A interdição da retirada e comercialização de moluscos do litoral catarinense deve ser decidida no sábado. Nesta sexta-feira, foram coletados animais e água próximos dos locais de criação de Florianópolis e o resultado final da análise, que deve ser divulgado no dia 22, será decisivo para a manutenção ou não do embargo. De qualquer maneira, continuarão interditadas as localidades da Ponta do Papagaio, em Palhoça, Paulas, em São Francisco do Sul e Porto Belo, que precisarão de dois exames negativos para liberação.

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::: Áreas de cultivo de ostras e mexilhões são interditadas preventivamente

Na manhã desta sexta-feira, em encontro do Comitê Estadual de Controle Higiênico e Sanitário de Moluscos Bivalves, ficou definido que as organizações públicas e privadas ligadas a maricultura vão trabalhar com ações preventivas para a saúde pública e para o setor.

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De acordo com Roni Barbosa, diretor de Qualidade e Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura, os animais vão permanecer nos locais de cultivo e, passado a fase de grande proliferação das algas que os contaminaram, eles vão se filtrar sozinhos, voltando a ser adequados para o consumo. Para ele, o impacto de alguns dias sem retirada e comercialização de ostras e mariscos é menor do que a repercussão negativa de venda de produtos contaminados.

– Essa medida vem proteger também os produtores. Se houver intoxicação alimentar, o prejuízo para o setor é muito maior do que se eles continuassem comercializando com a possibilidade de intoxicação. Santa Catarina é o maior produtor de moluscos do Brasil. Se houver contaminação de pessoas em outros lugares como São Paulo, por exemplo, o setor da maricultura sofrerá por muito tempo as consequências disso – enfatiza Barbosa.

A Cidasc realiza o monitoramento do litoral catarinense há vários anos. A cada 15 dias, são coletadas amostras de água e de moluscos para identificar se há contaminação tóxica que possa prejudicar as pessoas.

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– Como teve alerta do aumento dessas algas, se fez necessária interdição – explica o diretor.

As coletas realizadas nesta sexta-feira em Florianópolis foram no Ribeirão da Ilha, Caieira, na Freguesia e em Santo Antônio de Lisboa e serão analisadas no Laboratório Laqua-Itajaí/IFSC.

Por que as algas prejudicaram os moluscos?

As algas do tipo Dynophysis são comuns no litoral catarinense e normalmente não afetam a vida marinha. Nos últimos dias, alguns fatores contribuíram para que elas se proliferassem e se reproduzissem com uma velocidade maior do que o normal. Esses fatores envolvem a salinidade da água, a pouca movimentação das águas em SC e a grande intensidade solar. Passadas essas condições, essas algas se dissipam sozinhas, não precisam ser retiradas do oceano.

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Entenda como essa contaminação afeta os consumidores

A Dynophysis é um gênero de microalgas que produz toxinas. Como as microalgas são a principal fonte de alimentos de organismos marinhos, às vezes essas toxinas ficam acumuladas em animais filtradores (como é o caso dos moluscos bivalves: mexilhões, ostras, mariscos).

Quando comemos os moluscos contaminados com as microalgas Dynophysis podemos ter diarreia, náuseas, vômitos e dores abdominais. É o que os pesquisadores chamam de síndrome do “envenenamento diarreico por consumo de mariscos” ou DSP (Diarrhetic Shellfish Poisoning). Os sintomas aparecem entre 30 minutos e poucas horas depois da ingestão e a recuperação total do paciente acontece entre dois e três dias.

– As pessoas devem ter o bom senso e precaução de evitar consumir esses produtos nesse fim de semana por não termos a certeza de estarem contaminados ou não, como precaução. É preciso também ter o entendimento de que essa medida tem objetivo de preservar a saúde pública e manter o setor produtor em condições plenas de segurança – reforça Roni Barbosa.

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Santa Catarina tem casos de intoxicação registrados desde 1990

Há registro de intoxicação de pessoas por esse motivo desde 1990 em Santa Catarina, segundo pesquisadores do Laboratório de Estudos sobre Algas Nocivas e Ficotoxinas do IFSC. Os registros mais extremos aconteceram nos anos de 2007 e 2008 e as pesquisas apontam que a DSP é endêmica na região.