O governo de Santa Catarina não pensa em alternativas que não seja a reforma da ponte Hercílio Luz e seu retorno ao tráfego. Este é o resumo da atual avaliação do poder público, que repele a ideia de derrubar a estrutura e construir uma nova ligação entre a Ilha de Santa Catarina e o continente nos mesmos moldes da que foi erguida na década de 1920. O posicionamento, no entanto, não impede que especialistas e entidades públicas questionem a validade da manutenção do cartão-postal.

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Investigação aponta gasto de R$ 563 milhões na reforma da Hercílio Luz

Os quatro obstáculos que cercam a restauração do cartão-postal

O Ministério Público de Contas (MPTC), responsável pela investigação que apontou gasto de R$ 563 milhões em obras na estrutura desde a interdição há 33 anos, acredita que esse dinheiro poderia custear a construção de novas e mais eficientes pontes. A de Laguna, por exemplo, tinha um custo inicial previsto em R$ 598 milhões e fechou em R$ 775 milhões, mas tem o triplo de comprimento da Hercílio Luz. Já a JK, em Brasília, foi erguida com R$ 160 milhões que, corrigidos para hoje, chegariam a R$ 360 milhões, mesmo com as suspeitas de superfaturamento que recaem sobre o projeto.

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“Com os impactos financeiros da reforma da ponte Hercílio Luz, pode-se afirmar, pelo menos três pontes poderiam ter sido construídas. Tais números denotam a desproporção e a falta de razoabilidade na gestão pública da referida obra”, afirma o procurador Diogo Ringenberg, autor da investigação.

O secretário estadual de Infraestrutura, João Carlos Ecker, argumenta pela continuidade das obras, pois a empresa portuguesa Empa está prestes a finalizar os pilares de sustentação da primeira etapa da reforma, enquanto que negociações estão em andamento para definir quem finalizará o projeto. Além disso, o cartão-postal é tombado como patrimônio histórico municipal, estadual e federal: está triplamente protegido pela legislação vigente.

Para o professor Werner Kraus Junior, especialista em mobilidade urbana que colaborou na investigação do MPTC, a reforma da Hercílio Luz contribuiria para desafogar o trânsito entre o continente e a parte insular da capital, mas somente para pedestres, ciclistas e transporte público. Só que uma nova ponte pênsil, com as mesmas características da original, seria mais eficiente e comprometeria menos o orçamento estadual:

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– Minha proposta seria construir um museu da travessia que abordasse a importância da ponte Hercílio Luz para SC. Mas entendo que ela poderia ser desmontada e substituída por uma nova. Sobre ela ser tombada, isso é um acordo entre pessoas. A sociedade civil poderia reavaliar isso.

Em poucas palavras, o ex-presidente da Associação Catarinense de Engenheiros Aníbal Borin afirma que deveriam ser aproveitados os atuais acessos existentes para que a Hercílio Luz fosse reconstruída do zero:

– Se essa ponte fosse demolida e feita uma igual, só que com quatro pistas de tráfego, o custo global seria menor. E ninguém mais falaria em quarta ponte.

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Entrevista com João Carlos Ecker, secretário estadual de Infraestrutura

O governo atual já pensou em desmontar a ponte?

No governo não se pensa em derrubar a ponte Hercílio Luz. Sim, o pessoal levanta essa possibilidade. Eu e o governador fomos ao EUA, estivemos com a empresa que executou o projeto em 1920. Eles têm todo o histórico desta ponte. Eles dão um valor extraordinário para essa estrutura. Muitas pessoas dizem que tem que derrubar. Claro, as pessoas querem uma solução pra ponte. São 33 anos de interdição. Mas agora nós estamos tocando uma obra tranquila. Uma empresa está trabalhando na etapa Ponte Segura. Estamos terminando a primeira fase. E para a recuperação total da ponte, nós estamos em negociação com a American Bridge.

E como estão as negociações com a American Bridge?

Ela ainda não apresentou para o Estado o estudo final do projeto que nós temos. Nós estamos aguardando.

Mais de meio bilhão foi gasto na Hercílio Luz. Diante deste valor não é de se pensar em outras alternativas para a estrutura, que continua deteriorada após aplicação deste dinheiro?

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Eu sei, mas é difícil para nós pensarmos em outras alternativas quando nós estamos executando obras ali. Estamos justamente trabalhando na estrutura para segurar a ponte. A intenção do governador é colocar essa ponte em funcionamento. Eu não participei de nenhuma conversa pensando em algo diferente. Por enquanto não tem plano B. Outra coisa: o custo para tirar essa ponte também seria muito alto.

Como o governo esta articulando esta questão?

Mais importante é aguardarmos os resultados da negociação. Teria que ter um laudo muito forte de que não valeria a pena sua manutenção, pois ela é um patrimônio histórico. O que eu posso te dizer é que se fosse algo fácil ela não estaria interditada por três décadas. Posso dizer também que há uma vontade enorme do governo em concluir essa obra, com valores razoáveis.

A Empa irá concluir a obra no prazo?

A Empa está tocando muito bem a obra, seguindo o cronograma de 180 dias. Enquanto isso estamos aguardando também um posicionamento da americana.

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* Colaborou Ânderson Silva