Enquanto os últimos retoques eram feitos na preparação do 21º Açor em Santo de Lisboa, em Florianópolis, a maricultora Gioconda Rosito, 67 anos, fechava o rancho improvisado com uma certeza: não vai vender ostras para os milhares de visitantes que são esperados para a Festa da Cultura Açoriana até domingo.

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A toxina diarreica (DSP), que pode causar intoxicação alimentar para quem consome ostras e mexilhões, foi encontrada em grande quantidade em quatro pontos do Litoral de Santa Catarina. A presença da substância produzida pela profilferação de microalgas Dinophysis atingiu mais de 500 maricultores do Estado, que estão impedidos de vender o produto por determinação da Secretaria de Agricultura e Pesca.

Produtores conformados

– É triste, pois dizem que vêm 30 mil pessoas para a festa. Mas não tem o que fazer. Hoje (sexta-feira) vieram comprar e nós não vendemos. Não dá para arriscar. Se contamina alguém é pior para os maricultores – diz a produtora, que trabalha na área desde 1997.

O maricultor vizinho, José Alberto de Queiroz, aproveitou para adiantar o serviço.

– É uma loucura isto. Vou aproveitar e limpar as lanternas e as ostras para quando houver a liberação eu já estou pronto para voltar a ativa – disse.

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De acordo com a Secretaria de Estado da Aquicultura e Pesca, a interdição preventiva foi uma medida para preservar a saúde pública, já que existe a possibilidade de a contaminação dos moluscos bivalves estar ocorrendo de forma generalizada.

Não prejudica o cultivo

A expectativa é de que as toxinas desapareçam em poucos dias, não gerando prejuízos financeiros para os maricultores. É que a produção permanecerá na área de cultivo e os moluscos bivalves são capazes de eliminar as toxinas. A Secretaria de Agricultura e Pesca informa que os produtos com Serviço de Inspeção Federal (SIF) que tiverem a data de retirada do cultivo anterior a 21 de agosto, estão aptos para o consumo.

No Litoral Norte

Exames feitos pelo Laboratório Laqua-Itajaí/IFSC detectaram a presença da toxina diarreica (DSP) em cultivos de Ganchos de Fora, em Governador Celso Ramos. A toxina apareceu na praias de Paulas, em São Francisco do Sul, e Ponta do Papagaio, em Palhoça, e no município de Porto Belo.

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Novas coletas de ostras e mexilhões estão sendo feitas para o monitoramento das áreas de produção em SC. Se os resultados mostrarem que não há contaminação, a localidade é imediatamente liberada. Para os casos em que existe a comprovação da presença da toxina, a desinterdição requer dois exames com resultado negativo.

Casos desde 1990

Há registro de intoxicação de pessoas por esse motivo desde 1990 em Santa Catarina, segundo pesquisadores do Laboratório de Estudos sobre Algas Nocivas e Ficotoxinas do IFSC. Os registros mais extremos aconteceram nos anos de 2007 e 2008.

Entenda o que houve

– As algas do tipo Dynophysis são comuns no litoral catarinense e normalmente não afetam a vida marinha.

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– Nos últimos dias, alguns fatores contribuíram para que elas se proliferassem e se reproduzissem com uma velocidade maior do que o normal.

– São eles: salinidade da água, pouca movimentação das águas em SC e a grande intensidade solar.

– Passadas essas condições, essas algas se dissipam sozinhas

Por que elas fazem mal?

– A Dynophysis é uma microalga que produz toxinas.

– Como as microalgas são a principal fonte de alimentos de organismos marinhos, às vezes essas toxinas ficam acumuladas em animais filtradores: por exemplo, os moluscos mexilhões, ostras e mariscos.

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– Se comemos moluscos contaminados, podemos ter diarreia, náuseas, vômitos e dores abdominais.

– Os sintomas aparecem entre 30 minutos e poucas horas depois da ingestão e a recuperação total do paciente acontece entre dois e três dias.