Em carta escrita à mãe no Brasil a qual o DC teve acesso com exclusividade, a modelo catarinense presa em Londres revela falhas no processo em que é ré pelo rapto da própria filha, Rafaely Guiguer Vieira, oito anos.

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Fernanda Guiguer Souza, 29 anos, descreve também o que considera erros no sistema judiciário britânico. A modelo de Criciúma, Sul de Santa Catarina deverá ir a júri popular em 18 de março. Doze jurados decidirão o destino da catarinense grávida de quatro meses.

Com data de 20 de janeiro, a última carta de Fernanda para a mãe que está no Brasil, a técnica em enfermagen Magda Stela Souza, mostra o drama de se estar preso a 10 mil quilômetros de casa, sem domínio do idioma local, sem advogado inglês particular, contando com o apoio consular que o governo brasileiro com pouco efetivo no exterior pode oferecer, e longe da família.

A única parente que Fernanda tem por perto é a filha. Por ironia, Rafaely mora a dez minutos da Holloway Prison, onde Fernanda está detida, mas a menina nem sabe que a mãe está presa. O pai da criança, o ex-jogador de futebol Rafael Isidro Vieira, 30 anos disse que foi aconselhado pela assistência social britânica a agir de forma natural, como se nada estivesse acontecendo.

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Em uma folha de caderno, a modelo Fernanda começa contando que a carta que recebeu da mãe a ajudou a enfrentar a tristeza dentro da prisão. A modelo esperava ser libertada depois da audiência do dia 4 de janeiro, mas a corte foi adiada porque o noivo Wagner Santos estava sem advogado.

Santos é réu no mesmo processo por estar junto com Fernanda durante o rapto e na viagem ao Brasil, em que os dois foram presos pela Europol por estarem levando Rafaely sem o consentimento do pai da criança. O principal motivo para a transferência da audiência, segundo Fernanda com base em seu defensor público britânico, seria a falta de provas contra ela e o noivo.

Outro problema que a brasileira contou foi um erro da corte britânica que teria esquecido de avisar à prisão sobre a necessidade da presença de Fernanda na audiência do dia 18 de janeiro. Ela conta também que espera não ir a júri popular marcado para 18 de março porque então serão “cinco meses presos nesse lugar horrível”.

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Família cobra maior apoio do consulado

A mãe da modelo, Magda Stela Souza contou que até agora não teve acesso ao processo da filha e espera receber as 15 páginas com a acusação e os depoimentos do réus quando Fernanda conseguir selo e envelope para enviar o documento.

Magda diz que o consulado brasileiro tem dado mais atenção ao caso depois que a prisão de Fernanda ganhou repercussão na mídia nacional. Antes, disse que só havia recebido e-mail do consulado, no dia 28 de novembro, comunicando a prisão de Fernanda. Disse que ninguém do consulado ligou para a filha para saber se ela estava bem.

Em e-mail com data desta sexta-feira, o Itamaraty informa à Magda sobre a data da primeira visita (semana que vem) do representante consular à Fernanda – e que este deve verificar as condições de saúde da catarinense e esclarecer as dúvidas dela quanto a comunicação com a família -, o modo como Magda pode se comunicar com a filha por telefone e carta, os dias de visita para a modelo.

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O Itamaraty informa também que enviou fax para o gerente do Departamento de Saúde da HMP Holloway, Richard Comerford, “com solicitação urgente de atenção médica à sra. Guiger”.

Conforme a mãe, Fernanda não está mais com os sangramentos que teve ao longo desta semana e que resultaram em temor de perder o bebê, e que teve atendimento médico na cadeia pela primeira vez esta semana, aos quatro meses de gestação.

Especialista diz que situação é excepcional

Sobre a suposta omissão do governo brasileiro no caso, conforme a família de Fernanda, o especialista em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP), advogado André Lupi observa que o consulado tem um contingente relativamente pequeno para o grande conjunto de atribuições e que prioriza funções cartoriais.

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Lupi lembra, contudo, que o Ministério das Relações Exteriores não presta auxílio jurídico no exterior, e que tem por obrigação apenas saber se o brasileiro conta com acesso a defesa e se sua integridade física está preservada.

O especialista disse que o governo brasileiro tem que reclamar, caso cuidados especiais não sejam garantidos a Fernanda, que está grávida. Mas que não tem obrigação de disponibilizar o processo à família nem dar assistência financeira para compra de selos ou créditos de telefone, por exemplo.

André Lupi diz que “é uma situação excepcional, mas a excepcionalidade está dentro do possível”.

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Ex-marido acha que modelo inventou gravidez

Sobre o julgamento de Fernanda, o ex-marido Rafael conta que foi chamado pela justiça britânica para conhecer o tribunal do juri.

– Eu vou ficar ao lado do juiz, mais para a frente. A Fernanda e o namorado ficarão nos fundos, de frente para o juiz e com policiais ao lado. O julgamento contará com tradutores e deverá ser longo, com até quatro dias – contou Rafael, por telefone.

O ex-jogador de futebol disse que se a modelo for julgada culpada, poderá pegar até sete anos de prisão. E que vai lutar pela guarda da filha na Inglaterra e no Brasil.

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Rafael não confirmou se será testemunha de acusação, mas disse que enviu para o promotor fotos comprometedoras de Fernanda que serão entregues para os 12 jurados.

O pai de Rafaely contou que a filha está bem e que faltam cinco semanas para encerrarem as sessões com a psicóloga da escola. Disse que menina nunca pergunta pela mãe nem pela avó.

Rafael contou que foi até a Holloway Prison. Mas não para levar uma palavra de conforto para a mãe de sua filha.

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– Foi para ver se ela está grávida mesmo. Eu acho que ela inventou essa gravidez para se fazer de vítima – concluiu Rafael.