Em entrevista ao jornal “A Notícia” na manhã desta segunda-feira, o delegado regional Dirceu Silveira Júnior falou sobre a motivação dos assassinatos em Joinville e o andamento da investigação das sete mortes que ocorreram na madrugada do último domingo. Para Dirceu, o pano de fundo de 90% das mortes deste ano, incluindo os crimes do fim de semana, é o tráfico de drogas.
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Na visão do delegado, a oferta de mercado é o maior atrativo aos traficantes que acabam disputando território. Ele não nega que há duas facções criminosas envolvidas nessas disputas territoriais em Santa Catarina (PGC e PCC), mas acredita ser prematura qualquer afirmação nesse sentido.
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A investigação das mortes do fim de semana indicou até o momento que as vítimas têm alguma relação com o tráfico, seja na condição de usuário ou de traficante. Por enquanto, a polícia afirma que os assassinatos da madrugada de domingo não têm nenhuma relação com a tentativa de homicídio ao policial militar Alexandre Padilha, na madrugada de sábado.
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Confira a entrevista:
A Notícia – O Governo do Estado prometeu criar uma delegacia de homicídio especializada e reforçar o efetivo com policiais da reserva. A Polícia Civil já está a par do cronograma dessas ações?
Delegado Dirceu – Essas tratativas estão com a delegacia-geral da Polícia Civil, esse assunto que tem que ser tratado diretamente com eles. Nós estamos recebendo (neste momento) uma equipe de policiais: um delegado (Alexandre Kale) e quatro agentes de polícia. Ele vai se integrar às equipes da Divisão de Investigação Criminal (DIC) junto com o delegado Fabiano Silveira, que está presidindo os inquéritos policiais (do fim de semana). O que nós temos lá é cada delegado com quatro agentes e um escrivão.
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A Notícia – Esse reforço de uma equipe é o suficiente para acelerar os inquéritos de homicídio?
Delegado Dirceu – Nós temos uma carência de mão de obra, então toda mão de obra que receber com certeza é bem vinda. Todas as outras ações como as câmeras (de vigilância) são com certeza importantes, mas ao par disso precisamos do agente de polícia para que ele vá lá na rua e promova a investigação.
A Notícia – Como está o andamento da investigação dos sete homicídios do fim de semana? Já foram identificados os responsáveis?
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Delegado Dirceu – Estamos acompanhando desde ontem (domingo). É muito prematuro ainda para fazer uma afirmação da motivação desses crimes. Claro que temos algumas linhas investigativas e elas passam principalmente pela questão da narcotraficancia, ou seja, uma disputa territorial entre facções criminosas estabelecidas no Estado de Santa Catarina. Isso não é privilégio só de Joinville. Então é bem possível que o resultado dessa investigação caminhe nesse sentindo. Obviamente que podemos ter aí uma situação mascarando essa questão da disputa territorial e alguém pode ter se aproveitado desse fator para cometer esses crimes.
Mas, o que nós estamos trabalhando neste momento é com seis mortes (possivelmente relacionadas) num curto espaço de tempo. (O sétimo crime da madrugada não teria relação com os demais). Três no Paranaguamirim e três no bairro Fátima. As vítimas desses óbitos são, na maioria, pelo menos usuários de drogas e têm alguma relação com a questão do tráfico. As linhas de investigação estão muito abertas para se ter uma conclusão, mas é bem possível que estejamos falando de uma disputa territorial com relação à questão do tráfico de drogas.
A Notícia – Então, é possível afirmar que existem facções criminosas envolvidas nestes crimes?
Delegado Dirceu – A questão das facções ficaria neste universo. Sabidamente que nós temos hoje duas facções que disputam território em Santa Catarina (PGC e PCC). É possível que estejam envolvidas (nas mortes do fim de semana). Mas, para se fazer uma afirmação dessa natureza você precisa ter provas. Mas é provável que se encaminhe para uma conclusão dessa natureza. Essas vítimas na condição de usuárias ou envolvidas com a questão da droga estão num grupos de risco. Numa primeira leitura, remete-se essa situação para uma disputa territorial.
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A Notícia – Sete mortes numa madrugada é algo inusitado em Joinville, como a polícia vê essa situação?
Delegado Dirceu – O que chamou a atenção dessa situação é que os óbitos aconteceram num lapso temporal curto no mesmo dia. Isso poderia acontecer em um dia, dois, três dias. Essas mortes poderiam ter sido diluídas em uma semana, mas elas ocorreram num determinado momento em locais relativamente próximos.
A Notícia – Mas os crimes não estão acontecendo numa velocidade maior do que as investigações?
Delegado Dirceu – Hoje nós temos uma motivação, conseguimos entender porque esse número cresceu. Existe uma influência direta do tráfico de drogas e uma disputa territorial. Quem são as pessoas indo a óbito? São vítimas colocadas em grupos de risco, temos uma exceção, que é aquela criança no Jardim Paraíso (em junho). Dos 90% dos crimes de morte de Joinville, a motivação é única: droga, disputa territorial e vítimas de um grupo de risco.
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A Notícia – Isso quer dizer que o tráfico está tomando conta do território?
Delegado Dirceu – Não, se estivesse tomando conta do território já teria pacificado. Aquela mensagem que diz que eu (cidadão) tenho responsabilidade sobre o que está acontecendo é verdade. A partir do momento que eu vou lá e compro a droga, eu também estou patrocinando o crime. As pessoas também precisam ter essa consciência. Eu giro o dinheiro, a economia do mundo do crime, compro arma, consigo captar um número maior de pessoas que vão trabalhar pra mim no tráfico.
Não é uma ação única da polícia que vai resolver. É um contexto. São ações sociais, de responsabilidade de governo e do próprio cidadão. Por que esse traficante está em Joinville? Porque tem mercado e é rentável. O consumo aumentou significativamente. Eles são organizados. Claro que já tem indivíduos identificados e presos. Mas é assim, um sai (preso) outro substitui.
A Notícia – Quais ações serão colocadas em prática para conter este cenário?
Delegado Dirceu – O que serve pra nós aqui é você direcionar ações, saber quem são as vítimas e a motivação desses crimes. A gente sabe o porquê, quais são as motivações e onde é que estão direcionadas as investigações. Obviamente que não vamos conseguir estancar isso. Para uma intenção de matar é difícil de fazer uma ação que possa estancar. Mas, todos os Tribunais do Júri acontecidos todas as semanas em Joinville são resultantes das apurações feitas pela Polícia Civil. Se aqueles indivíduos estão sendo condenados é porque as investigações policiais permitiram que houvessem provas suficientes. O que a polícia está fazendo é promover toda essa investigação, apurar responsabilidades e encaminhar ao Poder Judiciário.
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