Passados dois dias da violenta madrugada que resultou na morte de sete pessoas em Joinville, a reportagem de “A Notícia” procurou moradores e familiares de algumas vítimas das regiões onde ocorreram os assassinatos. Para a polícia, existe a possibilidade de que pelo menos seis crimes, em que as vítimas foram executadas a tiros, estejam interligados.

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Joinville registra sete homicídios em cerca de três horas neste domingo

Momentos de terror na zona Sul de Joinville, relatam moradores

A cúpula da Segurança Pública do Estado tratou o caso como briga por território, entre facções criminosas rivais. Já a Divisão de Homicídios de Joinville, responsável pela investigação, considera a tese de disputa por pontos de tráfico e o possível envolvimento de facções, embora não descarte também outras possibilidades. Para a maioria dos moradores ouvidos pela reportagem do “AN” nos bairros da zona Sul, os crimes não estariam relacionados à guerra entre facções.

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Delegado que investiga o caso diz que vítimas eram usuárias de drogas

‘É possível que estejamos falando de uma disputa territorial com relação ao tráfico de drogas’, avalia delegado regional

No Paranaguamirim, uma das vítimas foi assassinada dentro de casa. André Manolo Corrêa, 35 anos, dormia com a esposa no quarto ao lado do dos filhos de sete, 10 e 12 anos, quando levou três tiros. Logo após o crime, a casa dele foi incendiada (foto). As crianças e a mulher não se feriram. Segundo os familiares, André era, sim, usuário de maconha, mas trabalhava e, aparentemente, não tinha inimizades.

Um parente de Diogo da Rocha Garbari, 27, morto a poucos metros da casa de André, acredita que as mortes dele, de André e de um terceiro conhecido, Daniel Alves de Lima, 32, tenham sido motivadas por uma discussão.

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– Foi uma briga, não foi facção, não foi nada – argumentou.

No bairro Fátima, o que chamou a atenção dos moradores foi a maneira como Adão Pereira da Silva, 37; Ederson Bonette Barbosa, 27; e Alex Muniz Evaristo, 28, foram assassinados. A polícia já havia identificado que pelo menos dois deles teriam sido executados de joelhos dentro de uma casa em construção (foto), na rua Guanabara. O terceiro foi encontrado em uma rua próxima, a Vasco da Gama. Uma moradora disse ter visto a terceira vítima correndo e caindo no chão durante a madrugada.

– Eu ouvi os tiros e vi um homem passando correndo, depois ele caiu ali na frente. A gente chamou a polícia, mas demoraram a aparecer.

Outros moradores disseram que as vítimas eram usuárias de drogas e que costumavam ficar sentadas no lado contrário da rua onde foram executadas.

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– Um carro parou na rua aqui do lado. Eles desceram, pegaram os três e levaram para uma construção. Eles foram executados de joelhos e com as mãos na cabeça – contou um morador.

Os moradores ouvidos pela reportagem suspeitam que a ação tenha sido uma retaliação à tentativa de homicídio do policial militar Alexandre Padilha, baleado com dois tiros na cabeça, na madrugada da noite anterior à série de mortes. Nos dois bairros, há reclamações de falta de segurança.

Contraponto

A PM abriu inquérito militar para apurar a tentativa de homicídio contra o policial Alexandre Padilha. A Polícia Civil também apura a tentativa de homicídio contra o PM. Em nota, o comandante do 17º Batalhão, tenente-coronel Hélio Puttkammer, diz que “no processo penal, existe a obediência ao princípio da verdade real. O Estado se satisfaz com os fatos que podem ser verdadeiramente comprovados. Portanto, não bastam declarações, atos meramente formais, etc. Para instaurar inquérito, exige-se a comunicação de um fato que, em tese, é criminoso.” Puttkammer afirma que determinou a instauração de inquérito para apurar as circunstâncias da tentativa de homicídio contra o policial e a “subtração” da arma. Reforça ainda que caso existam denúncias envolvendo policiais, elas serão apreciadas pela corregedoria.

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* Os moradores e familiares entrevistados pela reportagem não foram identificados por questões de segurança