ao previsto no contrato original para custear todo o serviço.

Segundo a CGU, é na elaboração desta nova tabela de preços que se constata suposto prejuízo aos cofres públicos. Isto porque os valores renegociados estariam em desacordo com o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC).

Alguns itens da tabela, como o serviço de paisagismo, apresentavam aumento de quase 4.000% – enquanto a tabela atualizada pelo INCC apontava menos de 130% de inflação no mesmo período e pelo mesmo serviço prestado.

Na época, o diretor-presidente da Espaço Aberto, Paulo Ney Almeida, foi convocado a depor sobre o caso na CPI dos Correios. Em Brasília, Almeida contestou os relatórios que apontavam irregularidades na tabela de preços.

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Ele disse que o acordo que resultou no aumento de custos se deu após cinco meses de negociação e que a atualização dos valores foi feita de acordo com o preço de mercado, mantendo inclusive desconto de 11,69% que havia sido dado pela empresa na época da licitação.

CGU alerta para modo de atuação

Nas considerações finais da auditoria, a CGU alerta que a atualização da tabela de preços, da maneira como foi feita, “estaria abrindo precedente para que empresas adotassem o mesmo procedimento, que é o de reduzir a margem de lucro para ganhar o processo de licitação, protelar a execução do contrato provocando a rescisão pela contratante e depois contestar judicialmente a decisão, tendo assim a margem de lucro recuperada”.

A obra foi concluída em 2007, em meio a aplicação de multas e uma nova determinação dos Correios para rescindir o contrato. Segundo a superintendência da estatal em SC, o prédio foi ocupado sem que todos os itens do contrato estivessem cumpridos. A partir de então a discussão entre Correios e construtora se desenrola na Justiça.

Duas ações foram movidas pelos Correios: uma cobrando multas em função dos atrasos, no valor de R$ 8,4 milhões, e a segunda pedindo o pagamento de R$ 2,5 milhões referentes a impostos – ambas foram consideradas procedentes pela Justiça, mas a construtora recorreu.

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A Espaço Aberto, por sua vez, ingressou com sete processos judiciais. Três deles foram arquivados. Os demais continuam em julgamento – eles pedem a anulação das multas e da rescisão e cobram R$ 1,5 milhão em serviços que teriam sido executados, mas que não teriam sido pagos, e solicitando um atestado de reconhecimento da obra.

Obras entregues depois do prazo (Veja lista de obras em andamento pela Espaço Aberto também atrasadas)

Teatro Pedro Ivo

Obra: construção do teatro

Início: 2005

Previsão de entrega: oito meses

Atraso: três anos

Valor: R$ 3,8 milhões (sendo R$ 1,1 milhão em aditivos)

Correios

Obra: construção do Centro Operacional e Administrativo

Início: 2001

Previsão de entrega: 2002

Atraso: cinco anos

Valor: R$ 21,4 milhões (houve renegociação de contrato e faltando 50% das obras o valor inicial aumentou em R$ 22,8 milhões)

Hospital Infantil de Joinville

Etapa 1 (construção do prédio)

Início: 1997

Previsão de entrega: 1999

Atraso: cinco anos

Valor: o total não consta no sistema

Etapa 2 (obras de complementação)

Início: 2006

Previsão de entrega: oito meses

Atraso: sete meses

Valor: 12,7 milhões (sendo R$ 1,1 milhão em aditivos)

TCE

Obra: construção da sede

Início: 2008

Previsão de entrega: 2010

Atraso: dois anos

Valor: R$ 25,3 milhões (sendo R$ 3,7 milhão em aditivos)

São Pedro de Alcântara

Obra: construção de penitenciária

Início: 1997

Previsão de entrega: 1999

Atraso: três anos

Valor: R$ 13,1 milhões (sendo R$ 5,7 milhão em aditivos)

Canhanduba

Obra: construção de penitenciária

Início: 2008

Previsão de entrega: 2009

Atraso: três anos

Valor: R$ 7,4 milhões (sendo R$ 1,5 milhão em aditivos)

Aeroporto de Jaguaruna

Etapa 1 (terminal de passageiros)

Início: 2009

Previsão de entrega: um ano

Atraso: dois anos

Custo: R$ 6,8 milhões (sendo R$ 848,3 mil em aditivos)

Etapa 2 (construção do serviço de combate a incêndios)

Início: 2010

Previsão de entrega: três meses

Atraso: dois anos

Custo: R$ 577 mil (sendo R$ 22,3 mil em aditivos)

Barragem Sul

Obra: recuperação

Início: 2007

Previsão de entrega: seis meses

Atraso: um ano

Valor: R$ 798,4 mil (sendo R$ 113,5 mil em aditivos)