O trabalho atrás dos tapumes que separam o patrimônio da vida que gira em torno do Mercado Público é minucioso. Sem o movimento constante de pessoas em busca de sapatos, roupas, embalagens, linhas de costura, entre outros itens, desde novembro, a reforma do prédio da Ala Norte entra na reta final. O Diário Catarinense teve acesso exclusivo ao espaço e mostra em primeira mão como está o andamento das obras.
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A um mês da entrega do prédio, as belezas de cada detalhe do patrimônio já estão mais evidentes. As mudanças do espaço como um todo só podem ser percebidas com um olhar aprofundado.
Com madeira angelim, bem mais espessa que a das antigas, as 63 novas portas externas do prédio serão como as originais, fechando até em cima, detalhe arquitetônico percebido por poucos que costumam passar por ali. As cimalhas, desenhos feitos nas paredes entre as portas, são outros elementos recuperados manualmente. Com uma forma de metal, elas ganham o formato, antes desgastado pelo tempo. Além disso, pequenas rachaduras estão sendo remendadas.
Dentro da Ala, o branco gelo se destaca nas paredes, dando uma nova cara ao corredor. Para evitar que a tinta caia no piso original de pedra basalto, todo ele foi coberto. A cobertura será retirada apenas com o fim dos trabalhos na ala, quando a pedra também será recuperada e polida. Quanto aos boxes, todos receberão piso comum. A parte elétrica e hidráulica – dos que precisam – foi padronizada. Para não prejudicar a estrutura, o encanamento para o ar condicionado teve que ficar visível. No telhado, as telhas laterais já foram trocadas por peças da época, aprovadas depois de testes na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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– O mais difícil dessa obra foi definir os materiais e os procedimentos técnicos. Além disso, quando entramos vimos que a situação da ala era muito pior do que imaginávamos. Fazer uma visita com pessoas dentro é muito diferente do que ver a ala vazia – lembra o administrador geral da JK Engenharia, empresa responsável pela recuperação do patrimônio, Walter Corrêa.
Além das telhas, a definição das portas, da cor da tinta e até mesmo do reboco passaram por testes. O material retirado de uma das paredes para análise constatou a presença de areia, casca de berbigão, sal e argila. O desafio para o vice-prefeito e secretário municipal de Obras, João Amin, foi encontrar materiais que pudessem substituir e preservar as características originais do prédio.
Desocupação da Ala Sul acontece em abril
A Ala Sul passará pelo mesmo procedimento que a Ala Norte. Apesar da Secretaria Municipal de Administração ter divulgado o dia 25 de abril como data limite para a saída dos comerciantes, eles afirmam que ainda não receberam documento de notificação oficial. Amin explica que pouco antes da inauguração da Ala Norte e depois da semana Santa eles receberão o aviso de desocupação. A Ala Sul será completamente fechada para a reforma. Os que permanecerão no Mercado Público após a reabertura serão realocados para uma estrutura alternativa no Terminal Cidade de Florianópolis, organizada pelo Instituto de Geração de Oportunidades de Florianópolis (Igeof).
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Os comerciantes estão esperançosos quanto às mudanças, mas temem a prorrogação de prazos. Na tarde de ontem, a Secretaria Municipal de Obras fez uma reunião com os novos concessionários da Ala Norte. A data de inauguração não foi divulgada, o que deixou os comerciantes apreensivos.
O secretário, porém, afirma que, conforme o informado pela JK Engenharia, está tudo dentro do planejado e o prazo de entrega, para o final deste mês, está mantido. Amin ainda diz que o cronograma de obras da Ala Sul será divulgado apenas após a desocupação da Norte.
Diferente da Ala Norte, a Ala Sul é original desde sua construção, em 1928, e necessita de muitas adequações devido a alterações posteriores, principalmente da laje do prédio. A Ala Norte foi destruída durante um incêndio em 2005 e teve que ser parcialmente reconstruída. Apenas as paredes externas permaneceram intactas.
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A visão dos comerciantes
Comerciante há 40 anos da Ala Sul, Aldonei Brito mudará sua loja em breve para a Ala Norte. Ele venceu a licitação e aguarda o fim das obras. Já visitou a ala inúmeras vezes e diz que não vê as coisas andarem como deveriam. Por isso, é um dos que temem a prorrogação da data de inauguração. Mas está confiante de que depois de pronto, o Mercado Público de Florianópolis será um espaço totalmente diferenciado.
– A expectativa é muito boa. Será um novo mix, vai dar uma melhorada boa – comenta.
O proprietário de uma das peixarias da Ala Sul, Marcelo Jacques, quer que as mudanças saiam do papel e que o Mercado fique bonito como se espera. Por esse motivo, ele conta que ele e os outros concessionários, que permanecerão no prédio após a reforma, aceitaram prontamente a saída e aguardam o prazo a ser estipulado. No entanto, eles têm receio quanto ao local alternativo escolhido para que as vendas tenham continuidade.
– Mas sabemos que a povo vai onde tem peixe e que a qualidade do nosso faz a diferença. Queremos que não se prolongue muito a obra, pois se isso acontecer pode pegar a temporada e, até mesmo, a Semana Santa do ano que vem. Em 2015, o Carnaval vai ser no começo de fevereiro – lembra.
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