Com um cartaz enrolado nas mãos, Marlene Carvalho, 61 anos, passou a tarde desta terça-feira parada em frente ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), em Florianópolis. Ela quer justiça. Há quase 60 dias, perdeu a filha, Priscyla Borges Barcellos, 37 anos, que segundo o inquérito policial foi assassinada pelo companheiro horas antes de ter sido feita refém do próprio algoz, no bairro Campeche.
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Marlene mora no interior de São Paulo, na cidade de Itapetininga, e está em Florianópolis com receio de que o acusado responda ao processo em liberdade. Uma manifestação entre amigos e familiares deve ocorrer nesta quarta-feira.
Pela primeira vez, a mulher fala publicamente sobre o crime que a fez perder mais de 10 quilos e inúmeras horas de sono. A neta de 16 anos, que a acompanha, é filha do casal. A adolescente, que está aos cuidados da avó desde a perda da mãe e a prisão do pai, tenta superar o trauma com terapias.
— Ele saiu para trabalhar umas 6h, voltou perto das 10h. Ninguém viu ele chegar. Deixou o carro mais afastado e entrou na casa. Ela estava fazendo o almoço. Ele pegou a faca sobre a pia e cortou o pescoço dela. Todo o sangue do corpo da minha filha ficou naquele quarto — conta a mulher.
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Devido à greve do transporte coletivo, amigos da vítima não compareceram em frente ao TJ nesta terça para acompanhar Marlene.
Habeas Corpus
O acusado foi preso em flagrante após ser acusado da autoria do crime. Desde do último dia 25, ele aguarda um pedido de habeas corpus feito pelo seu advogado e que está na Procuradoria Geral de Justiça.
A liberação ainda depende da análise e voto da desembargadora Marli Mosimann Vargas, presidente da 1ª Câmara Criminal do TJSC, o que deve ocorrer nos próximos dias.
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Segundo o advogado da família da vítima, Wellington Vieira Martins Junior, a defesa já teria pedido o habeas corpus, para que seu cliente responda em liberdade. O advogado explica que o procedimento é legal e depende de decisão judicial. Por envolver crime contra a mulher, o processo segue em segredo de Justiça.
A promotora de Justiça, Helen Crystine Corrêa Sanches, do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Ministério Público de Santa Catarina também analisa o caso e aguarda o laudo pericial do local do crime para formalizar a denúncia que será encaminhada ao Tribunal de Justiça.
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O crime
Era perto do 12h, quando policiais militares foram notificados da ocorrência no Campeche, na Servidão Vitor das Chagas, quando, após uma discussão, o homem fez a mulher de refém.
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As viaturas da PM e o Bope foram para o local e durante quase duas horas a mulher ficou sob a guarda do marido. Os policiais tentaram fazer com que o rapaz deixasse a casa e libertasse a esposa.
A negociação durou cerca de meia hora. Os policiais relataram que havia um cheiro de álcool no local e havia o medo de que o suspeito colocasse fogo na residência. O Bope chegou a jogar uma bomba de efeito moral dentro da casa, mas quando invadiu a residência, Priscyla já estava morta. Era por volta de 14h quando Luciano matou a mulher com uma facada no pescoço.
— Ela amava ele demais, era casada há 20 anos com ele e nunca falou de qualquer tipo de agressão por parte dele. Nem falaria, acredito. Ela “endeusava” ele. Mas nos últimos tempos percebiamos que algo mudou, seus olhos não brilhavam mais quando falava dele—lembra Marlene, mãe de Priscyla.
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O delegado Attilio Guaspari Filho, responsável pelo inquérito policial, indiciou o acusado por feminicídio, que é homicídio qualificado contra a mulher. Segundo o delegado, o acusado também tem passagem na polícia por estelionato, cometidos em São Paulo. Uma ação ainda deve ser finalizada pelo MPSC e só então vai a julgamento no TJSC.